domingo, 28 de setembro de 2008

TV Grega

Aqui em Chaniá, são 22 canais, 21 gregos e a TV5 (francesa). Entre os canais gregos estão canais públicos e privados, e canais nacionais e regionais. Alguns destes canais fazem coberturas esportivas. Apesar de o fazerem com menor competência do que os canais brasileiros, a cobertura é bem mais eclética. Durante as transmissões de Fórmula 1 eles interrompem a transmissão para passar propaganda. O mesmo algumas modalidades esportivas nas olimpíadas, em momentos inesperado, como por exemplo no momento que ia saltar com vara a campeã mundial. Por outro lado, muitos esportes que no Brasil só aparecem na TV a cabo, e olhe lá, ou em situações importantes (como Olimpíadas, finais, etc.) aparecem aqui frequentemente, como pólo aquático, lutas, campeonatos de natação, vôlei, basquete e é claro, futebol. Até para-olimpíadas teve uma cobertura relativamente ampla.

Neste um ano, mais de uma vez vi também documentários esportivos inclusive sobre montanhismo; um inglês sobre escalada no Everest, um francês sobre escaladas no Himalaia e outro francês sobre escalada em Kalymnos. Os eventos esportivos locais, em Creta, também aparecem na TV (nos canais regionais, claro). Por exemplo, os eventos dos clubes de iatismo, do clube de tiro, e é claro do clube de montanhismo.

Este final de semana aconteceu na região leste de Creta o encontro Cretense de Montanhismo com participação de todos os clubes locais. Pena que não estou frequentando o clube e não fiquei sabendo. Alguém alguma vez soube da abertura de temporada de escalada e montanhismo e SC pela RBS? O evento teve cobertura dos jornais televisivos dos três canais locais, e olha que era só um encontro, não tinha competição nem nada. Da mesma forma o festival Grego de filmes de montanha ano passado também teve cobertura televisiva.

Igual ao Brasil...

Comentários sobre a publicação de ontem:
Hoje choveu e não fui escalar.

Sobre o clube: ontem quando a menina foi falar com o Apostólis sobre parceiros de escalada, ele disse que no clube não tem ninguém, só os velhos se reúnem para ir passear nas montanhas, os jovens que escalam têm que ser encontrados na pedra mesmo....

sábado, 27 de setembro de 2008

Estreando

Hoje à tarde me encontrei com o Apostólis aqui perto de casa, pegamos um amigo dele chamado Kostas e fomos a Thérisso. O objetivo era "estrear" duas novas vias, pouco depois da entrada da garganta de Thérisso. Estas duas vias foram abertas há menos de um mês. Quando fui escalar em Thérisso como Christos pela primeira vez, antes de chegar no Jardim Suspenso vi dois caras escalando, ou melhor, abrindo estas vias.

Não sei o nome delas e as chamarei de A e B. A graduação da A, com cerca de 35 m, é algo como um VIsup/VIIa e a da B, com cerca de 15 metros, um VIIa, mas pode ser que eu esteja enganado (para cima). Fui o primeiro a escalar e entrei na A. A via começa num boulder de uns 3 metros que dá acesso a um platô e então à via, protegida com chapeletas. Passei o boulder facinho e continuei até pouco antes da metade e amarelei. Desci para o Apostólis tentar. Ele não encadenou, mas foi até o final. Enquanto ele escalou, com segurança do Kostas, chegou um cara bem gente fina, chamado Nikoforos. Ele entrou na via B com segurança minha. Ele também não encadenou. Na próxima rodada, o Kostas entrou na A em top-rope e parou no crux, e eu encadenei a B em top-rope, com uma ajudinha do segurança. O crux é um tetinho bem pequeno que quase não tem é mais difícil, já que a via toda é levemente negativa com poucas agarras nem sempre muito boas.

O Apóstolis e o Kostas também escalaram a B, com o Apostólis guiando. O Nikoforos guiou a A também sem encadenar e entrei em seguida em top-rope. Encadenei e vi que o lance onde eu tinha amarelado era bem mais fácil do que parecia. A via alterna agarrões com agarras pequenas e perto do final vai ficando levemente negativa, com dois crux bem negativos antes do final. As agarras machucam bastante as mãos e a falta de uma "carapaça" dificulta a escalada.

Das outras vezes que escalei em Thérisso já tinha notado isso, mas desta vez muitas pessoas pararam para ver e tirar fotos. Algumas começaram a gritar piadinhas para os escaladores que se irritaram um pouco (eu não entendi). Um casal de moto também parou para pedir informações sobre parceiros para escalar (em grego), pois estão morando em Chaniá e a mulher escala, mas está sem parceiro. Vieram pedir informação logo para mim....

Antes de irmos embora ainda subimos mais 1 km para ver outra via nova, que talvez tentemos amanhã. Tomara!

Link para o álbum desta publicação: Estreando

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quer subir na vida?

Recebi por e-mail um link para uma página de humor na internet, a Rádio Camanducaia. Não é sobre escalada em Creta, mas achei interessante divulgar. E é claro que tem relação com escalada. Ouçam na seção "Reclames" aquele sobre Alpinismo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Seguindo links

No final da tarde de hoje li um artigo sobre controle de tráfego, mais especificamente (e simplificadamente) sobre o uso de controladores de bordo (em carros) para evitar a formação de congestionamentos. O artigo tem um link para um simulador de tráfego online.

Dei uma brincadinha com o simulador, diga-se de passagem bem divertido, e da página do simulador fui para a página de um dos caras que o desenvolveu, e co-autor do artigo, Dr. Martin Treiber da Universidade Técnica de Dresden. Dei uma lida na página dele, vi uns vídeos do simulador 3D (que foi o que me levou até lá), .... legal.

Vi os links em inglês, pulei os em alemão, e cheguei no canto inferior esquerdo ocupado por um desenho discreto que parecia uma chapeleta. Passei o mouse em cima e ...

Briquem também com o simulador de tráfego e vejam o que está escondido "debaixo" do desenho da chapeleta!

domingo, 21 de setembro de 2008

Como se eu fosse louco

"O melhor escalador é aquele que se diverte mais"
Desconheço o autor desta frase, mas li ela num folder da ACEM elaborado pelo Fabrício Mendonça. Deixando um pouco de lado a parte do "melhor", é por aí que vejo meus objetivos dentro da escalada; me divertir. Voltando agora à parte do "melhor", hoje eu estava entre os melhores do mundo, pois me diverti pra ca... e vocês já saberão porque.

Vamos pra pedreira?
Os dias chuvosos (duvidosos) dos escaladores em Florianópolis no ano de 2005, tenho convicção, foram marcados por esta pergunta. A fissura ou a loucura por escalar pode levar escaladores ao desespero em dias chuvosos. Eu mesmo fui várias vezes para a Pedreira do Abraão em dias de chuva, principalmente no verão. A expectativa era que a pedra secasse rápido (e secava) e mais de uma vez escalei, choveu, fiquei esperando secar e escalei de novo.

Depois de quase 5 meses sem chuvas em Chaniá voltou a chover no final desta semana. A manhã de hoje foi a chuva mais intensa; a primeira que molhou pra valer. Com os ânimos detonados, principalmente pelo fato de que o plano de escalada para ontem era conhecer um novo setor em Réthymno (aprox. a 1 hora daqui), me dediquei à faxina. Esqueci do tempo, mas por volta de 17h00 o sol brilhava e algumas Cumulus Nimbus no céu não pareciam ameaçadoras. Perguntei para mim mesmo "Vamos pro Monte Várdia?" Depois de um período de indecisão, verifiquei a meteorologia na internet que indicava chuva apenas para a meia-noite. A resposta foi sim!

Contato
Pode parecer bobagem, mas duas coisas me estimularam a encarar o Monte Várdia hoje. A primeira foi a curiosidade de saber o quão rápido a pedra secaria, e se a parte com o teto molhava em dia de chuva. Praticamente a parede toda estava seca, com alguns pontos molhados, evidentemente, em partes planas e em fendas por onde a água escorre, inclusive em algumas partes do teto onde se forma uma caverna na pedra (e não no chão). A segunda motivação pode parecer mais bobagem ainda, mas para mim é algo que faz total sentido e, de fato, minha experiência diz que funciona.

Quando eu treinava natação, meu treinador dizia que mesmo doente ou lesionado, o ideal era o atleta freqüentar a piscina, para que o corpo, principalmente a palma da mão, mantivesse o contato com a água. Acho que para a escalada vale o mesmo e um pouco mais. Mesmo que as chances de escalar sejam pequenas, ou que a pedra molhada permita escalar poucas coisas, vale ir no setor só para ter contato com a pedra e com o ambiente. Só a caminhadinha do carro até a pedra, sentindo o cheiro da terra molhada (e de cocô de ovelha) já fez valer a ida.

Equipamento básico
A expectativa de encontrar alguém era zero. Resolvi levar apenas minha mochila "auxiliar", uma Mateiro 10 da Kailash, com o mínimo necessário: saco de magnésio REI (com magnésio), par de sapatilhas Anhangava da Snake ano 1996 ressolada, 750 ml de água da torneira, máquina fotográfica Fujifilm Finepix A200 2.0 Mega Pixels, lanterna de cabeça Tikka Plus Petzl, celular, documentos e um guarda-chuva (tenho um Anorak, mas neste caso um guarda-chuva era melhor). Como a temperatura no meu jardim era de 20 graus Celsius (pelo menos 10 graus a menos do que o mesmo horário uma semana atrás) e estava fresco, levei a tiracolo um fleece Trilhas e Rumos. O fleece se mostrou desnecessário e como saí antes do sol se pôr não precisei da lanterna. Ninguém pediu meus documentos e ninguém me telefonou... O resto foi indispensável!

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Música dos Mutantes que já foi gravada por outros e fez sucesso numa propaganda da APAE (SC?), bem que poderia compor o primeiro parágrafo desta publicação. Mas coloquei ela por outro motivo. Uma coisa que me faz rir e já vi que acontece com muitas pessoas, é a tarefa de colocar a máquina para fazer uma foto automática e sair correndo para aparecer na foto (pena que hoje já tem algumas com controle remoto). Em geral eu rio, independente dos tropeços de quem (mesmo eu) corre para aparecer na foto.

Em janeiro de 2005 vim para a Grécia pela primeira vez, sem nem sonhar que voltaria um dia para fazer doutorado. Apesar de ter trazido um equipo básico, não consegui escalar daquela vez, até mesmo porque choveu direto. Modifiquei as datas das minhas passagens para depois de 10 dias de trabalho, ir passear em Atenas e depois ir à Madri me encontrar com o Octávio, que morava em Portugal. Em Atenas sozinho, inverno, chovendo, diversas vezes faltou outro turista de bom coração para tirar fotos minhas. Só me restou apelar para as fotos automáticas. Em algumas ocasiões durante o processo, de posições estranhas para posicionar a máquina, de sair correndo, sozinho e rindo, eu era surpreendido por pessoas que me viam e riam, como se eu fosse louco...
Voltando ao "presente", cheguei ao Monte Várdia e me faltava um estímulo para começar a me "pendurar". Resolvi fazer fotos. Fiz uma pequena panorâmica da parte de tetos, onde concentrei minha escalada hoje. Achei que não poderia fazer mais do que isso, pois estava sozinho, mas a minha poderosa máquina fotográfica de 2 MP faz fotos automáticas! Lá estava eu correndo e rindo feito um louco tirando fotos automáticas, mas sem ninguém ver. Estava sozinho e mesmo assim me diverti!

Treino de potência
Não sei se para a escalada é assim, mas quando eu treinava natação, as séries de potência duravam cerca de 45 minutos e podiam ser, por exemplo, 6 tiros de 75 m a cada 7 minutos. Ou seja, eram esforços de curta duração com descanso grande. Por conta das fotos, durante boa parte da escalada de hoje foi isso o que fiz. Preparava a máquina, saía correndo, escalava o mais rápido que conseguia e esperava a foto bater. Nem sempre esperava a foto bater, pois a máquina era mais rápida que eu. Enquanto planejava a próxima foto ou me preparava para repetir uma que deu errado, descansava um pouco. O duro era correr por cima de cocô de ovelha e depois não patinar o pé na pedra... Suei bastante por causa da corrida e os braços cansaram bastante por conta dos negativos.

O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão

Não gosto deste estilo "cult" de ficar falando de música e etc., mas vou fazer isso pela segunda vez nesta publicação. Conheço esta música por causa de um dos discos "Um Barzinho, um Violão", na participação do Biquini Cavadão. E gosto da música. Esta parte de tetos do Monte Várdia, que deve ter algo como 20 metros de largura, tem uma variação enorme do tipo de pedra (pretendo no futuro publicar detalhes sobre a geologia de Creta). Difícil descrever como são estas variações, mas variam de partes lisas parecendo mármore a partes que parece que a superfície foi forrada com espinhos grandes. Algumas partes são extremamente arenosas e frágeis. Principalmente nesta parte e em suas proximidades, estão evidências incontestáveis, até para um ignorante como eu, que ali já foi mar. A superfície do material em vários pontos parecem um aglomerado de conchinhas, corais e cracas. Em um lugar próximo a uma boa agarra, em uma parte um pouco mais firme da rocha, fotografei uma concha incrustada na pedra. Evidências assim, a Anamaria também encontrou em Kalathás.

Fechem as porteiras!
Ao contrário das últimas vezes que fui no Monte Várdia a "porteira" estava fechada. Abri, entrei e fechei, como ditam os bons costumes. Estava fotografando a pedra, já depois de pelo menos uma hora por lá, e chegou um pastor com o filho pequeno trazendo as ovelhas. Ele me perguntou alguma coisa que não entendi, mas puxei a conversa tentando lembrá-lo que a primeira vez que fomos lá encontramos ele. E ele lembrava, até que eu era da América. Ele continuou o pastoreio e depois deixou o resto na mão do filho e conversamos um pouco sobre o que eu fazia aqui, quando minha mulher voltava do Brasil, entre outras coisas. Contando isto parece que sou um sabidão de grego, mas a verdade é que sou um "analfabeto" e apesar de saber o jeito certo de dizer algumas coisas, durante a conversa conjugo e declino tudo errado. Mesmo assim nos entendemos. Como da outra vez que encontrei com ele, reforçou que é para manter as porteiras fechadas e pediu para eu avisar os outros.

Manda para mim?
Acabei tirando umas fotos das ovelhas, e uma foto do menino com um filhote indo atrás do resto. O menino gostou da idéia, fez pose e disse para eu tirar outra! Depois o pai dele veio e me pediu para enviar a foto para eles. Quem sou eu para dizer que não? Ele manda ali e ainda por cima poderia ter uma arma! Como eu não tinha caneta, e nem ele, combinamos que ele deixaria um papel no para-brisa do meu carro. Dito e feito, cheguei na carro, peguei o papel no para-brisa e olhei para ver se conseguia entender o endereço de e-mail dele. Ele me deu o endereço de casa!

A mais fácil virou um desafio
Depois de escalar nos tetos por várias vezes, tentando agarras e posições diferentes, e de ter brincando um pouco em umas travessia, o sol começava a baixar "rapidamente" e os efeitos do cansaço começavam a aparecer. Fui tentar as últimas duas vias à direita da parte com tetos e acabei dando de cara com o "boulder" número 6, chamado Τρολλ (Troll). Nunca tinha escalado, nem notado ele, mas parecia fácil, muito fácil. Não tinha o guia para conferir a graduação e resolvi encarar. Saiu facinho, sem pensar, sem fazer força. Definitivamente, a via mais fácil do Monte Várdia (mais tarde, em casa conferi no guia, e era para ser um V+ [UIAA], ou um Vsup/6 [brasileiro], as graduações ali estão "todas" erradas!). Enfim, inspirado, fui verificar os recursos de filmagem da máquina: 20 s de filme. Estava definido o desafio. Filmar a escalada, que deveria acontecer em menos de 20 s. Além da primeira ascensão, tentei outras duas filmando, mas sempre me enrolei em algum ponto e não consegui "vencer" o desafio. Por fim estava tarde, algumas agarras estavam molhadas, e o tempo voltava a fechar; resolvi parar por aí. Vejam vocês mesmos as duas tentativas:

Link para o álbum desta publicação: Como se eu fosse louco

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fotos panorâmicas

Os leitores que acompanham este blog com certa regularidade e desde o princípio devem ter notado que publiquei algumas fotos panorâmicas.

O meu objetivo com o blog é compartilhar com os amigos as minhas experiências de escalada aqui na Grécia, ilustrando o máximo possível com fotos. Pensei que fotos panorâmicas seriam legais para mostrar paisagens e até falésias. Há algum tempo dei uma pesquisada na internet por programas de computador para unir fotos para formar fotos panorâmicas. Foi uma pesquisa sem muito rigor, mas testei três ou quatro programas diferentes entre vários que encontrei. Apenas um deles ofereceu resultados positivos, pois a maioria assume que foi utilizado um tripé e que o encaixe das imagens é quase perfeito.

O programa aprovado e que recomendo é o Panorama Perfect que na sua versão Lite é gratuito (com limite no tamanho da foto final). O programa é fácil de usar, talvez requerendo algum estudo sobre fotografia, e oferece diversos recursos para melhor encaixar as fotos. Ainda não li o manual e portanto não uso ele com força máxima. Talvez por isso as minhas panorâmicas não tenham ficado muito boas. Quem achar que os recursos para fotos panorâmicas oferecidos em suas máquinas fotográficas digitais e seus respectivos softwares deixam a desejar, fica a dica.

Para complementar recomendo buscarem na internet sites que dão dicas de como bater fotos para uni-las depois numa foto panorâmica. Achei bastante coisa e alguns interessantes, apesar de não ter lido todos em detalhes. Não passo os links porque não os guardei.

Vejam (de novo) as panorâmicas que já fiz:
Monte Várdia (não corrigi direito contraste, brilho e etc. nas junções das fotos)
From Eu não me canso

Mármara (o sol não ajudou e a foto ficou um pouco "esmagada" na largura)
From Quase fui a Mármara

Stavrós (ficou torta e com muita claridade na foto mais da esquerda, e arredondada em geral)
From Panorâmica de Stavrós

Analoukas (O morro e a estrada parecem curvos. (D)efeito semelhante a Stavrós)
From Outro tipo de rocha

Kalathás (a primeira que fiz e a que ficou melhor)
From De volta à Kalathás

sábado, 13 de setembro de 2008

Grandes chances

Por volta de 17h00 decidi empacotar o equipamento para ir escalar sozinho no Monte Várdia, já que não recebera um resposta para a mensagem que enviei ao Christos ao meio-dia. Levei todo o equipamento na expectativa de encontrar alguém lá e assim me "auto convidar a mim mesmo" para me juntar a este alguém, ou "alguéns". As chances eram muito pequenas, claro.

Comecei na primeira via do setor, um 'V' classificado no guia como boulder. O crux é na entrada e mal o sangue começou a correr forte nas veias, passou por mim uma moto com dois caras que não hesitaram em cumprimentar. Interrompi minha "promissora" ascenção para ir falar com eles, o Apostólis e o Elefthérios. Nem deu tempo de a gente conversar muito e já me ofereci para me juntar a eles. Concordaram imediamente, mas estavam ali só para fazer boulder. A verdade é que o Apostólis está retomando a escalada depois de passar por duas cirurgias, uma na mão e outra no pulso, e está trazendo junto o Elefthérios, iniciante na arte de subir pedras, para ele aprender alguns movimentos na rocha.

Acabei ficando sozinho e deixei eles escalando. Fiz a parte baixa de alguns boulders e achei um acesso fácil para o topo da falésia, que poderei usar em outras oportunidades para ir até o topo de uma via para armar top-rope.

Certa hora acabei indo escalar na mesma parte da pedra que eles e voltamos a conversar. O Apostolis desandou a falar. Ele reclamou que muitas vias aqui em Chaniá têm as chapeletas longe demais uma das outras e que recentemente algumas vias, do Monte Várdia por exemplo, receberam mais chapeletas para melhorar a segurança. Por conta disso, ele disse que prefere escalar nas regiões de Réthymno ou de Heráklio, onde as vias são mais protegidas

Deixou claro portanto, que para ele o importante é segurança, e deu a entender que era um aviso caso eu queira escalar com ele. Na última publicação, bem no finalzinho, comentei sobre a segurança (dar segurança). Mencionei como os escaladores parecem distraídos e têm fé no grigri. Curiosamente ele tocou neste assunto, sem mencionar ninguém, e vejam a seguir os dois "causos" que ele me contou.

O Apóstolis é amigo do Manólis Kampourakis. Este último é mencionado no guia de escaladas de Kapetanianá como a pessoa que estava encabeçando a proliferação de vias nessa região, atualmente. Além disso foi ele que equipou/abriu várias em Plákias (além de Kapetanianá), que resultou em elogios de vários dos melhores escaladores da Grécia. Ele, o Manólis, está com metade do corpo paralisado e hospitalizado; a pessoa que estava descendo-o de baldinho deixou o final da corda passar pelo aparelho. Em outra publicação comentei sobre a ida ao Festival Grego de Filmes de Montanha, aqui em Chaniá. Um dos filmes que vi, era uma homenagem de cerca de 5 minutos a um escalador daqui que morreu escalando no Paquistão. Ele morreu porque o amigo/parceiro dele também deixou o final da corda passar pelo aparelho e o cara caiu.

Comentei brevemente na penúltima publicação que as vias que os caras escalaram no Jardim Suspenso são de duas enfiadas, mas que fizeram em uma. Ou seja, na hora de descer de baldinho, eles são baixados até um nó na ponta solta da corta bater no freio e depois o segurança sobe enquanto o outro desce, até se juntarem numa parte da via que pode ser descida desescalando sem muita dificuldade. Outro erro de segurança que não comentei foi o fato de que mais de uma vez vi eles unindo duas costuras para diminuir o arrasto. Até aí tudo bem, mas ao invés de retirar um mosquetão de uma para uni-las -três mosquetões e duas fitas- eles costuravam uma na chapeleta e depois outra na costura de antes, algo que é errado.

Fora questões de segurança, perguntei sobre outros setores em Chaniá que não estão no guia, e ele me falou de Zurvas, um setor além de Thérisso onde a outra turma estava na primeira vez que liguei para eles, antes de irem para o Jardim Suspenso. Comentou também que uma dupla de bons escaladores, irmãos, têm uma cafeteria em Sougia, um balneário turístico importante ao sul de Chaniá. Este dois começaram a abrir vias na Garganta de Lissós, próxima a Sougia, que já conta com duas vias.

Depois da conversa fui para outro local escalar mais um pouco e quando voltei, já decidido a ir embora, vi eles fazendo uma travessia na parte de tetos do Monte Várdia. Botei a sapatilha de volta e escalei um pouco com eles. Fiz a travessia nos dois sentidos. Bem legal, com uns 6 metros de extensão. Boas agarras para os pés, e nem tão boas agarras (bastante agressivas) para as mãos, sempre empurrando o escalador para fora.

Anotei o telefone do Apostólis e ele vai me ligar amanhã se for escalar, provavelmente em Thérisso. Ele também disse que provavelmente vai escalar em Réthymno no próximo final de semana e que me avisa se for. Saí do Monte Várdia por volta de 20h00, já noite. Incrível que há menos de um mês eu saia às 21h00 com os últimos raios de sol. Já em casa chegou uma mensagem do Christos dizendo que não escalou hoje, mas que me liga se for amanhã à tarde. Ou seja, as chances de escalar no domingo são bem grandes.

P.S. Apesar dos comentários "maldosos" que fiz, não acho que seja perigoso escalar (esportiva) com o Christos e etc., tanto é que continuarei indo se me chamarem. Mas até o momento não encaro uma parede com algum deles e verificarei sem piedade os meus parceiros.

P.S.2 Enquanto estava relendo o texto chegou um mensagem do Apostólis dizendo que não vai mais escalar amanhã, mas que me liga no próximo final de semana. As chances para este final de semana voltaram a diminuir...

Link para o álbum desta publicação: Grandes Chances

domingo, 7 de setembro de 2008

Fui roubado

Acordei e passei o dia ansiosamente esperando a potencial mensagem (ou ligação) me chamando para escalar, que chegou por volta de 15h30. O ponto de encontro era o Jardim Suspenso, o mesmo de ontem. Quando cheguei o Christos já estava no topo da Kiss or Kill para fotografar o Áris que estava começando a via. Assisti um pouco a coisa toda e fui com o Johnny escalar a Fast & Furious, um 7b.

A via tem um crux num negativo com poucas agarras onde já cheguei com os braços detonados. Não consegui passar o crux. O Johnny tentou em seguida e também não conseguiu. Fiz segurança para o Johnny, atividade que não praticava fazia 12 meses. Enquanto segurava ele a galera um pouco mais embaixo fumou alguma coisa com cheiro diferente de cigarro que não sei o que era. Me parece que era algo que dava um barato, pois depois disso ficaram cerca de meia hora se divertindo com as ondas mecânicas que se propagavam por uma corda pendurada no teto e dando risadas.

Como não conseguimos escalar a via, o Áris veio continuar e foi até depois do crux para eu tentar de novo em top rope. Lá fui eu com segurança do Johnny. Passei o crux em artificial e depois guiei o resto da via. Enquanto escalava, todos exceto o Johnny, desceram para ir em outro setor próximo, e enquanto eu me preparava para fazer o rapel o Johnny também foi embora. Nunca vi disso. Me deixaram sozinho fazendo rapel, num negativo. Tive que ficar me balançando para lá e para cá para alcançar as costuras e limpar a via. Para piorar as coisas quando fui arrumar minha mochila vi que tinha acontecido uma das coisas mais baixas que já vi/ouvi até hoje.

Já ouvi falar de escaladores que cobraram curso e não deram, pegaram grana da galera para trazer equipo dos EUA e os equipos nunca vieram. Nem o dinheiro. Escalador que teve equipo roubado na base da via onde só tinha escalador, e etc. E não estou falando de qualquer charlatão. É gente que é idolatrada por aí. Ah, e ouvi das vítimas! Pois então, cheguei sedento na mochila, pronto para esvaziar pelo menos uma das duas garrafinhas de água que levei, com 500 ml cada. Não tinha água nenhuma, nem garrafa. Difícil de acreditar que roubaram minha água. Pelo menos minhas duas expressas que tinham ficado ontem estavam ali.

Desci solitariamente e parei no carro para tomar água numa garrafa que deixo por segurança. Subi até o outro setor que fica próximo e nem toquei no assunto da água, nem ninguém. Deixei por isso mesmo, afinal não era hora de arrumar intrigas. Estavam ali outros escaladores, dois deles escalando de capacete. Escalando, pois na hora de fazer segurança tiraram. Esqueci de contar ontem que derrubei uma pedra que quase caiu na cabeça do Johnny. Ele deve atrair pedras, pois hoje quase caiu outra na cabeça dele. Fiquei assistindo eles escalarem a Vasoúla, um 7c/8a. Ao mesmo tempo o Johnny tentou a Kerasáki, 6. Mais dois caras compunham a turma e aparentemente não escalam. Uma menina que escala também estava por ali, acho que Italiana.

A Kerasáki é bem mais difícil do que as duas vias que escalei ontem. O crux é num negativo com agarras sem pegada boa. O Johnny não conseguiu e a expectativa era de que eu limparia a via. Que nada. Fui um pouco mais longe que o Johnny, consegui segurar com as duas mãos no "agarrão" que dá saída do negativo, mas não consegui me aguentar nele por muito tempo e caí. Isto depois de pelo menos quatro tentativas. Não tem jeito, para escalar negativo tem que estar forte...

O Alexandros teve que limpar a via com segurança minha já no escuro. Todos desceram antes e nós dois tivemos que descer no escuro. O Alexandros não sabia o caminho para descer e estava sem lanterna. Acabei achando o caminho e depois de um tempo ele começou a ficar nervoso, daí peguei minha laterna e saímos sem problemas. Apesar de ele gritar, ninguém veio dar uns betas.

Me despedi dos caras. As vezes eles são simpáticos, mas são esquisitos. Até o momento, prefiro escalar com a Anamaria, que não é escaladora, do que com eles que são. Acho eles meio distraídos na hora de fazer segurança e deixam muita barriga (um passo para frente e a barriga encosta no chão). Se fiam demais no gri-gri e ficam de papo. Mas não quero parecer reclamão. Pelo menos estou conhecendo setores novos. Espero que as coisas melhorem.

Link para o álbum desta publicação: Fui roubado

sábado, 6 de setembro de 2008

Jardim suspenso

Depois das lamentações fiquei esperando que me ligassem. Por volta de 17h20 o Christos me ligou e disse para encontrá-los no Κρεμαστός κήπος (Cremastós kípos), que quer dizer Jardim suspenso, um setor com quatro vias, duas de duas enfiadas, que ele mesmo abriu em setembro de 2007.

Já estava com todo o equipamento pronto, peguei as coisas, fechei a casa e toquei para lá. Em menos de 30 minutos cheguei na base do morro, estacionei o carro e pude ver duas pessoas chegando na base das vias, que fica após um subida por um trilha de cerca de 10 minutos. A parede é impressionante. Começa com um parte vertical que depois fica côncava, fazendo um negativo fabuloso. Tirei uma foto, peguei as coisas e toquei para cima.

A trilha é super escorregadia e cheia de arbustos espinhentos. Para piorar errei o caminho e fiquei todo lanhado nas pernas. A recepção não foi muito calorosa, mas foram simpáticos. Nunca me aconteceu isso, mas algum mato no caminho me fez espirrar umas 10 vezes depois que cheguei na base das vias. Além do Christos, estava ali o Áris, de Heraklion. Vi o Áris tentar uma via em torno de 9a (brasileiro), com aproximadamente 60 m de extensão. Ele acabou abandonando pouco antes do final.

Enquanto o Áris escalava chegaram o Alexandros e o "Johnny" que estava em Chaniá, e o Basílis que estava olhando outro setor. Os três, bem como o Christos são os que eu tinha conhecido no final de semana passado. Chegou minha vez de escalar e entrei numa via chamada Slab Garden, indicada como um VI (brasileiro) com 20 metros de extensão. Me saí muito bem, e encadenei a via que é bem fornecida de agarras bem boas. Depois de descansar um pouco e ver o Alexandros mandar o primeiro 7c (brasileiro) dele, e o "Johnny" passar um veneno na via que eu já tinha escalado, fui para outra via antes que anoitecesse. Também com 20 m de extensão, chama-se Therisso Style, e é graduada como um Vsup/VI. Apesar da graduação menor que a outra, passei um veneninho. Além das proteções estarem mais afastas, a via começa num negativo que exige um pouco de braço. Também encadenei. As duas continuam com a mesma segunda enfiada pelo negativo, mas não tentei. É um nono grau....

Me senti bem melhor na rocha, pelo fato de ter agarras boas e por ser mais abrasiva (estou com a mão toda esfolada). Como estava bastante empolgado, tenho dificuldade de afirmar que as vias daqui estão subgraduadas comparadas com o Monte Várdia (e vice-versa). Comentei com eles sobre isso e eles disseram que "aqui" é a nova geração e o Monte Várdia é a velha geração...

Descemos já de noite por volta de 20h00 assim que terminei de escalar.
Amanhã eles voltarão e espero que me liguem. Até porque duas costuras minhas desapareceram e acho que estão entre as que eles deixaram na parede.

Duas observações adicionais são: quando o Alexandros chegou, ele ligou um mp3 player em duas caixinhas do som. No final acabou desligando por que estava difícil de ouvir quem estava no lato. Já tinha notado esta breguice quando os encontrei no Monte Várdia na outra vez. Alguns deles fumam cigarro (quase todo grego fuma cigarro). O cheiro é desagradável, mas pelo menos escalei. Até o momento parece que não são adeptos de entorpecentes ilegais.

Fiquei sabendo também que o guia de escaladas de Kapetanianá que tenho de 2006, não é o novo, é o velho. O novo ainda não foi lançado, mas vai ter pelo menos mais 40 vias esportivas na região de Ágio Fárango, que o Áris abriu....

Link para o álbum desta publicação: Jardim suspenso

Mendigando

Sábado (hoje) depois do almoço resolvi ligar para o grego que conheci no final de semana passado (ver publicação anterior), para saber se eles iam escalar hoje e/ou amanhã. Me disse que estão em um setor de escaladas além de Thérisso (que não conheço e que não está no guia de Chaniá). Disse que depois (final da tarde) irão para Thérisso. Pedi para me ligar quando forem para lá, para eu ir ao encontro deles. O pior de tudo é que ainda durante a semana encontrei com um deles na rua. Ele tinha recém chegado de Thérisso com o cara para quem telefonei e perguntou como eu era de tempo. Disse que só posso final de semana, inclusive o próximo!

Uma coisa é quereres escalar no final de semana e ligar para todo mundo e ninguém estar disponível, outra é as pessoas irem escalar, saberem que estás disponível e não te ligarem. Ficar mendigando parceiro de escalada é humilhante.