A palestra foi proferida por um escalador/montanhista de Atenas que é engenheiro mecânico de profissão e diretor técnico da confederação grega de escalada e montanhismo (se entendi bem). A palestra dele foi sobre equipamentos e sua correta utilização. Obviamente o objetivo não era ensinar a usar cada um dos equipamentos de escalada, mas mostrar que cada equipamento tem um fim específico e deve ser corretamente usado para este fim e que existem normas que especificam como devem ser estes equipamentos.
Por exemplo, sobre cordas falou do fator de queda, das especificações da corda, como número de quedas UIAA, Força de Impacto e tudo mais. É curioso notar que a maioria das pessoas que tinha contato no círculo de escalada no Brasil, tinahm mais ou menos conhecimento da maioria das coisas que ele falou. Ali parecia novidade para todos, mesmo para aqueles que estiveram em cursos de escalada. Para mim foi uma ótima aula de revisão e também para aprender algumas coisas novas.
O cara palestrou muito bem e por ser engenheiro mecânico entende melhor do que a maioria de nós sobre o que está falando. A seguir vou tentar anotar alguns pontos que ele discutiu e que achei interessante comentar. Considerar com precaução tudo o que escrevi abaixo, pois posso ter entendido mal alguma coisa.
Sobre o uso de cordas ele mostrou os resultados de algumas pesquisas que eu nunca tinha visto nem ouvido falar em páginas ou listas de discussões brasileiras. Um deles por exemplo, mostrava a perda de elasticidade da corda com o tempo (sem uso) e por metros de escalada. É impressionante como a corda perde elasticidade com o uso. Algo como 5000 metros de escalada, que ele afirma ser fácil fácil atingido por alguém que escale três vezes por semana vias esportivas num período de três meses, baixam tanto a elasticidade da corda que é quase como se ela não fosse mais elástica (para fins de escalada e quedas). Fica evidente portanto, a importância de se trocar a corda regularmente. Sobre cordas foi uma pena ele não ter enfatizado os cuidados com o material, já que por aqui é comum a corda servir de tapetinho.
Um ponto que foi muito bom ele ter discutido foi o uso de dois pontos de segurança nas montagens de top-rope e rapel. Os olhos da platéia se arregalaram quando ele falou isso. Há muito tempo eu já dizia para o Kostas que o certo quando se usa corrente é colocar mais uma costura para fazer um segundo ponto ou montar uma ancoragem com fitas e mosquetões. Eu mesmo acabei cedendo e vinha ignorando isso.
Aqui é muito comum o uso de mosquetões de aço nas paradas ou anilhas navais (um semi-círculo com um pino rosqueado). Ele reforçou que este hábito tem que acabar e que apesar de não ser perigoso o uso dos mosquetões de aço (também para uso náutico) eles enferrujam e se tornam inúteis logo, além de marcar a pedra. Ele sugeriu que passem a colocar mosquetões de escalada velhos mas com o gatilho em bom estado. As anilhas ele condenou veemente e depois o Kostas veio conversar comigo com aquele ar de tinhas razão. Espero que a ficha tenha caído e ele pare de montar top-rope nelas a partir de agora.
O último tópico que ele debateu que acho interessante comentar é sobre o velho mito das microfissuras quando se deixa cair um equipamento do alto. Neste tópico também dei uma boiada mas parece que não há nada que confirme ou não confirme a formação das lendárias microfissuras. A única recomendação que ele fez foi que devemos usar nosso próprio julgamento e se não nos sentirmos seguros usando o equipamento que deixamos cair, melhor destruí-lo e escalar se sentindo bem. Até hoje só abandonei um ATC que deixei cair de uns 20 metros na Barra da Lagoa e o Amarelo insistiu em ficar pra ele. Se por um lado as microfissuras continuam uma incógnita, danos visuais oferecem um sério risco. Ele recomendou que não se use nenhum equipamento com um dano (por ter caído no chão) ou desgaste (por passagem da corda ou contato com chapeleta) que exceda um milímetro de profundidade. Para ilustrar ele mostrou um modelo de uma placa GIGI que ele montou num simulador. Numa imagem ele mostrou o equipamento em perfeito estado aplicadas as devidas tensões durante o uso normal e na outra ele fez um corte de um milímetro no ponto mais alto da placa. Na segunda figura ficou aparente que na parte onde foi feito o rasgo há uma concentração de forças (tensões?) e ocorre a ruptura do equipamento. O mais legal de tudo é que as rupturas que acontecem são invisíveis. Quer dizer, cada vez que se usa o equipamento danificado ele vai quebrando aos pouquinhos e não se vê, até que ele se parte, e aí já era.
Se surgir alguma dúvida sobre algum tema que escrevi nesta publicação posso tentar entrar em contato com o palestrante para pedir algum esclarecimento.
Desculpem pelo péssima redação (talvez pior do que o usual), mas fui digitando o que a memória me permitiu lembrar.
Link para o álbum desta publicação: ΒΕΒΑΙΟΣΗ
Muito bom. Parabéns pela graduação. Interessante mesmo a palestra do cara e ao mesmo tempo, que burros esses gregos aí da ilha haha. Resumindo, gostam de subir pedras, o resto é detalhe.
ResponderExcluirEduardo