quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sozinho em Atenas

Precisava assinar um documento no consulado do Brasil em Atenas. Planejamos uma viagem saindo de navio de Chaniá, para aproveitar todo o final de semana nos arredores de Atenas. Mas acabamos cancelando o passeio e fui sozinho.

Saí de Chaniá na quinta-feira às 21h00. A viagem é terrível, sem lugar apropriado para dormir e com luzes e televisões ligadas à noite toda. Dormi menos de três horas e durante o resto do tempo me distraí com a leitura do livro a Escalada na versão em inglês do Anatoli Boukreev e com o Eurovision. Cheguei em Atenas 4h30, ainda de noite, e fui de metrô para o centro tendo como destino final o Museu Arqueológico Nacional. Tanto o porto como o centro de Atenas na madrugada ficam ocupados por mendigos que usam marquises e bancos de rua como abrigo. A sensação de sujeira predomina quando o comércio está fechado e carros e pessoas não estão nas ruas.

Por volta de 6h00 cheguei ao museu que só abriria em duas horas, onde comi meu lanche e li mais um pouco enquanto esperava. Minha visita durou 1h30 e saí para tentar chegar ao consulado no horário de abertura, 10h00.

Sem mais nada específico para fazer em Atenas meu plano era tentar conhecer algum setor de escalada na cidade. Levei meu equipamento básico individual. Como o Vangélis não me enviou os telefones de pessoas que ele tinha prometido, resolvi contar com a sorte mesmo e ver se encontrava alguém em algum dos setores. A primeira etapa então, era comprar o guia de escaladas de Atenas.

A caminho do consulado eu passei pela maior livraria de Atenas e que, já tinha consultado na internet, tinha o livro. Não tinha, mas a vendedora disse que a livraria da editora era na mema rua, um pouco mais acima. Como não queria voltar fui primeiro para o consulado. Assinei o papel e fui para uma agência de correio para enviar para o documento para o Brasil. No caminho passei por uma tipografia para falar com o dono. Super simpático conversou comigo por bastante tempo e me deu de presente tipos tipográficos gregos (letras gregas em chumbo para impressão tipográfica). Há tempo procurávamos isto por aqui para presentear o pai da Ana que é tipógrafo. O problema era o peso do pacote (até então não sabia quanto era, mas chegando em casa pesei e era quase 18 kg, fora o que eu já estava carregando). O dono da empresa perguntou se eu conseguiria carregar. Fiz um teste, botei na mochila e falei "endáksi" (ok). Ele sorriu e fui embora. Não precisei dar 10 passos para ver a enrascada que eu tinha me metido e não era nem 11h30.

Depois do correio voltei para comprar o guia de escalada, na livaria da editora. A loja é muito legal, apenas com livros de viagem, guias e mapas. A editora é a mesma que publicou o guia de escaladas de Chaniá. O guia de escaladas de Atenas é nos mesmos moldes, mas achei o conteúdo um pouco melhor. O ponto negativo é não ter uma mapa geral de Atenas indicando aproximadamente onde são os setores. Ou seja, se não conhece Atenas não sabe em que região da cidade o setor de escalada está.

Saí da livraria já detonado e parei num boteco para comer o almoço: dois Gyros e uma Fanta. Comi vagarosamente folheando guia para decidir em qual(is) setores eu iria. Aproveitei também para pegar o travesseirinho que eu tinha na mochila e colocar nas costas para proteger um pouco do impacto dos tipos nas costas.

Decidi por Likavitós, um morro na região central de Atenas onde poderia ir a pé do local onde estava e Filopapou nos arredores do Acrópole. Qualquer outro setor ficaria inviável pois teria que pegar ônibus e caminhar bastante o que já estava se mostrando impraticável com tanto peso nas costas.

Likavitós é, acho eu, a maior elevação no centro da cidade e tem um ótima vista para a cidade, especialmente para o Acrópole no entardecer. Um teatro ao ar livre é palco de diversos espetáculos de alto nível durante o verão. A distância de onde eu estava até Likavitós não era muito grade. Infelizmente eu não lembrava que o morro era tão íngreme. E com tanto peso nas costas e o calor que fazia em Atenas foi um sufoco. Cheguei facilmente ao setor de escaladas. Uma pequena pedreira desativada abriga acima dela três pequenas paredes de escalada (ver croquis e fotos). Muito empenho acessar as vias por uma escalaminhada com o auxílio de um cabo de aço, então fiquei embaixo das vias descansando um pouco, fiz fotos e levei um susto com o barulho que um cágado estava fazendo no mato. No mesmo morro, perto do teatro há um pequeno setor de boulder. Fui dar uma conferida e foi o único local onde escalei um pouco. Minha água já estava acabando e resolvi voltar para a civilização.

Para ir para o Acrópole tive que andar metade do caminho até a estação de metrô de Sintagma e investir os melhores 50 centavos de euro da minha vida para percorrer apenas uma estação até o Acrópole. Desci na estação e segui o mapa do guia para ir até o setor de escalada. Sempre subida para variar. Quando cheguei num determinado ponto o mapa não era muito claro e perguntei para um motorista de ônibus onde era um certo ponto de referência. Ele me indicou o lugar e meio que duvidando segui as instruções. O filho da puta me mandou para o lugar errado e só pode ter sido de propósito. Desci de novo (sim, era subida) e tomei o outro caminho.

O setor de Filopapou fica numa área verde de pinheiros muito agradável. São dois setores de boulder e um de vias e boulder. Primeiro fui nos dois setores de boulder, um deles acredita-se ter sido a prisão de Platão. Ambos são de pedra esculpida e possuem grades. São bem pertos do caminho principal e possuem bancos para as pessoas sentarem.

Na sequência fui atrás do setor com as vias. Dei uma volta gigante para chegar até o setor. Divido em três setores menores, há vias e boulder. As vias são baixas, mas o tipo de pedra é muito legal (ver fotos). Deu muita vontade de escalar, mas não tinha parceria e eu estava detonado. Os dois lugares que visitei eram voltados para o sol e talvez por isso ninguém estava escalando. Talvez no centro de Atenas também haja setores mais interessantes e à sombra, como o de Kourvouniá que fotografei do Likavitós.

A água estava acabando mais uma vez e desci para a área do Acrópole onde sentei por mais de uma hora numa lanchonete para consumir água, suco de laranja e sorvete. Estava exausto e apesar de não ter passado ainda das 18h00 decidi voltar para o porto para pegar o barco. Às 19h00 já estava acomodado num dos "lounges". Tomei um banho de gato no banheiro do barco e comi minha janta que comprei numa lanchonete antes de ir para o barco. Fiquei assistindo House, lendo e também vi o ótimo filme Sinais (bléérgh).

Cheguei em Chaniá na madrugada e liguei para a Anamaria me buscar. Fiquei detonado e com um hematoma na área do quadril por causa das pancadinhas da mochila. Na próxima viagem para o continente, levarei o equipo todo e junto com a Anamaria pretendo escalar de verdade as vias de Atenas. Certamente visitarei Filopapou e possivelmente Kourvouniá. E quem sabe, algum outro setor nos arredores da cidade.

Link para o álbum desta publicação: Sozinho em Atenas (as fotos mostram a localização dos setores no mapa)

5 comentários:

  1. Massa! Pra um dia, rendeu um ótimo passeio. Com excessão é claro do aparato arqueológico que você carregava na mochila hehe.

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  2. Melhor meu sogro não ler isso, senão vai achar que estás chamando ele de dinossauro.

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  3. Legal o post e legal o passeio.
    Se liga aí, tens que trocar em uma passagem 'guia de escaladas em Chaniá' por 'guia de escaladas em Athenas', e no final, '... que comprar uma lanchonete' por '... que eu comprei em uma lanchonete'. Acho que é o problema de ficar muito tempo sem falar português.

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  4. Obrigado, corrigi. Acho que o problema não é muito tempo sem falar português, mas sim ficar lendo as notícias no G1.

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  5. Vc conheceu alguma loja de equipos lá em Atenas?
    Tenho um amigo indo para lá, e se tivesse um aloja física poderia comprar um Stop novo pra mim(mslunghi@gmail.com).
    Obrigado

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