segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ΒΕΒΑΙΩΣΗ

Sábado foi dia de receber o certificado. O evento que teve direito a cartaz de divulgação nas ruas de Chaniá era na verdade uma palestra e já aproveitaram para entregar os certificados. O local do evento foi o auditório da Associação Comercial local. Foi uma ótima oportunidade de rever várias figuras que não encontro com frequencia, como o Cristos, o Apostolis, o Iannis, etc. A entrega aconteceu logo no início sem muita cerimônia. Primeiro receberam aqueles que fizeram o curso de nível intermediário e depois os do nível iniciante. Um a um fomos chamados e tudo correu sem tropeços. O único fato constrangedor foi a Elise não ter sido chamada para receber o certificado que por alguma razão não foi feito. Antes de a palestra começar alguém fez uma retificação e anunciou o nome dela sem, entretanto, entregar o certificado.

A palestra foi proferida por um escalador/montanhista de Atenas que é engenheiro mecânico de profissão e diretor técnico da confederação grega de escalada e montanhismo (se entendi bem). A palestra dele foi sobre equipamentos e sua correta utilização. Obviamente o objetivo não era ensinar a usar cada um dos equipamentos de escalada, mas mostrar que cada equipamento tem um fim específico e deve ser corretamente usado para este fim e que existem normas que especificam como devem ser estes equipamentos.

A palestra foi muito interessante, porém um pouco longa e acabou por se tornar cansativa. Ele abordou os principais equipamentos usados para escalada e montanhismo, como mosquetões, cordas, crampons e etc., e comentou brevemente maus usos, bons usos e as normas CE/EN e UIAA para cada um deles quando aplicável.

Por exemplo, sobre cordas falou do fator de queda, das especificações da corda, como número de quedas UIAA, Força de Impacto e tudo mais. É curioso notar que a maioria das pessoas que tinha contato no círculo de escalada no Brasil, tinahm mais ou menos conhecimento da maioria das coisas que ele falou. Ali parecia novidade para todos, mesmo para aqueles que estiveram em cursos de escalada. Para mim foi uma ótima aula de revisão e também para aprender algumas coisas novas.

O cara palestrou muito bem e por ser engenheiro mecânico entende melhor do que a maioria de nós sobre o que está falando. A seguir vou tentar anotar alguns pontos que ele discutiu e que achei interessante comentar. Considerar com precaução tudo o que escrevi abaixo, pois posso ter entendido mal alguma coisa.

Sobre o uso de cordas ele mostrou os resultados de algumas pesquisas que eu nunca tinha visto nem ouvido falar em páginas ou listas de discussões brasileiras. Um deles por exemplo, mostrava a perda de elasticidade da corda com o tempo (sem uso) e por metros de escalada. É impressionante como a corda perde elasticidade com o uso. Algo como 5000 metros de escalada, que ele afirma ser fácil fácil atingido por alguém que escale três vezes por semana vias esportivas num período de três meses, baixam tanto a elasticidade da corda que é quase como se ela não fosse mais elástica (para fins de escalada e quedas). Fica evidente portanto, a importância de se trocar a corda regularmente. Sobre cordas foi uma pena ele não ter enfatizado os cuidados com o material, já que por aqui é comum a corda servir de tapetinho.

Um assunto que volta e meia vem à tona nas listas de discussão é o relato de casos em que chapeletas em áreas litorâneas quebraram apenas com o peso do escalador. Até saiu algo oficial da UIAA a respeito. O palestrante participa regularmente dos congressos da UIAA e parece estar por dentro do assunto. Ficou um pouco complicado entender os detalhes em grego, mas pesquei algumas coisas. Na Grécia parece que houve dois ou três casos, um deles em Creta e o outro não lembro onde foi. Eles consideram áreas litorâneas, setores de escalada a até 50 km do mar, o que significa, por exemplo, toda a ilha de Creta (e toda ilha de Santa Catarina) e muitos outros importantes setores na Grécia (e no Brasil). A constatação que chegaram é que não é um problema apenas por causa do iodo de ambientes litorâneos, mas por também causa da poluição em ambientes urbanos. Soma-se a isso o uso de parabolt, chapeleta, arruela e porca com materiais metálicos diferentes, que ficam trocando carga e se estragam. Finalmente, é fator importante o aperto excessivo da chapeleta. Acabei não entendendo se o aperto deve ser de 4,5 ou de 8 kN (e talvez nada disso). Mas eles mediram o aperto de chapeletas em regiões onde houve quebra e eles são muito altos, causando algum tipo de tensão que prejudica a maneira como o impacto de uma queda ou o peso de alguém afeta o conjunto. O mais interessante de tudo foi que a solução encontrada para evitar este problema foi o uso de proteções químicas. As razões são simples: é apenas uma peça, então não há problema de ligas diferentes em contato, não há tensão de aperto pois a peça é colocada no furo com cola e, por fim, pode se escolher um material que não sofre os danos causados pelo iodo e pela poluição (não entendi qual elemento poluidor afeta o metal) e nem qual tipo de metal deve ser usado. Há claro o inconveniente de ter que esperar a cola secar, mas principalmente em áreas esportivas não há pressa...

Um ponto que foi muito bom ele ter discutido foi o uso de dois pontos de segurança nas montagens de top-rope e rapel. Os olhos da platéia se arregalaram quando ele falou isso. Há muito tempo eu já dizia para o Kostas que o certo quando se usa corrente é colocar mais uma costura para fazer um segundo ponto ou montar uma ancoragem com fitas e mosquetões. Eu mesmo acabei cedendo e vinha ignorando isso.

Aqui é muito comum o uso de mosquetões de aço nas paradas ou anilhas navais (um semi-círculo com um pino rosqueado). Ele reforçou que este hábito tem que acabar e que apesar de não ser perigoso o uso dos mosquetões de aço (também para uso náutico) eles enferrujam e se tornam inúteis logo, além de marcar a pedra. Ele sugeriu que passem a colocar mosquetões de escalada velhos mas com o gatilho em bom estado. As anilhas ele condenou veemente e depois o Kostas veio conversar comigo com aquele ar de tinhas razão. Espero que a ficha tenha caído e ele pare de montar top-rope nelas a partir de agora.

O último tópico que ele debateu que acho interessante comentar é sobre o velho mito das microfissuras quando se deixa cair um equipamento do alto. Neste tópico também dei uma boiada mas parece que não há nada que confirme ou não confirme a formação das lendárias microfissuras. A única recomendação que ele fez foi que devemos usar nosso próprio julgamento e se não nos sentirmos seguros usando o equipamento que deixamos cair, melhor destruí-lo e escalar se sentindo bem. Até hoje só abandonei um ATC que deixei cair de uns 20 metros na Barra da Lagoa e o Amarelo insistiu em ficar pra ele. Se por um lado as microfissuras continuam uma incógnita, danos visuais oferecem um sério risco. Ele recomendou que não se use nenhum equipamento com um dano (por ter caído no chão) ou desgaste (por passagem da corda ou contato com chapeleta) que exceda um milímetro de profundidade. Para ilustrar ele mostrou um modelo de uma placa GIGI que ele montou num simulador. Numa imagem ele mostrou o equipamento em perfeito estado aplicadas as devidas tensões durante o uso normal e na outra ele fez um corte de um milímetro no ponto mais alto da placa. Na segunda figura ficou aparente que na parte onde foi feito o rasgo há uma concentração de forças (tensões?) e ocorre a ruptura do equipamento. O mais legal de tudo é que as rupturas que acontecem são invisíveis. Quer dizer, cada vez que se usa o equipamento danificado ele vai quebrando aos pouquinhos e não se vê, até que ele se parte, e aí já era.

Se surgir alguma dúvida sobre algum tema que escrevi nesta publicação posso tentar entrar em contato com o palestrante para pedir algum esclarecimento.

Desculpem pelo péssima redação (talvez pior do que o usual), mas fui digitando o que a memória me permitiu lembrar.

Link para o álbum desta publicação: ΒΕΒΑΙΟΣΗ

Um comentário:

  1. Muito bom. Parabéns pela graduação. Interessante mesmo a palestra do cara e ao mesmo tempo, que burros esses gregos aí da ilha haha. Resumindo, gostam de subir pedras, o resto é detalhe.

    Eduardo

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