domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ventania

A ventania de ontem não deu trégua e baixou consideravelmente a temperatura. Bem agasalhados fomos para o Monte Várdia Kostas, Vangélis, Manólis e eu. Não via o Vangélis desde a entrega dos certificados do curso de montanha, ocasião em que não tive a oportunidade de conversar com ele.

Escalamos a Louki Look (V), a Mávri (VI) e a Gonia ton angelon (VIsup), esta última em top-rope (falei dela e tem fotos aqui). Subi o "boulder" Troll (tem um vídeo de um minuto e meio aqui) de tênis e com o saco de corda nas costas (com a corda dentro), fitas a tira-colo e mosquetões na cadeirinha. No topo da Gonia ton angelon tem duas chapeletas, uma com um maillon e outra com uma anilha de aço. Fazia muito tempo que não montava uma ancoragem e o vento estava destruidor. Desci de rapel, algo que não fazia acho que desde que fui a Stavrós com o Kostas (aqui).

Esta via, Gonia ton angelon, tem o começo bem interessante, mas também exposto para quem quiser fazer guiando (em móvel). Hoje enquanto escalava tentei ficar de olho em que momento faria colocações e por a primeira proteção não é fácil e por enquanto não encaro. Hoje me sai bem na via, mas cai depois do crux e não sei bem por quê.

Apareçam por lá dois búlgaros, relativamente jovens, um aparentemente com alguma experiência e o outro novato. Não interagimos muito mas eles escalaram a Dulfer, onde estávamos e o guia segurou todas as costuras para subir. Não sei o quão experiente ele é, mas entrou sem saber grau nem nada. A corda deles era assustadora, nitidamente velha e cortada com a ponta se desfiando. Jogaram ela em cima da merda de ovelha e pisavam como se fosse tapete. Eles foram simpáticos, mas achei eles meio esquisitos.

Boa semana!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Meninas no Monte

Por volta do meio dia minha escalada deste sábado começou a melar. Alguns minutos depois de ter ligado para o Kostas e termos combinado de ir escalar à tarde, ele ligou de volta dizendo que ia para a praia com o Manólis. Sim, praia em meados de fevereiro. O tempo esteve esquisitíssimo nos últimos dias e hoje atingiu o auge de calor, suficiente para andar de (ou até sem) camiseta em pleno inverno. O Kostas voltou a me ligar dizendo que o Vangélis queria ir escalar no Monte e combinei com o Vangélis às 15h00. Por volta de 14h50 liguei para o Vangélis e ele já estava a caminho do "Rorió" (vilarejo) e não ia mais escalar. Fiquei a ver navios e comecei um processo de vou não vou sozinho.

Como disse o tempo estava muito esquisito, uma névoa tomou conta da cidade nos últimos dias. Dei uma olhada na previsão do tempo e poderia chover no entardecer e ventos fortes deveriam começar na madrugada. Mas os ventos chegaram 12 horas mais cedo e já ventava bastante antes das 16h00. Mesmo assim juntei todo o meu equipamento e fui para o Monte Várdia para escalar sozinho ou se tivesse sorte, encontrar alguém para escalar.

Tive sorte. Estavam lá (e tinham recém chegado) a Vasoúla, a Marianna e a Elize. Fiz dupla com a Vasoúla e escalamos a Dulfer (VI), a Mávri (VI) e a Mikrá Mistiká (VIIa). A Vasoúla escalou e guiou a Mikrá Mistiká pela primeira vez mas se atrapalhou no crux e segurou na costura. Acho que da próxima vez ela já encadena. Interessante que no trecho depois do crux ela disse estava com medo, no mesmo lugar onde eu também sinto uma apavorinho. Depois dela, guiei a Mikrá Mistiká em alto estilo e foi a vez que me senti melhor escalando esta via. A tranquilidade (ou desatenção?) era tanta que enquanto puxava a corda para costurar a quarta chapeleta (que fica dentro do crux) vi que tinha pulado a terceira sem querer e mesmo assim não me apavorei.

Ainda tinha luz para fazer mais uma via, mas as meninas iam pegar a Anastasia para irem ainda hoje para Ágiofárago. De qualquer maneira a chuva, como o vento, chegou mais cedo enquanto empacotava o equipamento.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Segunda escalada do ano

Este final de semana foi feriadão na Grécia. Consegui ir escalar domingo e segunda por cerca de duas horas cada dia, na companhia do Kostas do Manolis e da namorada deste último. Ah, escalamos no Monte Várdia, é claro. No domingo escalei só em top-rope três vias. Se passaram mais duas semanas sem qualquer atividade física e me saí relativamente mal. Ainda assim, fui sem quedas até o crux da via 42, Agelastos Petra, que está graduada como VIIb e é bem negativa. Já tinha tentado ela outras duas vezes em Dezembro e a adotei como a próxima via, mas desde então não tinha mais tido a oportunidade de escalar. O Kostas também foi até o crux e acho que também elegeu esta via como o novo "projeto" dele.

Na segunda-feira escalei apenas duas vias, a Sikiá Vsup para aquecer, mas na verdade fiquei exausto, e depois a Stenés Epafés VIIa, também guiando. Não me saí muito bem, mas encadenei. Fiz uma quantidade excessiva e força e tive que dar uma descansada boa depois do crux antes de encarar o trechinho final. O Kostas não se conforma que não consegue escalar esta via e ficou treinando a Agelastos Petra enquanto eu escalava. Foi só isso, não tentei mais nada, pois fiquei meio detonado e resolvi me preservar.

Lojas em Barcelona

No início do mês de fevereiro dei um pulo em Barcelona, Espanha. Não tive condições e nem era prioridade ir escalar, então acabei não indo nem no Montjuic ver o "muro" de escalada que tem lá. Mas dei uma passada em algumas lojas de material esportivo.

A primeira parada foi na The North Face que como esperado tinha tudo muito caro. Alguns tênis estavam em promoção e quase comprei um esportivo com Gore-tex por 52 euros, mas o tamanho disponível era um número menor do que eu calço (para ter uma idéia em Chania tênis de qualquer marca não sai por menos de 80 euros - em promoção).

Em termos de loja a prioridade era ir na BALMAT ver se encontrava um capacete para o Kostas. Não encontrei, não tinha a cor que ele queria. A BALMAT é uma loja legal, na verdade três lojas, mas os preços são altos e a variedade é bem limitada. Explicando melhor, há uma variedade grande de produtos (roupas, material para esqui, chapeleta, cordelete, corda), mas poucos modelos/marcas de cada. Por exemplo, havia apenas três tipos diferentes de costura. A maioria dos produtos estavam com preços relativamente altos, pelo menos mais altos do que vi na Aux-vieux-campeur em Paris e na Barrabes online. Aproveitei para comprar um pote de magnésio que ainda é muito mais barato do que aqui na Grécia (e não compensa o frete de uma loja online apenas para um pote de magnésio). Uma das lojas deles é outlet e tinha alguma coisa de vestuário com bons preços, mas nada que eu estivesse precisando.

Além da BALMAT fui na Decathlon que tem uma loja grande em Barcelona, mas muito bagunçada comparada com a de Paris. Não tinha praticamente nada de escalada e os preços promocionais baixíssimos de fim de estação nas demais lojas da cidade não estavam presentes nesta loja. Ainda assim a Ana aproveitou e levou um fleece bem barato.

Em Barcelona tem também várias lojas de departamentos da rede El Corte Inglés e visitei duas delas com a Anamaria. Uma delas tinha um seção esportiva com uma quantidade limitade de roupas de inverno e calçadas e uma pequena seção de equipamentos de escalada. Os preços eram de mercado, mas com algumas promoções boas. Mesmo com boas promoções, vestuário deste tipo ainda ficam caros e não levei nada.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mikrá Mistiká de novo

Depois de cerca de 25 dias sem escalar a chuva deu uma trégua e fui para o Monte com o Kostas e a Anatasía. Durante este período o Kostas conseguiu escalar uma ou duas vezes por semana apesar da chuva e voltou a me desafiar. Depois de escalarmos a I Mávri (VI) ele quis escalar a Mikrá Mistiká (VIIa) e me desafiou a ir primeiro. Ele acabou indo na frente e não conseguiu fazer sem segurar na costura. Apesar de todo este tempo parado fui bem na via e passei o crux técnico sem problemas. Logo após o crux técnico tem um crux psicológico (para mim) entre as duas chapeletas. Fiquei meio nervoso e deu uma esbranquiçada e não conseguia ver nenhuma agarra. Acabei arriscando e deixei as duas mãos só apoiadas na parede sem segurar nenhuma agarra e então fazer um movimento. Foi assustador, mas muito bom para ganhar confiança. A Anastasia está sempre rindo de tudo e não perdeu de tirar um sarro do Kostas. Não sei se ela sacou ou não que ele estava me desafiando.

O Kostas tem uma necessidade curioso de querer mostrar para as pessoas coisas que elas não sabem/não conhecem. Acho que para suprir esta necessidade ele voltou a me desafiar a escalar a via 34, Spasmena (VI) (Quebrada). Nunca tinha escalado ela porque acabava não dando tempo. O Kostas me revelou que o final era difícil e que ele não conseguiu encadenar na primeira tentativa, mas que depois da segunda ficou tranquilo.

Esta usa a mesma parada da 36 e 35 (que eu encadenei recentemente) e o Kostas me desafiou a guiar a 35 (já que ele não me viu guiando ela da outra vez). Não sei se ele já encadenou a 35 ou não, mas acho que não porque ele não quis guiar e nem tentou top-rope. Acabei guiando. Fiquei uma carinha no crux, mas com uma tranquilidade que me surpreendeu.

A via 34 é uma via em que a dificuldade aumenta com a altura. Ela começa bem de aderência e vai ficando vertical, meio que num diedro, sem agarras para a mão. Em certo ponto a pedra fica bem abrasiva e aparecem umas agarras para alcançar o ponto onde irão colocar uma parada com corrente (já fizeram os furos). Foi bem legal escalar esta via, pois tem um estilo um pouco diferente das outras

Fim de ano

Nos arredores do Natal e da virada do ano fui escalar diversas vezes no Monte Várdia. Durante os feriados tentei me manter em dia com os textos sobre as escaladas, mas como se passou muito tempo resolvi dar uma resumida e só comentar alguns pontos mais interessantes (para mim pelo menos). As poucas fotos que fiz nestes dias e também um vídeo do Kostas formam o álbum de fotos desta publicação (link no final).

A chuva e os parceiros não foram muito generosa comigo até pouco antes do Natal. Cheguei a ir sozinho até o Monte Várdia num domingo à tarde, mas em menos de meia hora fiquei entediado de escalar sozinho e voltei para casa.

O ponto forte antes do Natal foi o Kostas tentando encadenar a Mikrá Mistiká (VIIa) e o resultado vocês podem ver no vídeo.

No dia de Natal, 25 de dezembro, o telefone tocou logo cedo. Antes de atendermos a Ana sugeriu que era algum parente querendo desejar Feliz Natal ou o Kostas querendo ir escalar. Era a segunda opção. Como ele tinha que ir almoçar na casa do irmão, estava convocando os parceiros às pressas. O Vassílis também foi. Depois de aquecermos em alguma via, o Kostas quis tirar a limpo o problema dele com a Mikrá Mistiká e conseguiu encadenar com sucesso.  Veio aquela pressão implícita do Kostas. Puxei a corda e o Kostas ficou meio incrédulo de que eu conseguiria. Sem querer me achar, mas já me achando, guiei com muita tranquilidade e me sai melhor que ele. Este foi o grande feito do dia de Natal.

Outra novidade no dia de Natal foi o top-rope na via 16. Esta via pode ser escalada em móvel, mas fizemos em top-rope. No guia de escalada ela aparece graduada como um VIsup e apesar da aparência assustadora no início, parece mesmo que a graduação está certa. Eu e o Vassílis fizemos à vista, ainda que passando um veneninho no começo, que é o crux. O meu amigo Kostas fez a maior marra antes de começar, estudando os movimentos e na hora H se apertou e caiu várias vezes no crux. É meio difícil descrever a via, melhor ver as fotos que tirei do Vassílis escalando. Depois do crux a via fica bem tranquila e segue por um diedro. Em uma próxima oportunidade estamos pensando em descer de rapel e pré-colocar as peças móveis para fazer guiando.

Depois da volta de Atenas de barco (lembrem que fui à Kós depois do Natal) nosso carro ainda estava no aeroporto. Como o Kostas mora perto, pedi que ele me levasse lá depois que saísse do trabalho. Ele não perde a oportunidade de caçar um parceiro e me deixou sem alternativas senão ir escalar antes de irmos buscar o carro. Ele foi para o Monte com a Eléni e o Manolis e por volta de 15h30 veio me buscar. Chegamos lá e fiz dupla com o Manolis, e ele com a Eléni. O Kostas é o novo treinador pessoal da Eléni e o objetivo dele é fazer dela a melhor escaladora de Chaniá, superando assim a Anastasia, a Vassoúla e a Marianna.

Com o Manolis escalei guiando a via 36. Fazia tempo que não guiava e fiquei orgulhoso de mim mesmo por ter me saído tão bem. A parada para a 36 e a 35 é a mesma e desci de baldinho para ir direto para a 35 em top-rope. Só tinha tentado guiar esta via umas duas vezes e sempre amarelei antes de alcançar a chapeleta que protege o crux. Desta vez tinha me sentido muito bem escalando ela que depois de o Manolis escalá-la em top-rope, resolvi guiar. Encadenei com relativa tranquilidade e sinto que finalmente posso dizer que meu grau é VI.

No dia da virada voltei ao Monte com o Kostas e o Manolis. Apareceu por lá também o Giorgos (o outro) sem equipamento. Levei minha segunda cadeirinha e ele escalou a Zéstama (IV) com o Kostas, de sapato. Enquanto isso guiei a Sikiá (Vsup) com segurança do Manólis. Faz algumas semanas comprei um aro novo de óculos e agora uso meu óculos anterior para escalar e o novo só no dia dia. Esqueci de levar o óculos antigo e resolvi escalar sem óculos para não estragar o novo. Foi muito esquisito olhar para cima ou para baixo e não enxergar muito bem as agarras, mas deu de encarar.

Na sequência, resolvei guiar pela primeira vez a 46, sem muito apoio do Manólis que dizia que ela é muito difícil. Fazia umas três semanas que não escalava esta via e o Manólis ficou de cara com a minha performance (nada de mais na verdade) e me elogiou muito. Depois o Manólis guiou a Sikiá e levou uma das quedas mais esquisitas que já vi. No crux da via, exatamente onde tem a árvore, ele tentou não segurar a árvore para fazer a via limpa, mas não conseguiu. Daí tentou segurar na árvore, mas bem no nó onde não tinha pegada. Ao invés de tentar se salvar em outra parte da árvore ou alguma agarra, ele deu um pulo para trás, como se fosse um sapo e caiu. Enfim ele terminou a via e foi tentar a 46. O Sol já estava se pondo quando ele finalmente desistiu e deixou o Kostas ir em top-rope para mostrar como passar o lance inicial. Depois que o Kostas desceu era minha vez e apesar de eu ter esfriado resolvi fazer a 44. Apesar da penumbra, da cegueira parcial e do nervosismo, encadenei a via. A cadena ficou registrada em fotos que pedi, já no final da via, para o Manolis bater.

Depois que desci, o Kostas disse que foi a minha melhor performance que ele já viu. Não sei bem qual foi a intenção dele, mas me senti ofendido, já que apesar de ter encadenado, nem me saí tão bem. Meu amigo Kostas de certa forma estabeleceu uma competição não oficial entre eu e ele. Com as vias que encadenei nos últimos dias, sem querer deixei ele para trás, já que a via 25 eu encadenei e ele nem em top-rope conseguiu (e não sei porque, nem tenta). Hoje, ainda por cima, encadenei a 44 que ele não consegue fazer em top-rope (agora já consegue). Como ele escala muito mais que eu e que os outros, quase que diariamente, ele não se conforma que alguém que escale com menos frequencia, consiga fazer coisas que ele não faz.

Depois disto ainda fomos outro dia em que ventava muito. Depois de escalarmos algumas vias eu disse que estava frio e que preferia ir embora. Ele virou para mim e disse, ainda tem luz e nunca guiaste a via 41 (VI). Na verdade já tinha, guiado, sem encadenar. Mas eu não tinha problema nenhum em escalá-la e resolvi aceitar a competição e encadenei a via 41 sem tropeços. Disse que estava bem frio e a pedra gelada e que talvez fosse melhor ele ir em top-rope. O orgulho falou mais alto e ele quase caiu duas vezes. Acho que ele levanta esta competição inconscientemente e até já cheguei a pensar que é algo da minha cabeça, mas inclusive a Anamaria notou. Eu levo na boa e acabo me divertindo.

Link para o álbum desta publicação: Fim de ano