domingo, 17 de janeiro de 2010

Hippocrates


Neste Natal a Anamaria e eu queríamos sair de Chaniá, para fazer algo diferente. Uma empresa aérea local, a Aegean Airlines (muito boa por sinal), lançou um promoção no início de Dezembro com preços baixíssimos para vários destinos na Grécia. Queríamos ir a Kérkira (Corfu), mas os preços eram proibitivos e o que conseguimos foram passagens do dia 26 ao dia 31 de Dezembro de Chaniá para Kós e de Kós para Chaniá.


Quase nada sabíamos sobre Kós, exceto que é muito próxima à Turquia, e que é a vizinha grande de Kálymnos, o paraíso da escalada. Compramos as passagens sem saber muito o que faríamos lá, mas tudo bem, desde que saíssemos de casa. Quem quiser ver no Google Earth ou Maps, a ilha de Kós é bem pequena e 5 ou 6 dias no inverno é mais do que tempo suficiente para conhecer a ilha e por isso pensamos em dividir o passeio para conhecer outros lugares.

As alternativas seriam ir à Bodrum na Turquia e/ou dar um pulo em Kálymnos para ter um aperitivo de como são as vias lá. Com isto decidido, encomendei o guia de Kálymnos, sobre o qual posso vir a escrever futuramente. Mas quando começamos a planejar mais detalhadamente a viagem, vimos que os horários de barcos para Kálymnos e Bodrum não se encaixavam no nosso planejamento e decidimos ir à Turquia apenas. Esta mudança de planos me fez, dois dias depois de encomendar o guia de Kálymnos, fazer uma pesquisa para saber se tinha escaladas em Kós. E não é que tinha! Assim, comprei o guia de escalada Olympic Blocs, que lista alguns setores de boulder espalhados pela Grécia, entre eles um em Kós. Quando o guia de Kálymnos chegou, vi que em uma das páginas este guia é recomendado e é o setor indicado para os mais fissurados que ficarem ilhados em Kós por causa de ventos que impedem a saída de barcos.

Não vou dar muitos detalhes desinteressantes da viagem, exceto que não conseguimos ir para Bodrum por causa dos fortes ventos e acabamos abdicando das nossas passagens aéreas e voltamos antes e de barco, com passagem por Atenas, que saíria mais em conta e seria mais interessante do que ficar entediado em Kós.

Vamos à escalada. O guia é relativamente bom, com indicação de vários blocos e problemas, e bastante claro sobre como chegar ao setor de boulder. O nome do setor é Hippocrates, o pai da medicina, orginário de Kós. O setor, ainda pouco explorado, ocupa uma área de pelo menos 800 x 300 m, na costa centro-sul da ilha (ver localização no mapa do álbum de fotos). O local é levemente inclinado e os blocos rolaram morro abaixo a partir de formações rochosas um pouco mais acima do morro. O local é de fácil acesso e um caminho de terra permite acessar com o carro praticamente toda a largura do setor.

O guia divide o campo de boulders em vários setores e indica os blocos e os problemas com nome e graduação em uma lista numerada com números correspondentes nos croquis e/ou fotos. Eles elaboraram também um circuito amarelo com os problemas mais fáceis. A graduação utilizada é a de Fontainebleau.


O mais surpreendente do local é o tipo de pedra, granito. Algumas vezes com uma cor acizentada, o tom da rocha é muito semelhante ao que temos em Florianópolis em Itaguaçu e na Mole. Um rosado puxando para o bege. As agarras tem forma muito parecida com as nossas, mas os problemas que tentei possuiam uma quantidade menor de regletes, predominando a aderência. Em alguns blocos, há protuberancias cinzas que parecem cimento.

O lugar é menos limpo (no sentido de pedras e vegetação) do que eu pensava ou parecia pelas fotos. Me concentrei em dois blocos, que não por coincidência continham alguns dos problemas mais fáceis. Não tentei nenhum bloco mais alto e difícil pois não tenho crash pad.

 Deu uma circulada pelo setor F e G para me localizar e achar o bloco F10 que concentrava num só bloco seis problemas de 3b a 5c e um problema de 6b (escala de Fontainebleau). Depois de achar o bloco tive que voltar até o carro para buscar a sapatilha que esqueci. Escalei os cinco problemas mais fáceis e a cada um deles dava uma volta grande para voltar à base. Há várias fotos deste bloco no álbum.

Depois voltamos ao carro e percorremos a largura do campo observando alguns blocos maiores até chegar ao setor A, onde escalei no bloco A12. Este bloco é bem largo e possui 13 problemas de 2a a 6c+. Escalei os oito primeiros, os mais fáceis, sendo o mais difícil um 5b. Não sei a relação da tabela de Fontainebleau com a brasileira ou francesa, mas ela é mais baixo. Assim, um 5b deveria ser alto em torno de VI ou Vsup. Há também várias fotos deste bloco no álbum e um vídeo com cinco escaladas nele, a última uma subida desengonçada deste 5b.

O setor é muito legal, mas não compensa uma viagem de escalda. Por sorte Kós é a vizinha pobre (de pedra) de Kálymnos, e quem gosta de boulder e está indo à Kálymnos, acho vale dar uma parada rápida para conferir os blocos antes de se esbaldar em tanta pedra na ilha vizinha.

Link para o álbum desta publicação: Hippocrates

Um comentário:

  1. Muito bom o setor. Bolder sempre bem vindo. Pra um mar de pedra assim, o guia tem que ser muito bom mesmo pra poder se localizar. Anamaria mandando bem na produção.
    Eduardo

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