Nos reunimos do dia 24 ao dia 29 de março de 2009, terça-feira à domingo. O ponto de encontro foi o Monastério de Arkadi, já na região de Réthymno, de onde partimos no final da tarde de terça para o refúgio do Clube de Montanhismo de Réthymno no Psiloritis.
Psiloritis é o nome da formação montanhosa na região central de Creta e cobre parcialmente as regiões de Heráklio e Réthymno. É no Psoliritis que está o ponto mais alto de Creta, o Tímios Tavros com 2456 m de altura, apenas 3 metros mais alto que o Monte Pachnes na Lefká Óri na região de Chaniá e motivo de brigas eternas entre as duas regiões. Há quem diga que os montanhistas de Chaniá colocam pedras no cume do Pachnes para que ele um dia e torne mais alto...
O refúgio que ficamos no Psiloritis é o que tem a melhor infraestrutura entre os três que visitei. é todo construído de pedra, bem espaçoso e por estas duas características é também bastante frio e úmido. Conta com um gerador a gasolina e com calefação, além de uma lareira. A cozinha é ampla e bem equipada. O banheiro também é espaçoso mas está em condições que deixam a desejar. Como nos outros a entrada tem um hall para tirar as botas que é minúscula e seria mais útil se não estivesse ali. Uma varanda ajuda a proteger um pouco a chegada. Não contei o número de lugares, mas os beliches estão divididos em dois andares e possuem colchão e cobertas.
Partimos do Monastério de Arkadi, o ponto de encontro em fila. Desta vez peguei carona desde Chaniá junto com o Vassílis e também a Kália. Todos da última etapa do curso estava presentes exceto a Vassoúla e a Elise que chegariam mais tarde. Fizemos uma parada rápida numa confeitaria e seguimos adiante. Uma estrada de terra interminável leva até o abrigo. Muito antes de começarmos o trajeto de terra, já era noite e logo uma neblina densa cobriu a montanha não permitindo ver um metro à frente. Seguimos devagar sem ter muita idéia das ribanceiras escondidas pela neblina na beira da estrada. A quarenta minutos de caminhada do refúgio a estrada estava interropida pela neve.
Fomos deitar tarde, depois de 1 h da madrugada. Isto inviabilizou o planejamento inicial de fazer a subido ao Tímios Távros, cume do Psiloritis já na quarta-feira cedo. O planejamento exato era subir o Tímios Távros na quarta, descansar na quinta com teoria, fazer alguns exercícios na neve na sexta e no final da tarde ir de novo para o refúgio Vólikas para no sábado subir um cume tecnicamente mais difícil. Aos poucos foi ficando claro que o instrutor não estava afim de seguir o plano e as mudanças já começaram na quarta-feira. O tempo também não ajudou e mesmo que ele quisesse não poderíamos subir na quarta.
Às 05h00 da manhã de quinta-feira estávamos de pé. Uma tempestade atingiu o abrigo durante a noite e tinha neve colada na janela, mas o tempo no amanhecer estava perfeito. Tomamos café da manhã preparamos o equipamento e saímos pouco antes das 08h00, seguindo a trajeto planejado com mapa e bússola. Inicialmente partimos em dois grupos por uma parte não nevada e depois nos juntamos num grupo só quando começamos a andar pela neve. A subida é bastante simples sem nenhuma exigência técnica e nenhum trecho de grande inclinação. Depois que saímos da parte de terra andamos por um platô de neve e antes de iniciarmos a subida colocamos crampons e pegamos o piolet. Logo também nos encordamos, apesar de que normalmente não seria necessário subir encordado.
Não há muito o que falar da subida, uma neblina forte cobriu boa parte da subida não permitindo ver os arredores. Perto do cume há uma depressão onde pudemos ver pequenas cornizas. Depois deste ponto sobre-se um lado um pouco mais íngreme e depois é um rampão até o cume onde a neve toma formas estranhas, em alguns momentos parecendo cristais (prismas) e outros momentos parecendo corais.
De volta ao ponto onde comentei que havia uma depressão poderíamos seguir para o cume do Agathiás apenas 20 metros mais baixo do que o Tímios Távros, mas mais próximo. Isto tinha ficado meio que combinado no dia anterior, mas o instrutor democraticamente perguntou se íamos ou não e ele mesmo respondeu que não. Não foi de todo ruim pois acho que alguns não tinham boas condições físicas para continuar subindo e também porque todo aquele plano que comentei no começo definitivamente não seria seguida e assim teríamos mais uma ascenção para fazer nos dias seguintes. Durante a descida pudemos conversar entre nós alguns descontentamentos com relação ao curso e o Dimítris chegou a ter uma discussão como Vangélis sobre a qualidade do equipamento cedido pelo clube. Dentro do possível tentei estimulá-los a não comentar nada para não criar um clima ruim para os próximos dias.
A chegada ao refúgio foi tranquila e depois de nos acomodarmos demos início à preparação de uma macarronada com atum. A Maria também ligou para alguém do clube de Réthymno dizendo que a gasolina estava acabando e pedindo para trazerem mais.
Antes de deitarmos o Alekos quis ouvir de cada um o que estavam achando do curso, o que estava faltando e etc. Eu fui o primeiro a ter o direito à voz e ao contrário do que eu recomendara aos outros, já que perguntaram, soltei os cachorros e falei (em grego) tudo o que eu tinha para dizer. Critiquei o conteúdo do curso disse que achava errado os intrutores orientarem a pormos crampon sem dizer porque nós colocávamos e eles não. E da mesma forma nós termos que usar capacete e eles não. Reclamei que o Alekos ia sempre muito a frente e que assim ele não via se fazíamos as coisas certas ou não, entre outras. Obviamente para todas as minhas críticas ele teve respostas, umas mais absurdas que as outras, como dizer que apesar de estar longe ele conseguia ver o que cada um fazia (claro, com neblina). A única que ele não refutou foi a do capacete, mas que ainda assim não foi suficiente para ele usar capacete o tempo todo na subida seguinte. Os outros ficaram calados na sua vez, mas alguns vieram me cumprimentar pelo que eu disse...
Descemos o cume pelo outro lado, passando pela depressão que separa o Agathiás do Tímios Távros e depois seguindo mesmo caminho do outro dia. Algumas partes descemos correndo na neve e foi divertido. Mas estes mesmo lugares poderiam ter sido por exemplo para praticar técnicas de glissada que não foram ensinadas durante o curso. A chegada ao refúgio foi ótima e muitos aproveitaram para tomar sol. Diga-se de passagem, esquentou bastante de terça para sábado e boa parte da neve que tinha caído de terça para quarta já tinha desaparecido. O Panaiótis e o Giorgos aproveitaram para ir buscar lenha, já que o estoque estava baixo e a lenha que eles tinham pegado no dia anterior seria insuficiente para mais uma noite.
Na estrada de volta para Chaniá vi dois ciclistas na estrada, cada um com uma bandeirinha do Brasil na bicicleta.
Não foi o que eu esperava, mas fiz algo diferente e aprendi coisas novas. O inverno acabou e praticamente não há mais neve nas montanhas. Não pretendo viajar para outros lugares para praticar, por enquanto, então ano que vem acho poderei praticar mais.
Comprei a última edição do Mountaineering: The Freedom of the Hills que contém todo o conteúdo visto no curso e mais um pouco e que deu um bom suporte para entender o curso e ver as deficiências, além da alguma experiência que tenho com escalada e montanhismo no Brasil.
Na semana seguinte fomos ao clube para devolver o equipamento e preenchemos uma avaliação escrita onde aproveitei para desqualificar o instrutor, que pode ser muito bom montanhista e parceiro mas não é um bom professor e para anotar o que foi bom e o que foi ruim no curso.
Link para o álbum desta publicação: Curso: final de semana 3 (final)
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