domingo, 24 de maio de 2009

Arrancaram a cerca

Hoje fui acordado por uma mensagem enviada pelo Kostas marcando para 11h00, no Monte Várdia, uma escalada que tínhamos pré-marcado no dia anterior.

Cheguei na hora e fiquei aquecendo na base das vias durante a meia hora que o Kostas atrasou.

A primeira coisa que notei na chegada foi que arrancaram a segunda cerca, que divide o setor de escalada em duas partes. Esta cerca ficava exatamente no ponto de início da via 25 e prejudicava a escalada tanto desta via como da via 24. Foi fácil decidir que vias escalaríamos hoje.

A via 25, chamada Aretí (virtude), é um VI sup bem interessante que por causa da cerca não podia ser escalada com segurança. Qualquer queda antes de costurar a segunda chapeleta poderia ser mortal.

A primeira chapeleta é consideravelmente alta e para alcançá-la é necessário passar o crux da via. Uma fendinha mixuruca ficava a meia distância entre o chão e a primeira chapeleta. Coloquei um nut na parte mais baixa da fenda do jeito que consegui e subi em artificial nele para tentar uma colocação melhor um pouco mais alta. Não consegui muito melhor, mas foi o que eu precisava para encarar a via.

O começo é negativo com poucas agarras para os pés, e as agarras para as mãos são poucos buracos para três dedos, rasos e que machucam bastante os dedos. Iniciei a escalada e parei para descansar no nut logo que o alcancei. Em seguida fui até a primeira chapeleta onde parei para descansar de novo. O lance nem era tão difícil, mas o nervosismo suga as energias de maneira assustadora. Tentei continuar, mas estava com os braços tijolados e resolvi descer para dar uma descansada. Sugeri que o Kostas continuasse, mas ele amarelou.

Depois de um breve descanso e um pouco de água, continuei. Passar da primeira chapeleta é muita legal. Os pés sobem devagar para ganhar altura enquanto as mãos seguram em duas agarras razoáveis até que se possa alcançar agarras um pouco mais altas e então fazer o lance que leva para a segunda chapeleta onde um buraco e boas agarras para os pés oferecem todas a segurança necessária. Dali em diante é um passeio.

No topo armei um top-rope para o Kostas e tive que baixar a ponta para ele me enviar equipamento, já que a ancoragem era suspeita. Ele novamente amarelou para Aretí e quis escalar a via do lado, Armonia Vsup (harmonia) que só pode ser escalada de top-rope. A via parece legal e tranquila mas também tem o crux no começo e o Kostas deu escapadinha para a via à direita, a Koukouvaya, também Vsup que é uma chaminezinha que pode ser escalada com equipamento móvel. Ele consegui passar o início e voltou para a Armonia.

A colocação do nut, as paradas para descanso e a enrolação para armar o top-rope fizeram o tempo ser consumido rapidamente e logo chegou a hora de o Kostas ir para o trabalho. Enquanto ele arrumava as coisas dele, prussiquei a corda até o nut para desentalá-lo.

Se não recolocarem a cerca pretendemos encarar estas três vias novamente na próxima oportunidade.

Link para o álbum desta publicação: Arrancaram a cerca

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Garganta de Ágia Triáda

No domingo, 17 de maio de 2009, levei o Murilo para conhecer a Garganta de Ágia Triáda (Santa Trindade) no Akrotiri. O Akrotiri é a penísula que se forma à leste da cidade de Chaniá, onde estão entre outras coisas o Aeroporto e o campus da universidade de Creta. O Akrotiri forma à leste, junto com a ilha de Creta propriamente dita, a baiá de Soúda, onde está o porto que serve a região de Chaniá.

O Akrotiri é de uma maneira geral mais elevado do que a cidade e na parte norte possui elevações significativas. Para ter uma idéia, nevou no Akrotiri no penúltimo inverno e a neve ficou acumulada por alguns dias nas partes mais altas. Estas características tornam o local interessante para algumas atividades, como escalada na praia de Stavrós e potencialmente em outros pontos não explorados, e algumas caminhadas.

A caminhada na garganta de Ágia Triáda é relativamente simples. A grande atração turística nem é a garganta, mas os três monastérios no seu caminho. O primeiro Monastério, homônimo, fica fora da garganta. O segundo, chamado Gouverneto, é o ponto de partida e fica no ponto mais alto da caminhada.

O terceiro, chamado Katholikó é o único dos três que não está em uso e portanto está em ruínas. Até o Moni Katholikó a caminhada é calçada com pedras e há duas grutas que podem ser acessadas facilmente (a parte inicial pelo menos). Obviamente ambas sofreram as ações desmedidas da igreja em suas entradas e são assumidos lugares sagrados. O Moni Katholikó está dentro da garganta e uma ponte liga os dois lados. Este monastério foi abandonado há muitos anos devido aos diversos ataques piratas de que foi alvo.É nele que a caminhada pela garganta começa, abaixo da ponte. Já tinha estado três vezes no local, mas nunca passado deste ponto.

A caminhada toda, desde o Moni Gouverneto até o costão, não leva mais do que 45 minutos e aproximadamente o mesmo tempo é necessário para a volta apesar da subida (íngreme próximo ao Moni Katholikó). O tempo estava nublado durante a descida e foi muito agradável. O local é bastante bonito e tranquilo e havia poucos visitantes no local.

No início da caminhada há uma placa com o regulamento do local, dizendo que é sagrado, e proibindo andar sem camiseta, tirar fotos, tomar banho no mar e etc. Uma lista de absurdos típicos de uma igreja. Tirei fotos sem remorso (como todas as outras três vezes que estive lá) e não tomei banho de mar porque o tempo não estava para tal, nem eu.

O pouco tempo necessário para a caminhada é um convite para quem quer só dar uma espairecida. Os monastérios são atrações adicionais para quem quer ver um pouco de história (e presente), bem como as duas grutas que pode ser percorridas por alguns metros se levarmos lanternas.

Link para o álbum desta publicação: A Garganta de Ágia Triáda

Um (outro) brasileiro no Monte Várdia

Sábado passado tivemos a companhia do Murilo Méllio, um brasileiro do interior de São Paulo que se formou em Jornalismo na UFSC e resolveu dar um tempo trabalhando na Europa. Depois de passagem pela Inglaterra, Espanha e Itália, ele aterrisou na Grécia para viver um pouco suas raízes. O local escolhido foi Creta onde ele vai passar o verão trabalhando tirando proveito do passaporte Grego que possui. O Murilo entrou em contato conosco pelo CouchSurfing e dormiu uma ou duas noites lá em casa antes de arrumar onde ficar.

No período da tarde fomos para a praia juntos também com a Anamaria e a Natasa. Depois da praia fui escalar com o Murilo no Monte Várdia, ele pela primeira vez. Ensinei a ele a fazer segurança, fiz um pequeno treino no chão e escolhi a via mais fácil (para mim e para ele), a já conhecida Zéstama. Na altura da primeira chapeleta me soltei de surpresa para ver se ele segurava e segurou. Continuei a escalada tranquilo e armei o top-rope.

Antes de o Murilo começar, dei algumas instruções e ele fez a via sem dificuldades. Depois o convenci a tentar a via do lado Mi-nous, também em top-rope. Ele tentou um pouco e ficou satisfeito. Subi de top-rope na mesma via para recuperar a corda.

Ele gostou bastante de escalar e se saiu muito bem para a primeira escalada dele. Elogiou minha abordagem que o fez sentir-se bastante seguro, comparado à uma ocasião em que fez rapel com o corpo de bombeiros. Muito legal, afinal a idéia é sempre que a primeira escalada seja uma atividade atraente ao invés de traumática. Mais um ponto positivo para a escalada!

Link para o álbum desta publicação: Um (outro) brasileiro no Monte Várdia

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sozinho em Atenas

Precisava assinar um documento no consulado do Brasil em Atenas. Planejamos uma viagem saindo de navio de Chaniá, para aproveitar todo o final de semana nos arredores de Atenas. Mas acabamos cancelando o passeio e fui sozinho.

Saí de Chaniá na quinta-feira às 21h00. A viagem é terrível, sem lugar apropriado para dormir e com luzes e televisões ligadas à noite toda. Dormi menos de três horas e durante o resto do tempo me distraí com a leitura do livro a Escalada na versão em inglês do Anatoli Boukreev e com o Eurovision. Cheguei em Atenas 4h30, ainda de noite, e fui de metrô para o centro tendo como destino final o Museu Arqueológico Nacional. Tanto o porto como o centro de Atenas na madrugada ficam ocupados por mendigos que usam marquises e bancos de rua como abrigo. A sensação de sujeira predomina quando o comércio está fechado e carros e pessoas não estão nas ruas.

Por volta de 6h00 cheguei ao museu que só abriria em duas horas, onde comi meu lanche e li mais um pouco enquanto esperava. Minha visita durou 1h30 e saí para tentar chegar ao consulado no horário de abertura, 10h00.

Sem mais nada específico para fazer em Atenas meu plano era tentar conhecer algum setor de escalada na cidade. Levei meu equipamento básico individual. Como o Vangélis não me enviou os telefones de pessoas que ele tinha prometido, resolvi contar com a sorte mesmo e ver se encontrava alguém em algum dos setores. A primeira etapa então, era comprar o guia de escaladas de Atenas.

A caminho do consulado eu passei pela maior livraria de Atenas e que, já tinha consultado na internet, tinha o livro. Não tinha, mas a vendedora disse que a livraria da editora era na mema rua, um pouco mais acima. Como não queria voltar fui primeiro para o consulado. Assinei o papel e fui para uma agência de correio para enviar para o documento para o Brasil. No caminho passei por uma tipografia para falar com o dono. Super simpático conversou comigo por bastante tempo e me deu de presente tipos tipográficos gregos (letras gregas em chumbo para impressão tipográfica). Há tempo procurávamos isto por aqui para presentear o pai da Ana que é tipógrafo. O problema era o peso do pacote (até então não sabia quanto era, mas chegando em casa pesei e era quase 18 kg, fora o que eu já estava carregando). O dono da empresa perguntou se eu conseguiria carregar. Fiz um teste, botei na mochila e falei "endáksi" (ok). Ele sorriu e fui embora. Não precisei dar 10 passos para ver a enrascada que eu tinha me metido e não era nem 11h30.

Depois do correio voltei para comprar o guia de escalada, na livaria da editora. A loja é muito legal, apenas com livros de viagem, guias e mapas. A editora é a mesma que publicou o guia de escaladas de Chaniá. O guia de escaladas de Atenas é nos mesmos moldes, mas achei o conteúdo um pouco melhor. O ponto negativo é não ter uma mapa geral de Atenas indicando aproximadamente onde são os setores. Ou seja, se não conhece Atenas não sabe em que região da cidade o setor de escalada está.

Saí da livraria já detonado e parei num boteco para comer o almoço: dois Gyros e uma Fanta. Comi vagarosamente folheando guia para decidir em qual(is) setores eu iria. Aproveitei também para pegar o travesseirinho que eu tinha na mochila e colocar nas costas para proteger um pouco do impacto dos tipos nas costas.

Decidi por Likavitós, um morro na região central de Atenas onde poderia ir a pé do local onde estava e Filopapou nos arredores do Acrópole. Qualquer outro setor ficaria inviável pois teria que pegar ônibus e caminhar bastante o que já estava se mostrando impraticável com tanto peso nas costas.

Likavitós é, acho eu, a maior elevação no centro da cidade e tem um ótima vista para a cidade, especialmente para o Acrópole no entardecer. Um teatro ao ar livre é palco de diversos espetáculos de alto nível durante o verão. A distância de onde eu estava até Likavitós não era muito grade. Infelizmente eu não lembrava que o morro era tão íngreme. E com tanto peso nas costas e o calor que fazia em Atenas foi um sufoco. Cheguei facilmente ao setor de escaladas. Uma pequena pedreira desativada abriga acima dela três pequenas paredes de escalada (ver croquis e fotos). Muito empenho acessar as vias por uma escalaminhada com o auxílio de um cabo de aço, então fiquei embaixo das vias descansando um pouco, fiz fotos e levei um susto com o barulho que um cágado estava fazendo no mato. No mesmo morro, perto do teatro há um pequeno setor de boulder. Fui dar uma conferida e foi o único local onde escalei um pouco. Minha água já estava acabando e resolvi voltar para a civilização.

Para ir para o Acrópole tive que andar metade do caminho até a estação de metrô de Sintagma e investir os melhores 50 centavos de euro da minha vida para percorrer apenas uma estação até o Acrópole. Desci na estação e segui o mapa do guia para ir até o setor de escalada. Sempre subida para variar. Quando cheguei num determinado ponto o mapa não era muito claro e perguntei para um motorista de ônibus onde era um certo ponto de referência. Ele me indicou o lugar e meio que duvidando segui as instruções. O filho da puta me mandou para o lugar errado e só pode ter sido de propósito. Desci de novo (sim, era subida) e tomei o outro caminho.

O setor de Filopapou fica numa área verde de pinheiros muito agradável. São dois setores de boulder e um de vias e boulder. Primeiro fui nos dois setores de boulder, um deles acredita-se ter sido a prisão de Platão. Ambos são de pedra esculpida e possuem grades. São bem pertos do caminho principal e possuem bancos para as pessoas sentarem.

Na sequência fui atrás do setor com as vias. Dei uma volta gigante para chegar até o setor. Divido em três setores menores, há vias e boulder. As vias são baixas, mas o tipo de pedra é muito legal (ver fotos). Deu muita vontade de escalar, mas não tinha parceria e eu estava detonado. Os dois lugares que visitei eram voltados para o sol e talvez por isso ninguém estava escalando. Talvez no centro de Atenas também haja setores mais interessantes e à sombra, como o de Kourvouniá que fotografei do Likavitós.

A água estava acabando mais uma vez e desci para a área do Acrópole onde sentei por mais de uma hora numa lanchonete para consumir água, suco de laranja e sorvete. Estava exausto e apesar de não ter passado ainda das 18h00 decidi voltar para o porto para pegar o barco. Às 19h00 já estava acomodado num dos "lounges". Tomei um banho de gato no banheiro do barco e comi minha janta que comprei numa lanchonete antes de ir para o barco. Fiquei assistindo House, lendo e também vi o ótimo filme Sinais (bléérgh).

Cheguei em Chaniá na madrugada e liguei para a Anamaria me buscar. Fiquei detonado e com um hematoma na área do quadril por causa das pancadinhas da mochila. Na próxima viagem para o continente, levarei o equipo todo e junto com a Anamaria pretendo escalar de verdade as vias de Atenas. Certamente visitarei Filopapou e possivelmente Kourvouniá. E quem sabe, algum outro setor nos arredores da cidade.

Link para o álbum desta publicação: Sozinho em Atenas (as fotos mostram a localização dos setores no mapa)

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Garganta da Samariá

A ilha de Creta na Grécia oferece dezenas de gargantas (ravinas, canyons, desfiladeiros...) espalhadas por todo o seu território. O nível de dificuldade varia desde caminhadas de poucas horas até rotas técnicas perfeitas para os praticantes de canyoning. A mais famosa e mais visitada de todas elas é a Garganta da Samariá.

Rica em diversidade biológica, a Garganta da Samariá, possui várias espécies de animais e vegetais que não são encontrados em nenhum outro lugar. Achados arqueológicos indicam que a área foi habitada desde a pré-história e como diversas outras gargantas de Creta, serviu de abrigo para os cretenses resistirem aos diferentes invasores ao longo de sua história.

A Garganta da Samariá está situada na região sudoeste de Creta, no distrito de Chaniá. Os primeiros a frequentá-la para lazer foram os membros do Clube de Montanhismo de Chaniá, por sinal pioneiros em praticamente todos os roteiros turísticos junto à natureza da região. O Clube teve a Garganta sob seus cuidados até 1962, quando foi transformada em Parque Nacional.

O ponto de partida está situado a cerca de 1250 m de altitude, pouco acima do Platô de Omalos nas Montanhas Brancas (Lefká Óri - formação montanhosa da região). Destaca-se ao seu lado o gigante Gigilos, uma montanha de pedra com 2080 metros de altitude e uma dezena de rotas de escalada tradicional. A garganta possui 13 km de extensão na área do parque e mais 2 ou 3 km levam até a praia Ágia Rouméli.

Fomos para a rodoviária de Chaniá o Pawan e a Alina, indiano e romena que hospedamos pelo CouchSurfing, a Anamaria e eu. Partimos em um dos dois ônibus quase lotados às 8h30 que em pouco mais de uma hora nos levou à entrada da Samariá. Só nestes dois ônibus eram mais de 100 visitantes, fora ônibus de turismo que chegaram antes e depois. Este foi o segundo final de semana desde que o parque abriu para a temporada e certamente ultrapassou os 300 visitantes.

Após a chegada esperamos a massa desaparecer e fomos para a entrada do parque onde pagamos o ingresso. Nenhum tipo de informação é passada ao visitante e uma placa exibe o regulamento em um lugar onde ninguém passa. No verso do ingresso um pequeno mapa mostra as distâncias até cada área de descanso ou fonte de água na área do Parque e a distância total percorrida de 12,9 km (dentro do Parque).

No início a caminhada é em rampas ou escadarias que descem rapidamente em zig-zag em meio aos ciprestes. O solo é de um pó fino coberto por cascalhos que parecem ser jogados proposital e periodicamente, visto que em vários trechos havia sacos de cascalhos ainda fechados. Um mirante permite, após poucos minutos de caminhada, uma visão parcial da garganta de onde temos uma noção das dimensões do trajeto a ser percorrido.

As condições da infra-estrutura do parque surpreenderam comparado a outros lugares que já visitei por aqui. Todas os guarda-corpos de madeira e placas ao longo do trajeto estavam em boas condições. São pelo menos 10 postos de descanso afastados cerca de 0,7 a 3 km entre si, oferecendo água, banheiros, equipamento de combate ao fogo ou a combinação de qualquer um destes. Em pontos esporádicos há caixas metálicas vermelhas com um extintor de incêndio. Não visitei os banheiros, mas as lixeiras, mesas bancos e placas estavam sempre em ótimas condições. Em dois postos vimos bombeiros, mas em momento algum vimos alguém disponível para dar qualquer assistência ao visitante.

Continuando a descida, alguns trechos apresentam placas orientando o visitante a andar rápido devido ao risco de queda de pedras e um pequeno trecho é protegido com um estrutura de madeira e telas de arame. Em certo momento, com cerca de 3 km de caminhada, deixamos as encostas para começar a andar predominantemente pelo centro da garganta mais pedregoso e cruzando várias vezes o rio, que aparece e desaparece repetidamente.

A primeira grande área de descanso foi alcançada após 3,8 km de caminhada e paramos para fazer um lanche. Praticamente todas as mesas e bancos estavam ocupadas. Fico imaginando o inferno que não é este lugar na alta temporada. Por várias vezes caminhamos sozinhos, sem ninguém ao nosso alcance de visão para frente ou para trás. Na alta temporada deve ser impossível ficar um segundo sequer sem alguém por perto.

O lanche foi rápido e prosseguimos a caminhada com uma sensação maior de estarmos percorrendo uma garganta, já que nesta parte as laterais são mais verticais. Cerca de quatro quilômetros adicionais nos levaram ao antigo povoado da Samariá, hoje transformado em área de descanso e onde está o único posto de atendimento de primeiros socorros de todo o trajeto. Neste ponto, a garganta se abre e forma uma área grande que contém sinais antigos de atividade agrícola com o uso do terreno em degraus (não sei o nome certo para isso) para o cultivo. Uma ponte que cruza o rio para dar acesso à área de descanso dá um certo charme para o lugar.

A parte mais bonita da caminhada pela garganta começa certamente na segunda metade do passeio, logo após o vilarejo. As paredes laterais da garganta se destacam cobertas ou não pela vegetação e se fecham em várias partes. Passamos a acompanhar o rio quase que todo o tempo. No décimo quilômetro as paredes se abrem novamente numa área grande e plana onde foi instalada outra área de descanso. Deste ponto um quilômetro de caminhada leva às Portas de Ferro, provavelmente o ponto mais famoso da garganta, mas não por isso o mais bonito. As Portas de Ferro marcam a parte mais estreita da garganta com 3 ou 4 metros de largura e 300 de altura. Vale notar que a largura modesta não se mantém ao longo de toda a altura. As paredes se alargam a medida que sobem.

Cruzar o rio(zinho) várias vezes neste trajeto é inevitável e pequenas pontes feitas com troncos de madeira facilitam a passagem. Estas pontes são bastante simples e ajudam a manter a atmosfera do passeio.

Aos poucos os ares de garganta vão desaparecendo e chegamos à saída do Parque, onde entregamos o ingresso para um típico cretense nada simpático destacar a parte que lhe interessa. A saída do parque é desapontadora. Sem possibilidade de desvios, passamos por uma área com três ou quatro lanchonetes/restaurantes ainda vazios ou fechados. Em seguida uma estrada de cimento e pedra vai em direção ao vilarejo de Ágia Rouméli. Da estrada começamos a ver os primeiros sinais do vilarejo, uma área claramente destruída pela ocupação do homem, dezenas de carrinhos de lixo e entulhos que contrastam com a beleza que vivenciamos poucos quilômetros antes.

O vilarejo em si é pouco simpático e é dominado pelas pousadas, restaurantes e lojas de souvenir. Ficamos cerca de uma hora e meia na praia esperando o barco que nos levou a Chóra Sfakíon, um merecido descanso depois de 6h15 e 16 km de caminhada, onde mais uma vez tivemos que ficar esperando pelo Pawan e Alina. A caminhada é praticamente sempre em descida, as subidas são leves, curtas, imperceptíveis. O tempo mínimo de caminhada varia entre 5 e 6 h.

O retorno de barco é interessante e passa por partes bonitas da costa sul, como a praia de Mármara, onde termina a garganta de Arádena, e o povoado de Loutró. Antes mesmo de o barco atracar a multidão já se amontoou para sair em direção aos ônibus - sejam os interurbanos, sejam os turísticos -, e a abertura da saída parece uma procissão. Dependendo de ônibus interurbano (apenas dois ônibus em único horário na baixa temporada) saímos apressados para garantir nossas vagas. Ao que parece um ônibus saiu cheio e o nosso com apenas um lugar livre.

Link para o álbum desta publicação: A Garganta de Samariá

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Corda no meio das pernas

Ontem, domingo, fui rapidamente no Monte Várdia escalar com o Kostas. Ambos cansados das nossas atividades no sábado, ele fazendo rapel como prática para canyoning e eu indo para a Garganta da Samariá (assim que tiver tempo, publico algum texto e as fotos), fomos apenas para não perder o ritmo (se é que existe um). Escalamos a Look Louki (V) e a Mávri (VI). O Kostas aproveitou para me mostrar a técnica de rapel que aprendeu com a turma do canyoning e eu aproveitei para ensiná-lo a não por mais minha vida em risco.

Enquanto escalava a Louki Louki o Kostas pediu para eu esperar um pouco. Estava a cerca de 6 metros do chão com os pés bem apoiados num platozinho a altura da última chapeleta que costurara. Numa posição muito confortável, disse que tudo bem. Por acaso olhei para baixo para ver o que estava acontecendo, (in)felizmente. O Kostas estava vestindo o casaco e segurando a corda entre as pernas. Mantive a calma e prossegui a escalada assim que ele retomou a segurança. Depois que desci ensinei ao elemento a não fazer mais isso e também a fazer o nó da mula.

Fiquei sabendo também que um outro elemento que escala comprou um jogo completo de friends e outro de nuts, ambos russos, por não mais do que 120 euros (aproximadamente o mesmo preço de dois Camalots médios). O Kostas está se coçando para comprar o mesmo para ele. Perguntei se ele sabia se era certificado e de que marca era. Ele não soube dizer, mas disse que se os russos usam para escalar, porque haveria algum problema...