Vamos pra pedreira?
Os dias chuvosos (duvidosos) dos escaladores em Florianópolis no ano de 2005, tenho convicção, foram marcados por esta pergunta. A fissura ou a loucura por escalar pode levar escaladores ao desespero em dias chuvosos. Eu mesmo fui várias vezes para a Pedreira do Abraão em dias de chuva, principalmente no verão. A expectativa era que a pedra secasse rápido (e secava) e mais de uma vez escalei, choveu, fiquei esperando secar e escalei de novo.
Depois de quase 5 meses sem chuvas em Chaniá voltou a chover no final desta semana. A manhã de hoje foi a chuva mais intensa; a primeira que molhou pra valer. Com os ânimos detonados, principalmente pelo fato de que o plano de escalada para ontem era conhecer um novo setor em Réthymno (aprox. a 1 hora daqui), me dediquei à faxina. Esqueci do tempo, mas por volta de 17h00 o sol brilhava e algumas Cumulus Nimbus no céu não pareciam ameaçadoras. Perguntei para mim mesmo "Vamos pro Monte Várdia?" Depois de um período de indecisão, verifiquei a meteorologia na internet que indicava chuva apenas para a meia-noite. A resposta foi sim!
Contato
Quando eu treinava natação, meu treinador dizia que mesmo doente ou lesionado, o ideal era o atleta freqüentar a piscina, para que o corpo, principalmente a palma da mão, mantivesse o contato com a água. Acho que para a escalada vale o mesmo e um pouco mais. Mesmo que as chances de escalar sejam pequenas, ou que a pedra molhada permita escalar poucas coisas, vale ir no setor só para ter contato com a pedra e com o ambiente. Só a caminhadinha do carro até a pedra, sentindo o cheiro da terra molhada (e de cocô de ovelha) já fez valer a ida.
Equipamento básico
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Música dos Mutantes que já foi gravada por outros e fez sucesso numa propaganda da APAE (SC?), bem que poderia compor o primeiro parágrafo desta publicação. Mas coloquei ela por outro motivo. Uma coisa que me faz rir e já vi que acontece com muitas pessoas, é a tarefa de colocar a máquina para fazer uma foto automática e sair correndo para aparecer na foto (pena que hoje já tem algumas com controle remoto). Em geral eu rio, independente dos tropeços de quem (mesmo eu) corre para aparecer na foto.
Em janeiro de 2005 vim para a Grécia pela primeira vez, sem nem sonhar que voltaria um dia para fazer doutorado. Apesar de ter trazido um equipo básico, não consegui escalar daquela vez, até mesmo porque choveu direto. Modifiquei as datas das minhas passagens para depois de 10 dias de trabalho, ir passear em Atenas e depois ir à Madri me encontrar com o Octávio, que morava em Portugal. Em Atenas sozinho, inverno, chovendo, diversas vezes faltou outro turista de bom coração para tirar fotos minhas. Só me restou apelar para as fotos automáticas. Em algumas ocasiões durante o processo, de posições estranhas para posicionar a máquina, de sair correndo, sozinho e rindo, eu era surpreendido por pessoas que me viam e riam, como se eu fosse louco...

Treino de potência
Não sei se para a escalada é assim, mas quando eu treinava natação, as séries de potência duravam cerca de 45 minutos e podiam ser, por exemplo, 6 tiros de 75 m a cada 7 minutos. Ou seja, eram esforços de curta duração com descanso grande. Por conta das fotos, durante boa parte da escalada de hoje foi isso o que fiz. Preparava a máquina, saía correndo, escalava o mais rápido que conseguia e esperava a foto bater. Nem sempre esperava a foto bater, pois a máquina era mais rápida que eu. Enquanto planejava a próxima foto ou me preparava para repetir uma que deu errado, descansava um pouco. O duro era correr por cima de cocô de ovelha e depois não patinar o pé na pedra... Suei bastante por causa da corrida e os braços cansaram bastante por conta dos negativos.
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Fechem as porteiras!
Manda para mim?
A mais fácil virou um desafio
Depois de escalar nos tetos por várias vezes, tentando agarras e posições diferentes, e de ter brincando um pouco em umas travessia, o sol começava a baixar "rapidamente" e os efeitos do cansaço começavam a aparecer. Fui tentar as últimas duas vias à direita da parte com tetos e acabei dando de cara com o "boulder" número 6, chamado Τρολλ (Troll). Nunca tinha escalado, nem notado ele, mas parecia fácil, muito fácil. Não tinha o guia para conferir a graduação e resolvi encarar. Saiu facinho, sem pensar, sem fazer força. Definitivamente, a via mais fácil do Monte Várdia (mais tarde, em casa conferi no guia, e era para ser um V+ [UIAA], ou um Vsup/6 [brasileiro], as graduações ali estão "todas" erradas!). Enfim, inspirado, fui verificar os recursos de filmagem da máquina: 20 s de filme. Estava definido o desafio. Filmar a escalada, que deveria acontecer em menos de 20 s. Além da primeira ascensão, tentei outras duas filmando, mas sempre me enrolei em algum ponto e não consegui "vencer" o desafio. Por fim estava tarde, algumas agarras estavam molhadas, e o tempo voltava a fechar; resolvi parar por aí. Vejam vocês mesmos as duas tentativas:
Link para o álbum desta publicação: Como se eu fosse louco
Anamaria, volte logo pra Grécia, tem alguém por lá ficando atordoado! hahaha.
ResponderExcluirQueria ver o vídeo das quedas pelo caminho também!
falo
o vídeo tá ótimo!
ResponderExcluirpelo visto não estou fazendo falta nenhuma!
beijo!!
Maravilha hein..
ResponderExcluirAndas sozinho por aí então ? Como o mundo não acabou ainda acho que já posso ficar mais tranquilo, eu imaginaria que tu umas duas semanas sozinho seria capaz para estragos sem precedentes..
Abraços
Dylon
Parabéns pela iniciativa.
ResponderExcluirEscalar sozinho não deve ser animador, pelo menos até sair de casa; mas pelas fotos, vejo que desenvolves a passos largos a habilidade de ser feliz em qualquer circunstância.
As fotos não são boas, preciso ser sincero. Mas a idéia e a boa vontade compensam.
Parabéns mais uma vez, amigo.