sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ESAON

Dia destes estava perturbando a Anamaria e me lembrei de ESAON. Aprendi este acrônimo nos idos de 1995 com o chefe João Henrique no escoteiro. Acredito porém, que também é usado e foi criado por militares e outras pessoas envolvidas com sobrevivência na selva e coisas do gênero. Por outro lado nunca ouvi esta expressão entre os montanhistas e escaladores.

Eu diria que este acrônimo, apesar de simples, junto com o acrônimo inglês ERNEST e suas variações*, deveria estar no topo da lista de acrônimos importantes da escalada.

A sigla ESAON contém resumidamente os passos básicos que devem ser seguidos ao se perder. Para um montanhista/escalador são várias as situações em que isto pode acontecer, seja na própria montanha, numa via longa, no acesso/descida da escalada e, por quê não, no trajeto de carro entre o ambiente urbano e o setor de escalada. Os passos são:


1) Estacione: significa parar, para evitar que a situação se agrave.. Deslocamentos desnecessários também causarão cansaços desnecessários.
2) Sente-se: significa descansar, não só o corpo, mas também a cabeça que neste momento pode estar pensando mil coisas, e afastar o possível nervosismo.
3) Alimente-se: mais do que apenas se alimentar, significa cuidar da sua saúde e dos demais, alimentando-se, hidratando-se e cuidando de enfermidades e ferimentos que possam ter ocorrido.
4) Oriente-se: utilizar as informações disponíveis, como tempo de deslocamento, hora do dia, mapas, croquis e instrumentos, para decidir o caminho a seguir. Elabora-se um plano para encontrar o caminho correto, ou o melhor caminho a seguir.
5) Navegue: Já descansado, calmo, alimentado, hidratado e com um plano, seguir o caminho para se salvar da situação.

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Rapidamente a sigla ERNEST**, que se aplica a ancoragens na escalada:
- Equalized: os pontos da ancoragem devem ser equalizados, a distribuição de forças deve ocorre o mais uniforme possível entre todos os pontos, mesmo que a direção varie.
- Redundant: a ancoragem deve ser redundante, isto é, ser formada de vários pontos e elementos de maneira que o eventual colapso de um ponto ou elemento não prejudique os demais.
- Non-Extending: a falha de um dos pontos ou elementos não provoca o deslocamento do ponto central, e assim não há impacto sobre a ancoragem.
- Solid: significa que cada ponto e elemento da ancoragem deve ser sólido, ou seja, forte (strong) e estável (stable).
- Timely: escolher a hora certa (e o local certo) para montar a ancoragem. E também, montar uma ancoragem que cumpra com os quatro pontos anteriores em pouco tempo. Não adianta levar 1 hora para montar uma ancoragem digna de foto que poderia ser substituída por uma igualmente adequada mas armada em 5 minutos, e por causa disso se expor a outros riscos como terminar a escalada a noite.

* uma das variações é a sigla SRENE que não inclui o T, e acredito seja mais antiga. Outra facilidade da sigla ERNEST é que é um nome.
** diferente da sigla ESAON que resume passos, a sigla ERNEST resume requisitos que devem estar presente simultaneamente em uma ancoragem.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do RU....

... eu vejo Stavrós!



Link para o álbum desta publicação: Enfim Stavrós (álbum da publicação anterior).

domingo, 26 de outubro de 2008

Enfim Stavrós

Apesar de não ser a modalidade que mais pratiquei nos meus mais de 10 anos de escalada em rocha, escaladas fáceis que se estendem por mais de uma ou duas enfiadas são as que mais me atraem. Isto fez do setor do Etzel na Barra da Lagoa um dos meus preferidos. A Ponta do Rapa também é muito legal. E mais recentemente o setor na praia dos Ingleses oferece vias de até três enfiadas, de baixa dificuldade e bem protegidas (todos em Florianópolis).

Dito isto, não deve espantar-lhes se eu disser que o setor de Stavrós, com pelo menos oito vias de escalada 100% em móvel de 60 a 110 metros de extensão do V ao VII grau de dificuldade, me atraia tanto. A escalada neste setor estava adiada por tempo indefinido por duas razões:
(i) não tenho um parceiro de escalada que escale (tradicional); os que conheci até agora são adeptos da escalada esportiva. Quando contei ao Christos, Alex e demais que ainda não tinha indo em Stravós ele respondeu imediatamente "nunca vamos lá". O Apostólis não acha seguro escalar tradicional e portanto não pratica.
(ii) tenho apenas três Camalots, sete stoppers, e uma dezena de fitas.

Mas para minha "angústia", de segunda a sexta almoço no Restaurante Universitário. O setor de não fumantes tem suas janelas voltadas para a praia de Stravós e dali vejo diariamente as paredes de escalada e é inevitável pensar em escalá-las.

No último final de semana chutei o balde e resolvi ir para lá, mesmo que fosse para subir uma dezena de metros e depois desescalá-los. O domingo amanheceu com o céu carregado de nuvens escuras especialmente sobre o Akrotiri, onde fica Stavrós, mas mesmo assim saímos. O tempo ajudou e pegamos chuva apenas por alguns segundos durante o trajeto.

O carro chega praticamente à base de morro e depois de atravessar uma porteira fajuta de aramado começamos a subida até a base da parede. À medida que subimos, o morro vai ficando mais íngreme e a trilha varia de um cascalho escorregadio, à terra, pedregulhos e até uma escaladinha de II grau. A medida que nos aproximamos da parede, ela cresce, e também uma caverna que pode ser avistada da base do morro, mas que fica oculta por matacões boa parte da subida. A temperatura caiu bastante nos últimos dias e ventava bastante. A subida levou 40 minutos, e assim que chegamos na base da parede, paramos para descansar um pouco na caverna, protegidos do vento.

Depois do descanso chegou a hora de escolher qual via subir. As três vias mais fáceis iniciam praticamente juntas à esquerda da caverna, duas delas no mesmo lugar para depois se dividirem. Estas que começam juntas passam por um fenda tomada por pequenas árvores e arbustos e só me restou subir pela Proti, Vsup, 70 m. A via saí de um platô de pedra e segue por uma rampa acidentada com bastante agarras. No início as proteções eram boas, mas um pouco fora da linha da escalada (pelo menos dado meu escasso material) mas pude proteger bastante. Escalei 15 ou 16 metros e cheguei num platô onde naturalmente se faria uma parada antes de começar uma transversal para a direita por onde a via continua. A pedra é muito semelhante à que experimentei em Chochlakiés e em alguns pontos parece cristalizada como mármore, principalmente na base. Deste platô toquei mais 4 ou 5 metros para cima e cheguei em outro platô. Dali ficou claro porque a via continuava para a direita mais abaixo, adiante não há buracos, alças de pedra ou fendas para usar proteções em móvel.

Ao todo escalei 20 m e superprotegi com quatro stoppers (5, 6, 7 e 12), um camalot (0.75) e 6 laçadas de fita em alças de pedra, algumas com o buraco tão pequeno que uma fita tubular não passava, tendo que usar então fita de dyneema. As proteções se concentraram no início para evitar uma improvável queda num platô e também em alças de pedra próximas. Foi um precaução extra sabendo-se que eu teria que desescalar a via. A medida que subi me habituei com a situação e as proteções se afastaram um pouco, apesar de a parede ficar mais vertical e um pouco menos fácil.

A Anamaria fez um ótimo trabalho na segurança, inclusive depois de perdermos contato visual durante a escalada pela primeira vez. Surpreendentemente o vento parou quando comecei a escalar e só voltou quando terminei a escalada, tornando facílima a comunicação por voz. O tempo encoberto protegeu do sol que teve raras aparições, deixando o clima perfeito para escalar. A descida levou mais 30 minutos, e famintos fomos para casa preparar almoço.

O lugar é um espetáculo. Só vi de perto uma parte da parede, mas sem dúvida há espaço para muito mais vias do que apenas as oito listadas no guia de escalada. A volta até lá é certa, só não sei ainda quando!

Link para o álbum desta publicação: Enfim Stavrós

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dicionário

Meu irmão gêmeo me enviou por e-mail o link para um dicionário de termos de escalada Português-Inglês-Francês-Espanhol-Alemão e para um dicionário de montanha e escalada em português:

http://luis-avelar.planetaclix.pt/

O português é de portugal e alguns termos podem soar estranhos para nós brasileiros.

No dicionário de idiomas vi alguns erros de grafia que não o comprometem. Pode ser útil para alguém lendo um livro ou matéria em língua estrangeira!

domingo, 19 de outubro de 2008

Não fui

O planejamento para este final de semana era ir escalar em Kapetanianá, mas por diversas razões não fui. Realmente uma pena pois o tempo este final de semana foi espetacular.

Sábado a previsão era de temporal no final da tarde e o tempo realmente fechou (mas não choveu) e acabei não indo escalar.

Não sou chegado em Fórmula 1, mas domingo acordei e assisti boa parte da corrida para ver se ia dar Hamilton ou Massa. A decisão ficou para o GP de Interlagos.

Por volta de 12h fomos para o Monte Várdia. Repeti a dose da última escalada. Comecei pela Στενές Επαφές (Stenés Epafés, ou relações estreitas), VIIa, e me saí "bem" melhor desta vez. Progredi até pouco depois da segunda chapeleta e desisti. A via começa levemente negativa com três agarras de pinça, praticamente as únicas agarras para mãos até costurar a segunda chapeleta. A via é bem servida de agarras para os pés, mas exige um trabalho intenso com os mesmos para subir pouco a pouco. A segunda chapeleta na verdade são duas, dispostas quase como se fossem uma parada, uma com a porca bastante enferrujada e outra com 2 cm de parabolt para fora... costurei nas duas por via das dúvidas.

Após costurar a segunda chapeleta, já se alcança uma agarra grande para a mão à direita que dá uma salvada para um descanso, mas desloca um pouco o escalador da via que ao voltar tem que ir um pouco para a esquerda. A partir daí o trabalho de pés continua intercalando as pinças antes usada para as mãos, pressão em saliências lisas da pedra e o agarrão à direita. Para as mão começa uma sequência de regletes. Subi mais um pouco e as agarras para as mãos e os pés desapareceram na mesma taxa, ainda "longe" da terceira chapeleta. Desescalei e parei para um descanso. A segunda tentativa foi até o mesmo ponto, um ótimo exercício.

Depois da segunda tentativa deixei o equipamento ali e subi a Συκιά (Sikiá) com a outra ponta. Foi uma escalada rápida para limpar o equipamento que eu tinha deixado na outra via, durante o rapel.

Apesar do aparente fracasso com a Stenés Epafés estava entusiasmado e fui tentar uma via mais para a direita chamada Τρυφερότιτες (Triferotités, ou meiguices), VI. A via começa com um lance de poucas agarras para dominar um platô, de onde já se costura a segunda chapeleta. A partir deste ponto as agarras acabam e é aderência pura tirando proveito dos abaulados e saliências para as mãos é pés, sempre pressionando bastante. As "condições" são piores que as vias do setor do Etzel na Barra da Lagoa. Passei um pouco a terceira chapeleta e voltei. Achei esticado demais para continuar, apesar de tudo indicar que a costura era feita segurando num buraco que potencialmente é a única agarra (grande) da via. Rapelei de uma fita.

Foram quase duas horas de escalada à sombra com um brisa agradável (para quem escala, não para o segurança). Apesar de relativamente próximos da cidade, o ruído urbano é baixo e predomina o canto de passáros. Antes de começar a escalar tivemos a oportunidade observar uma ave de rapina de grande porte sobrevoar e pousar na área próxima à escalada. Antes que eu pudesse pegar a máquina fotográfica ela já estava voando novamente. Tudo indica que era uma Golden Eagle, apesar de as dimensões que observamos não atigirem os 2 m (média) de envergadura sugeridos na Wikipédia. Procurei por outros pássaros de grande porte de Creta e este é o único que bate com o que vimos.

Link para o álbum desta publicação: Não fui

domingo, 12 de outubro de 2008

Rapidinha

O tarde de domingo foi marcado por várias chuvas fortes de pouca duração, a primeira delas logo depois de fechar o zíper da mochila antes de ir escalar. A espera foi longa, sempre na expectativa de que o tempo melhorasse. Já no final da tarde houve um trégua clara e partimos para o Monte Várdia. A pedra estava úmida, mas nada que prejudicasse a escalada em boa parte das vias.

Para mudar os ares fui direto para a Στενές Επαφές (Stenés Epafés, ou relações estreitas) um VIIa que começa bem vertical e vai se transformando num diedrinho. A saída apresenta um pouco de inclinação negativa e é pobre em agarras para a mão, sendo que até a segunda chapeleta a progressão é feita usando-se agarras em pinça tipo as que encontramos em muros de escalada. A primeira chapeleta está terrivelmente mal posicionada e atrapalha um bocado o escalador. Tive que ficar dando orientações para a Anamaria ir para a esquerda, para a direita, mais perto, mais longe... Cheguei por três vezes no ponto para costurar a segunda chapeleta, mas não consegui uma boa posição. Desisti e fui escalar a Συκιά (Sikiá), e quem quiser saber como ela é, leia aqui. Foi uma escalada rapidinha e terminamos já de noite.

O planejamento é ir a Kapetanianá no próximo final de semana...

Link para o álbum desta publicação: Rapidinha

Presentes

A incerteza do tempo recomeçou por aqui. Difícil saber se vai chover ou não mesmo com as previsões meteorológicas dizendo que não. Só foi eu fechar o zíper da mochila e caiu uma chuva de pingos grossos por uns poucos minutos. Como choveu pouco e está ventando bastante vou esperar um pouco antes de ir escalar e enquanto isso farei uma pequena "resenha crítica" de uma das mais novas publicações de escalada nacional.

Fora a grande felicidade de ter a Anamaria de volta no último final de semana, fui agraciado com diversos presentes. Entre eles o livro Escale melhor e com mais segurança de autoria de Flávio e Cíntia Daflon (clique na figura), que me foi presenteado pelo Cristiano. Este livro chega para complementar a escassa coleção de livros introdutórios da técnica de escalada de autores brasileiros, alguns deles infelizmente "obsoletos" como o Manual do montanhista do Cristiano Requião, e também servir de suporte para outros livros "específicos" como o Dividir e Conquistar - técnicas de conquista do Alex S. Ribeiro. Além destes, cito o livro Cordas & Nós para montanhistas também do Cristiano Requião e Com Unhas e Dentes do Sérgio Beck. Para saber outros títulos nacionais sobre escalada e montanhismo recomendo o levantamento feito em 2007 disponível gratuitamente no site da Montanhar.

Irrelevante dizer, mas direi assim mesmo, que o conteúdo do livro compreende o conteúdo básico necessário para se iniciar na escalada e versa ainda sobre alguns tópicos avançados. As ilustrações em geral são boas, mas foram prejudicadas pela qualidade da impressão. O texto é corrido e de fácil leitura, mas achei um pouco desorganizado; muitos assuntos aparecem como pré-requisitos para outros, antes de terem sido devidamente apresentados. Por texto corrido, quero dizer que lê-se o livro como uma história e em várias partes falta "parar" o texto e realmente focar na técnica, apontar a figura e sistematizar o procedimento. O único capítulo que faz isto de fato é o de Auto-resgate, provavelmente pelo fato de ter sido baseado no livro de mesmo título (Self-rescue) do David Fasulo (Ed. Falcon Press). Isto pode tornar o livro bom para quem está acompanhando um curso, e de fato parece este o propósito, mas não o faz um bom livro de referência.

Os autores dão várias dicas interessantes, nem tão comuns em livros do gênero, reflexo da experiência deles. Além das dicas, gostei muito do capítulo Uma breve história do montanhismo e também dos capítulos finais sobre Treinamento, Nutrição, Prevenção de acidentes, Graduação e Meio-ambinente e ética. Longe de esgotarem os assuntos, estes capítulos alertam desde o princípio (supondo que se leia o livro todo antes de começar a escalar) para questões que poucos dão importância ou só sofrem cobrança quando já estão "viciados", lesionados e relaxados. Diga-se de passagem alguns destes capítulos deveriam estar no começo antes que o leitor se canse da leitura, claro que sob o risco de frustrar-se por querer logo aprender a usar o equipamento.

O grande diferencial que espero hoje de um livro de escalada é explicar as coisas e seus "porquês". Todos os livros sempre falam do julgamento que o escalador deve fazer baseado em seu conhecimento, criatividade e experiência nas mais diversas e adversas situações. Por isso acho que não basta saber como se faz, mas porque se faz. O escalador deve ser capaz de raciocinar para resolver problemas como um matemático, um físico ou um engenheiro fazem, e não consultar no cérebro uma gama de procedimentos assimilados. Este livro ainda não chegou lá, pelo menos não de forma objetiva.

O possível excesso de criticismo é uma característica minha, e se fosse fazer uma lista minuciosa ela seria muito maior. Levem isto em consideração... Concluindo, incluam este livro na biblioteca de vocês, leiam e indiquem para seus alunos se forem professores de escalada. Indicar este ou outro livro para os alunos, ao invés de apostila é valorizar a literatura de escalada nacional. Mas quem puder leia também outros livros, inclusive o Manual do Motanhista do Cristiano Requião que tecnicamente está ultrapassado, mas expõe com simplicidade única o que é a escalada, e não como algo sobrenatural como está na moda nos círculos de escalada hoje em dia.