terça-feira, 5 de maio de 2009

A Garganta da Samariá

A ilha de Creta na Grécia oferece dezenas de gargantas (ravinas, canyons, desfiladeiros...) espalhadas por todo o seu território. O nível de dificuldade varia desde caminhadas de poucas horas até rotas técnicas perfeitas para os praticantes de canyoning. A mais famosa e mais visitada de todas elas é a Garganta da Samariá.

Rica em diversidade biológica, a Garganta da Samariá, possui várias espécies de animais e vegetais que não são encontrados em nenhum outro lugar. Achados arqueológicos indicam que a área foi habitada desde a pré-história e como diversas outras gargantas de Creta, serviu de abrigo para os cretenses resistirem aos diferentes invasores ao longo de sua história.

A Garganta da Samariá está situada na região sudoeste de Creta, no distrito de Chaniá. Os primeiros a frequentá-la para lazer foram os membros do Clube de Montanhismo de Chaniá, por sinal pioneiros em praticamente todos os roteiros turísticos junto à natureza da região. O Clube teve a Garganta sob seus cuidados até 1962, quando foi transformada em Parque Nacional.

O ponto de partida está situado a cerca de 1250 m de altitude, pouco acima do Platô de Omalos nas Montanhas Brancas (Lefká Óri - formação montanhosa da região). Destaca-se ao seu lado o gigante Gigilos, uma montanha de pedra com 2080 metros de altitude e uma dezena de rotas de escalada tradicional. A garganta possui 13 km de extensão na área do parque e mais 2 ou 3 km levam até a praia Ágia Rouméli.

Fomos para a rodoviária de Chaniá o Pawan e a Alina, indiano e romena que hospedamos pelo CouchSurfing, a Anamaria e eu. Partimos em um dos dois ônibus quase lotados às 8h30 que em pouco mais de uma hora nos levou à entrada da Samariá. Só nestes dois ônibus eram mais de 100 visitantes, fora ônibus de turismo que chegaram antes e depois. Este foi o segundo final de semana desde que o parque abriu para a temporada e certamente ultrapassou os 300 visitantes.

Após a chegada esperamos a massa desaparecer e fomos para a entrada do parque onde pagamos o ingresso. Nenhum tipo de informação é passada ao visitante e uma placa exibe o regulamento em um lugar onde ninguém passa. No verso do ingresso um pequeno mapa mostra as distâncias até cada área de descanso ou fonte de água na área do Parque e a distância total percorrida de 12,9 km (dentro do Parque).

No início a caminhada é em rampas ou escadarias que descem rapidamente em zig-zag em meio aos ciprestes. O solo é de um pó fino coberto por cascalhos que parecem ser jogados proposital e periodicamente, visto que em vários trechos havia sacos de cascalhos ainda fechados. Um mirante permite, após poucos minutos de caminhada, uma visão parcial da garganta de onde temos uma noção das dimensões do trajeto a ser percorrido.

As condições da infra-estrutura do parque surpreenderam comparado a outros lugares que já visitei por aqui. Todas os guarda-corpos de madeira e placas ao longo do trajeto estavam em boas condições. São pelo menos 10 postos de descanso afastados cerca de 0,7 a 3 km entre si, oferecendo água, banheiros, equipamento de combate ao fogo ou a combinação de qualquer um destes. Em pontos esporádicos há caixas metálicas vermelhas com um extintor de incêndio. Não visitei os banheiros, mas as lixeiras, mesas bancos e placas estavam sempre em ótimas condições. Em dois postos vimos bombeiros, mas em momento algum vimos alguém disponível para dar qualquer assistência ao visitante.

Continuando a descida, alguns trechos apresentam placas orientando o visitante a andar rápido devido ao risco de queda de pedras e um pequeno trecho é protegido com um estrutura de madeira e telas de arame. Em certo momento, com cerca de 3 km de caminhada, deixamos as encostas para começar a andar predominantemente pelo centro da garganta mais pedregoso e cruzando várias vezes o rio, que aparece e desaparece repetidamente.

A primeira grande área de descanso foi alcançada após 3,8 km de caminhada e paramos para fazer um lanche. Praticamente todas as mesas e bancos estavam ocupadas. Fico imaginando o inferno que não é este lugar na alta temporada. Por várias vezes caminhamos sozinhos, sem ninguém ao nosso alcance de visão para frente ou para trás. Na alta temporada deve ser impossível ficar um segundo sequer sem alguém por perto.

O lanche foi rápido e prosseguimos a caminhada com uma sensação maior de estarmos percorrendo uma garganta, já que nesta parte as laterais são mais verticais. Cerca de quatro quilômetros adicionais nos levaram ao antigo povoado da Samariá, hoje transformado em área de descanso e onde está o único posto de atendimento de primeiros socorros de todo o trajeto. Neste ponto, a garganta se abre e forma uma área grande que contém sinais antigos de atividade agrícola com o uso do terreno em degraus (não sei o nome certo para isso) para o cultivo. Uma ponte que cruza o rio para dar acesso à área de descanso dá um certo charme para o lugar.

A parte mais bonita da caminhada pela garganta começa certamente na segunda metade do passeio, logo após o vilarejo. As paredes laterais da garganta se destacam cobertas ou não pela vegetação e se fecham em várias partes. Passamos a acompanhar o rio quase que todo o tempo. No décimo quilômetro as paredes se abrem novamente numa área grande e plana onde foi instalada outra área de descanso. Deste ponto um quilômetro de caminhada leva às Portas de Ferro, provavelmente o ponto mais famoso da garganta, mas não por isso o mais bonito. As Portas de Ferro marcam a parte mais estreita da garganta com 3 ou 4 metros de largura e 300 de altura. Vale notar que a largura modesta não se mantém ao longo de toda a altura. As paredes se alargam a medida que sobem.

Cruzar o rio(zinho) várias vezes neste trajeto é inevitável e pequenas pontes feitas com troncos de madeira facilitam a passagem. Estas pontes são bastante simples e ajudam a manter a atmosfera do passeio.

Aos poucos os ares de garganta vão desaparecendo e chegamos à saída do Parque, onde entregamos o ingresso para um típico cretense nada simpático destacar a parte que lhe interessa. A saída do parque é desapontadora. Sem possibilidade de desvios, passamos por uma área com três ou quatro lanchonetes/restaurantes ainda vazios ou fechados. Em seguida uma estrada de cimento e pedra vai em direção ao vilarejo de Ágia Rouméli. Da estrada começamos a ver os primeiros sinais do vilarejo, uma área claramente destruída pela ocupação do homem, dezenas de carrinhos de lixo e entulhos que contrastam com a beleza que vivenciamos poucos quilômetros antes.

O vilarejo em si é pouco simpático e é dominado pelas pousadas, restaurantes e lojas de souvenir. Ficamos cerca de uma hora e meia na praia esperando o barco que nos levou a Chóra Sfakíon, um merecido descanso depois de 6h15 e 16 km de caminhada, onde mais uma vez tivemos que ficar esperando pelo Pawan e Alina. A caminhada é praticamente sempre em descida, as subidas são leves, curtas, imperceptíveis. O tempo mínimo de caminhada varia entre 5 e 6 h.

O retorno de barco é interessante e passa por partes bonitas da costa sul, como a praia de Mármara, onde termina a garganta de Arádena, e o povoado de Loutró. Antes mesmo de o barco atracar a multidão já se amontoou para sair em direção aos ônibus - sejam os interurbanos, sejam os turísticos -, e a abertura da saída parece uma procissão. Dependendo de ônibus interurbano (apenas dois ônibus em único horário na baixa temporada) saímos apressados para garantir nossas vagas. Ao que parece um ônibus saiu cheio e o nosso com apenas um lugar livre.

Link para o álbum desta publicação: A Garganta de Samariá

Um comentário:

  1. Olá, gostaria de saber se o ingresso já esta incluido esse barco e o ônibus...

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