sábado, 31 de janeiro de 2009

Curso: final de semana 1

Sábado dia 24/01/2009, chegou o início do tão esperado curso de montanhismo. O ponto de encontro foi o vilarejo de Askífou, a leste da cadeia de montanhas Léfka Óri, um pouco antes do início da Garganta de Imbros, na região de Chaniá. Fui o último a chegar às 11h30 com meia hora de atraso. Entrei na taverna indicada pelo Vangélis, um estabelecimento tipicamente cretense em péssimas condições - mas ninguém parecia dar bola -, com funcionários tipicamente cretenses, com cabelo, barba e bigode bem escuros e feições locais.

Em uma mesa (obviamente) cheia de xícaras de café vi o grupo reunido. Já conhecia todos os participantes, apenas 7 (8 comigo) dos 10 inscritos (Yanis, Maria, Leonídas, Dimítris, Giorgos, Panaiótis e Vasúla) , o assistente do instrutor, o Vangélis, e fui introduzido ao instrutor, o Vangélis! Ao contrário do que estava combinado ficamos na taverna até chegar outro grupo que estava com a chave do abrigo. Em meio ao ruído de uma TV e de locais jogando cartas, começou o curso.

Praticamente um bate papo, primeiro ele ouviu de cada um qual era a experiência com montanhismo e quais as expectativas com o curso. Em seguida deu um panorama muito breve sobre o curso, mais para confirmar as datas e locais dos próximos encontros do que comentar o conteúdo que será abordado, que de certa forma ainda é uma incógnita.

Na sequência começou a falar sobre equipamentos com poucos detalhes sobre os equipamentos técnicos que veremos mais tarde, mas focando no vestuário, saco de dormir e mochila. Uma pena que, exceto pela mochila que ele inclusive explicou como regular, nenhum outro equipamento teve um exemplar exibido durante a palestra. O tempo passou voando, foram cerca de 5 horas de exposição, incluindo pequenas pausas para descanso. Em uma das pausas degustamos deliciosas Sfakianópitas (panquecas recheadas com queijo local e cobertas com mel), especialidade local. Quando o outro grupo finalmente chegou e começamos a subida para o refúgio de montanha de Távri, também se juntaram a nós a Anastasía e a Lída.

Apesar de ser possível ir de carro até o refúgio, subimos apenas um trecho de carro até o início da trilha, onde entregamos nossa comida para o grupo que subia de carro e seguimos a pé. A trilha é um zig-zag bastante íngreme em solo rico em matéria orgânica e com muitas pedras, ótima para acidentes. A vegetação é predominantemente de algum tipo de pinus até nos aproximarmos dos 1000 m de altitude, quando a vegetação baixa e espinhosa típica de Creta e pedras passam a predominar.

Em cerca de 1 hora de caminhada chegamos ao refúgio já durante o entardecer. O outro grupo era formado por cerca de 40 crianças e mais uma dúzia de adultos os acompanhando. Eles subiram a trilha conosco comportadamente, mas ao chegar no abrigo a algazarra começou.

A 1200 m do nível do mar em meio a alguma neblina e a luz fraca do entardecer pude ver dois ou três picos acima de 2000 m e notar que todos estão com pouca neve, basicamente em encostas colos e depressões mais protegidos do sol e do vento. Apenas por volta do Natal as temperaturas caíram e nevou bastante. Desde então o clima está ameno. Não chegou a ser uma decepção pois no trajeto por estradas do interior e mesmo da cidade já era possível ver que falta neve neste inverno.

A edificação do refúgio é maior do que eu esperava, uma casa de dois andares mais um porão. Arquitetonicamente está longe de ser charmoso, mas oferece uma infraestrutura boa. O interior um pouco desorganizado é todo mobiliado e pode ser aconchegante. No andar térreo há uma sala para deixar as botas antes de entrar que tem a disposição sandálias de borracha. Dois banheiros com pia e patente (vaso sanitário), uma sala grande com lareira, bancos e mesas, e uma pequena cozinha equipada com fogão industrial de duas bocas, pia, armários e utensílios de cozinha, como talheres, panelas e pratos, completam o andar térreo. O porão serve de depósito e o andar de cima também tem dois banheiros, e está dividido em três quartos com beliches oficialmente com 40 lugares. Um gerador a diesel na parte externa do refúgio fornece energia elétrica e há água quente pelo menos na cozinha. Não parecia ter no banheiro apesar das torneiras de água quente existirem. Também não vi chuveiro, e para ser sincero, vi pouquíssimas pessoas indo ao banheiro para higiene pessoal, como lavar as mãos e escovar os dentes (não estou querendo insinuar nada).

Entramos no refúgio e ocupamos um dos quartos, com 12 lugares, exatamente do tamanho do nosso grupo onde deixamos as mochilas. Sem tempo para descanso nos reunimos numa mesa para retomar a aula. Mesmo com a lareira ligada estava frio dentro e boa parte do tempo fiquei com luvas de lã e com touca. Não fiquei sabendo a temperatura externa, mas a interna não passou dos 14 graus mesmo com a lareira a todo vapor. Nos quartos não tinha lareira e obviamente estava bem mais frio.

O tema para o resto do final de semana era orientação em montanha com uso de mapa e bússola. Não temo dizer que a aula não foi muito bem preparada, exceto por cópias do mapa da região onde estávamos, transferidor, escalímetro e bússolas. Porém foi muito boa, mesmo com a algazarra dos adultos e crianças que ocupavam a mesma sala. Como já tinha aprendido a maior parte do conteúdo no passado, foi bastante fácil entender em grego o que ele dizia e serviu como uma ótima revisão para o assunto e para lembrar coisas que já tinha esquecido. Ele explicou como fazer leitura do mapa, escalas, medir distâncias, estimativas de tempo e distância do percurso, como saber onde estamos com base em acidentes geográficos, como identificar acidentes geográficos sabendo onde estamos, entre outras coisas. Impressionante ver como as pessoas tem dificuldades com estas coisas, principalmente na parte matemática como escalas e estimativas de distâncias usando o conhecido triângulo de pitágoras. A Anastasía e a Lída que já tinham feito o curso ano passado e a primeira que está fazendo agora o curso intermediário praticamente refizeram o curso uma vez que não se lembravam de praticamente nada e mostraram as mesmas dificuldades os novos alunos. O último conteúdo do dia foi como planejar uma rota no mapa. Planejamos uma rota didática para ser seguida no domingo. Foram cerca de 5 horas de exposição, com duas pequenas pausas para descanso, mais uma meia hora para a janta, macarrão com atum no molho de tomate e salada.

Depois da janta, que foi muito boa, fomos fazer uma atividade com bússola no lado de fora do refúgio, numa região plana. A idéia do exercício era basicamente dado um ponto de partida e uma direção, desenharmos um hexágono e terminarmos no mesmo ponto. Fomos divididos em duas equipes de quatro pessoas. As distâncias foram medidas com duas cordas. Ingenuamente uma das cordas usadas foi a minha a pedido do Vangélis assistente. Sem saber bem para que seria usada a corda, mas achando que seria para ensinar algo a respeito de nós ou encordamento, levei a corda solicitada. Na hora do jogo ele pediu a corda e não consegui me sentir confortável em dizer que não, estragar o curso e criar um clima. O resultado foi uma corda de escalada completamente embarrada que tive que lavar ao chegar em casa e de onde tirei mais de 100 espinhos com pinça.

Durante o exercício me senti de volta ao escoteiro. Quando me dei conta eu já estava sendo arrastado pela corda na tentativa de completar o exercício o mais rápido possível. Meu grupo não entendeu muito bem o propósito do exercício (praticar o que foi aprendido na aula) e fez tudo correndo para ganhar a partida. No final das contas, só um usou a bússola, dois recolheram a corda e outro ficou de ponto de referência. O outro grupo levou 3 vezes mais tempo do que nós para completar o exercício, mas todos praticaram. Depois do exercício voltamos para o refúgio já passando de uma da madrugada, para deitar e acordar no dia seguinte as 7 horas da manhã.

Acordamos como combinado, mas logo veio a aviso de relaxar. Alguns adultos do grupo das crianças estavam dormindo sobre as mesas no andar de baixo e teríamos que esperar eles acordarem para descermos para tomar café e começar a aula. Ganhamos uma hora extra de sono.

Depois do café da manhã, com chá, pão, queijo, margarina e mel, nos aprontamos rapidamente para seguir o percurso planejado na noite anterior. A rota foi totalmente didática. Traçamos a rota a partir do refúgio passando atravessando uma estrada. Depois subiríamos até o pico de uma elevação de cerca de 150 a 200 m e para depois descer pelo outro lado e chegarmos na mesma estrada que cruzáramos antes. Dali seguiríamos por uma crista até um pico com cerca de 2100 m, o Kastro. Saímos os 12 para começar o exercício mas o mal tempo fez o Vangélis assistente, a Lída, a Anastasía e o Leonídas desistirem. A Vasúla deixou o refúgio cedo pois tinha que trabalhar. A chuva fraca não foi um problema até atingirmos o ponto médio do nosso trajeto, o pico da elevação. Depois disto o vento aumentou significativamente a ponto de nos desequilibrar e a chuva também; descemos sob péssimas condições. Chovia deitado e não demorou para minha calça não impermeável ficar encharcada. Logo minha bota começou a falhar na lingueta, antes da propria água que escorria pela perna ensopar meus pés. Quando atingimos novamente a estrada não continuamos a rota até o Kastro. Não sei bem se era isto o planejado ou se não continuamos por causa da forte chuva e vento. Mas o fato é que quando o professor disse que tínhamos terminado o exercício e nos saído muito bem, o Dimítri estendeu a mão para mim e gritou "Aeee Rodrigo", celebrando a aventura, que para mim foi só mais um passeio na chuva. mas foi muito legal ver a animação dele e também dos outros. Tiramos até foto.

Voltamos ao refúgio ainda sob chuva e vento. Na chegada foi engraçado ver o Giorgos pedindo a atenção para mostrar ele virando a bota dele como se fosse um caneco para mostrar a água caindo. Troquei apenas as meias, já que em menos de duas horas começaríamos a nossa descida. Enquanto isso, eu e outros na mesma situação ficamos plantados em frente à lareira secando. Fizemos toda a descida pelo mesmo trajeto da subida, sem chuva, a qual voltou forte logo que chegamos no carro.

De maneira geral o primeiro final de semana de curso foi bom. A parte teórica, principalmente a parte de orientação foi muito boa. Uma pena que não incluíram também o uso de GPS. A parte prática deixou a desejar, mas é fato que foi prejudicada pela chuva, razão pela qual descemos do refúgio por volta de 13h30, quanto o planejado era 16h00. De toda maneira a idéia é praticarmos mais um pouco nas próximas aulas, quando o planejamento de rotas deverá ser ensinado não apenas com base no mapa, mas também com base nas condições da montanha.

O grupo é legal. Todos parecem bastante entusiasmados. O Giorgos apesar de ter mais de 20 anos ainda é um pouco crianção e levou duas ou três mijadinhas legais sobre como se comportar em equipe. O Dimítris e o Yannis apresentaram alguma dificuldade em entender a parte teórica, principalmente o triângulo de Pitágoras, mas estão entre os mais capazes para realizar trabalhos em equipe. Imagino que o trabalho deles exija este tipo de atitude. Os demais também foram bastante simpáticos e todos foram bastante atenciosos comigo, preocupados em que eu entendesse as coisas ditas em grego.

Um aspecto que preocupa é o fato de estar tarde e a próxima aula ser apenas em meados de fevereiro com introdução a escalada. Depois apenas em março iniciaremos as aulas na neve, quando pode ser tarde e nem mesmo ter neve para o curso. Para piorar a situação fiquei sabendo esta tarde pelo Kostas que o Vangélis instrutor faleceu hoje por causa desconhecida em uma montanha na região central da Grécia, provavelmente em virtude de um ataque cardíaco. Uma pena, pois ele foi muito paciente e atencioso, e era alguém que realmente sabia do que estava falando. Potencialmente o cronograma irá mudar com um novo instrutor ou até mesmo haverá o cancelamento do curso.

Fiz pouquíssimas fotos, e publicarei mais fotos quando receber a que os outros tiraram. Desculpem pela extensão do texto, mas o objetivo é registrar isto para eu me lembrar depois, e olha que devo ter esquecido de vários detalhes "interessantes".

Link para o álbum de fotos desta publicação: Curso: final de semana 1

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Curso: Acertos finais

Como foi noticiado aqui por uma ou duas vezes, pretendia fazer o curso de escalada na neve ou melhor, o "curso de montanhismo de inverno". Semana passada, na quarta-feira, fui no clube de montanha para me associar ao clube e para os acertos finais com todos os participantes. Mais uma vez fui recebido pelo gentil Yanis com que acertei minha inscrição e conversei um pouco sobre o Brasil, antes de a reunião começar.

Dos cerca de 14 interessados apenas 10 confirmaram participação no curso. Um dos obstáculos para a participação de alguns foi o fato de o curso começar sábado de manhã, implicando que aqueles que trabalham aos sábados perderiam parte do curso. O outro obstáculo é o curso estar começando tarde, final de janeiro, e se estender até abril ou maio, quando estabelecimentos comerciais de verão já estarão abertos e estas pessoas ficariam impossibilitadas de comparecer ao curso. Apesar de eu achar interessante o curso ser oferecido anualmente por uma instituição de montanhismo, de certa forma o modelo comercial que corre paralelamente no Brasil (onde poucos clubes oferecem curso) chega a ser interessante, uma vez que o interessado tem a possibilidade de agendar o curso como lhe convier, a um preço maior, é claro.

Mas por alguma razão obscura o mínimo exigido é de doze participantes. Mesmo assim o curso vai acontecer exatamente igual como seria com o mínimo exigido, mas com o rótulo de seminário(!?!?!). A implicação é que os participantes do "seminário" não recebem o certificado de conclusão do curso. A princípio isto não é grave, já que me (nos) interessa aprender, e não ganhar um pedaço de papel. O problema é que sem o pedaço de papel não podemos participar de outros cursos que tenham este como pré-requisito. Para fazer o curso intermediário por exemplo, pouco importa se houve prática e aquisição de experiência entre um curso e outro, ou se a pessoa aprendeu o conteúdo básico com o melhor montanhista do mundo; se tiver o papel faz, se não tiver, não faz.... Em todo o caso, se eu entendi bem, se no ano seguinte houver o número mínimo de participantes o certificado será emitido também para os que participaram do seminário este ano (!?!?!).

No final de semana seguinte à reunião, e que agora já passou, aconteceu o primeiro final de semana de curso. Em breve publicarei como foi!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Sem as mãos"

Domingo foi dia de escalada. Só me dei conta do tanto que "escalei" quando cheguei em casa e a Anamaria com ares de "vais dormir no sofá esta noite" me revelou que já fazia praticamente seis horas desde que saíra de casa.

O destino foi o mesmo de quase sempre, o Monte Várdia. Tudo arranjado com o Vangélis que ficaria até as 15h00 e saíria para trabalhar, e com o Kostas que viria por volta de 15h00, depois do trabalho. Como o Kostas atrasou, entre 15h00 e 16h00 escalei com a Vassúla. Apareceram por lá também o Christos e o Vassílis, e cerca de outros 12 ou 15 escaladores que estão fazendo o curso intermediário de montanhismo e desceram de uma noite na montanha para praticar um pouco de dry tooling.

Com o Vangélis escalei a freguesa Louki Look (Vsup) e a seguir a Mávri (VIsup) em top-rope. A partir da Louki Look armamos um top-rope na Mikrá Mistiká (VIIa) para escalar a Kourdistós Portokális. Esta última, uma via de VI grau em um negativo de poucos movimentos com saída por um diedro de apenas um lance e segue por uma aresta. Depois de escalarmos estas três o Vangélis ainda tentou a Mikrá Mistiká sem sucesso.

A Vassúla guiou a Mávri depois de o Christos costurar a primeira chapeleta para ela. Em seguida escalamos a Zéstama (IV) e a Mi-nus (Vsup/VI). O vento e a pedra gelada deixaram a escalada um pouco mais difícil, um misto de dor mão ao mesmo tempo que não se sente a agarra.Assim que terminamos o Kostas chegou, com uma hora de atraso, e escalou estas duas vias em top-rope, enquanto a Vassúla foi bater papo com a turma do curso.

O Kostas está fissurado em conseguir escalar a Pedevousin Tékna (?), via que já comentei aqui algumas vezes, que se inicia negativa com umas arestas sem pegada, seguida de uma seção de regletes e um abaulado em negativo e mais regletes. Por conta disso fomos para a Sikiá para colocar um top-rope. Como estava cansado e com frio, resolvi não escalar e ficou para o Kostas guiar a Sikiá. Depois de um breve descanso, o Kostas iniciou as tentativas e eu fiquei de "treinador" dando os famigerados palpites. Depois de tentar dezenas de vezes a mesma coisa apesar das minhas orientações, o Kostas ficou cansado e parou para descansar sem nem ter passado o primeiro lance.

Com a sucessão de palpites elaborei uma teoria sobre como passar o lance e fiquei encucado se estava certa ou não. Como o Kostas se recusava (incoscientemente) a fazer como eu dizia, deixei a preguiça de lado e pedi a vez só para tentar aquele lance. Surpreendemente passei o lance com extrema facilidade e resolvi continuar. Acertei praticamente de primeira todos os lances e a falta de sensibilidade nas mãos fazia parecer que eu estava escalando sem elas. Resultado: encadenei a via em top-rope sem esperar por isso.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Gramvousa e a Lagoa de Balos

Sem sombra de dúvida, até o momento, o lugar mais bonito de Creta que visitei é Gramvousa e a Lagoa de Balos.

No extremo Noroeste de Creta está a península de Gramvousa com uma formação montanhosa que chega a cerca de 760 metros de altura com aclives acentuados em virtude da pequena distância entre o mar e o pico. A principal atração de Gramvousa é a paisagem espetacular formada pela Lagoa de Balos, uma praia em forma de lagoa com águas calmas e claras.

Estivemos em Gramvousa em duas oportunidades. A primeira foi em Julho de 2008, quando ciceroneamos o Mohammed, um Sudanês que veio à Creta para fazer um curso com o meu professor e se deu o direito de passear por aqui no final de semana após o curso. Auge do verão, íamos levá-lo à praia de Falássarna, também no Oeste de Creta. Há muito Anamaria e eu queríamos ir à Gramvousa, mas estávamos adiando inexplicavelmente e mudamos os planos repentinamente ao passarmos pelo Porto de Kissamos na "base leste" da península de Gramvousa e vermos que logo sairia um barco para a Ilha de Gramvousa e a Lagoa de Balos.

Foi com dor no bolso que pagamos cada um 22 euros pelo passeio que saiu por volta de 12 h e voltou por volta de 18 h com um hora para ir e outra para voltar, mas que valeu cada euro. Contornar a península de barco é espetacular. Um dos destaques é ver as marcas do nível da água no costão que sugerem que o lado oeste de Creta está se elevando com o passar dos (muitos) anos. A primeira parada foi na Ilha de Gramvousa que tem no topo um forte Veneziano e de onde se tem uma vista fabulosa tanto da ilha como da Lago de Balos. Depois de um hora de passeio pela ilha, o barco nos levou até a Lagoa de Balos para tomarmos banho de mar.

A segunda ida a Gramvousa foi no dia 28 de Dezembro de 2008. Recebemos um visitante canadense por meio do CouchSurfing, uma dessas redes de relacionamento para viajantes. François e eu pretendíamos fazer algumas caminhadas, mas o mau tempo impediu. Nem por isso deixamos de levá-lo em alguns lugares imperdíveis. Sob tempo nebuloso arriscamos por o nosso carrinho na estrada de terra de 7 km que leva até o início da caminhada para a Lagoa de Balos. A estrada estava em melhor estado do que eu esperava e fizemos o trajeto em 30 minutos. Depois de estacionar o carro, uma caminhada de cerca de 30 minutos por uma trilha bem marcada e barrenta nos levou à Lagoa de Balos. Mesmo com o tempo ruim e pegando uma garoa, a paisagem ainda é espetacular e tivemos a vista que em geral aparece nos guias turísticos e que ainda não conhecíamos. Passeamos rapidamente pela praia, pois os ventos que chegavam a 70 km/h não perdoavam. O lixo deixado pelos turistas se acumula pela praia, lamentavelmente.

Além de Gramvousa, estivemos com o François em Elafonissis, uma praia no extremo sudoeste de Creta, curiosamente mais famosa que Gramvousa, mas bem menos atraente, ainda que bela. O ponto forte de Elafonissis é uma ilha próxima afastada de 50 a 100 metros da praia que pode ser alcançada à pé, com água até a cintura.

(Passe o mouse sobre os sinais "<" e ">" para mover a foto 360º.)

Outro lugar espetacular em Creta fica na parte sul da região de Réthymno, próximo a Plakiás, é a praia de Préveli. Já escrevi aqui um pouco sobre o Cânion de Kourtaliotis por onde passa a estrada para Plakiás e Préveli. Este Cânion, que também é espetacular, desaparece brevemente em parte do trajeto formando um vale e depois volta a se formar para terminar na praia de Préveli, onde desemboca o rio que se forma dentro do cânion. É um praia pequena e pedregosa, com algumas palmeiras, mas muito bonita e agradável mesmo no verão, quando fica abarrotada de turistas. Nem a chuva durante a visita do François conseguiu estragar o encanto deste lugar, que nos agraciou com um arco íris completo sobre a praia.

O texto já ficou longo demais, as fotos mostram o que interessa!
(As fotos com o tempo ruim foram tiradas nos dias que o François esteve aqui, as com tempo bom, em outras oportunidades).

Link para o álbum desta publicação: Gramvousa e a Lagoa de Balos

Obs.: foto panorâmica editada com Panorama Perfect Lite e exibida com um script de Andreas Berger.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Negativo

Aqui em Creta já tinha escalado um pouco em vias negativas ou vias levemente negativas e em algumas delas não me saí muito bem. Mas não dei muita bola, pois as vias estão aqui do lado e terei outras oportunidades de escalá-las, por enquanto pelo menos.

Em Rhodes, abandonei a via Fournos, graduada relativamente baixa, simplesmente por não estar preparado para escalar negativos e talvez por não ter aquecido apropriadamente. Obviamente não fiquei abalado, mas para não perder outras oportunidades que podem surgir, resolvi tentar escalar negativos com mais frequência, para ir aos poucos me fortalecendo e pegando a manha.

Final de semana passado escalei no sábado (primeira escalada de 2009!) e no domingo no Monte Várdia. Sábado fui por meia hora já no entardecer, aproveitando uma janela de bom tempo. Apenas com sapatilha, capacete e magnésio, tentei vários boulders e brinquei bastante na parte de tetos. Domingo voltei com o Kostas e escalamos a Louki Look (guiando) e a Mikrá Mistiká (em top-rope), esta segunda uma via levemente negativa e bem técnica por volta do 7a com agarrões no início e poucas agarras no final. A chuva nos impediu de escalar mais vias e aproveitamos para dar mais uma brincada na parte de tetos.

A Anamaria me fotografou no primeiro dia e fez umas filmagens.


Link para o álbum de fotos desta publicação: Negativo

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Natal em Rodes

A ilha de Rodes é a maior entre as que formam a região grega do Dodecaneso, onde está também a ilha de Kalymnos, um dos paraísos da escalada em rocha. A cidade de Rodes, com o mesmo nome da ilha, é mundialmente famosa por ter abrigado uma das sete maravilhas, o Colosso de Rodes. Destino de milhares de turistas todo o ano, Rodes é recheada de história e possui a maior cidade medieval habitada da Europa onde, no passado, viviam os cavaleiros. Além dos diversos sítios arqueológicos espalhados por toda a ilha, paisagens de tirar o fôlego e praias, Rodes oferece alguns setores de escalada.

A aventura começou dias antes da ida para Rodes, quando fui acessar o site rock climbing in rodos greece e descobri que estava fora do ar. Antes que o arrependimento por não ter salvado o conteúdo do site na primeira vez que o visitei tomasse conta, tentei recuperar o site em algum cache. Consegui recuperar quase 100% do site, exceto por algumas figuras, usando o Warrick, uma interface para o archive.org.

Tendo encontrado as informações necessárias para chegar aos setores de escalada, a aventura continuou na hora de fazer as malas. Íamos eu e minha esposa, cada um com direito a 12,5 kg de bagagem. Sem disposição nenhuma a pagar 3 euros por cada kilo excedente, começamos os cortes. Reduzi o equipamento ao mínimo tirando todos os sacos de pano que uso para organizar o equipamento e também o saco de cordas. Levei 8 costuras (contra 10-12 indicadas no site), dois mosquetões Pêra, um ATC, 4 fitas, um cordelete, duas cadeirinhas, dois capacetes, um par de sapatilhas, saco de magnésio, quatro mosquetões de rosca, a corda (70 m x 10,2mm, que sozinha pesa 5 kg) e a mochila. Talvez ainda tenha levado muito equipamento, mas fechou 11 kg de equipo. Os outros 14 kg de roupas e acessórios também precisaram de cortes, a maioria deles sem aprovação da Anamaria.

Saímos de Chaniá para Heráklio de carro por volta de 5h45 do dia 22/12/2008, segunda-feira, sob forte chuva, raios e trovões. No aeroporto de Heráklio soubemos que desperdiçamos 100 gramas de espaço na bagagem e a seguir conhecemos o teco-teco que nos levaria para Rodes. Uma lata de sardinhas para cerca de 20 pessoas, um pouco maior que uma Van - impossível não ficar nervoso. Apesar do mau tempo o vôo foi bom e durante toda a viagem pudemos acompanhar o trabalho dos pilotos, já que a cabine ficou aberta durante todo o trajeto.

A chuva da chegada durou apenas um dia e desapareceu empurrada por ventos fortes do Norte que trouxeram o sol e também temperaturas baixas. Os três primeiros dias foram dedicados ao turismo e visitamos os principais sítios arqueológicos e paisagens da ilha. O tempo claro permitiu ver montanhas nevadas na vizinha Turquia e também belas paisagens por toda a ilha. No terceiro dia passamos rapidamente por Siana onde está um dos setores de escalada de Rodes. A parede é bastante bonita e está dentro da vila, separada das casas por oliveiras e pinheiros. Não fui ver a parede de perto, mas ela conta com cerca de nove vias, do VI ao VIII grau, equipadas com recursos da Associação Hoteleira de Rodes.

O quarto e último dia foi, para mim, o mais esperado. Ainda em fase de recuperação de uma ceia de Natal farta em uma taverna tipicamente grega, acordamos cedo no dia de Natal e aproveitamos o sol para fazer umas fotos das muralhas da cidade antiga. Na sequência nos dirigimos para a baía de Ladiko, cerca de 16 km a sudeste de Rhodes. Este deve ser o principal setor de Rodes, com o maior número de vias e está divido em quatro pequenos setores. As instruções de como chegar foram precisas, apesar de uma das placas usadas como referência estar quebrada. De fato, o site parece bastante desatualizado pois o número de vias em Ladiko é maior do que indica o site. Paramos o carro no final de uma estrada de terra e seguimos caminhando por uma trilha bem marcada, provavelmente também usada por turistas e pastores. Em poucos minutos vimos o primeiro setor do qual não me aproximei pois oferecia apenas uma via de VI e as outras 12 com graduação mais elevada e eu queria vias mais fáceis.

De lá já podíamos ver uma caverna grande e outra parede que abriga as vias mais fáceis. Seguindo em direção a elas, aparece repentinamente a caverna pequena que conta com duas vias. Não resisti à tentação e brinquei um pouco no início de uma das vias. Depois do aquecimento tocamos para o setor com as vias fáceis. Todas as vias são identificadas com os nomes pintados na base. Contei quatorze ao todo, contra oito indicadas no site. Bem grampeadas, terminam em correntes e algumas possuem próxima a base uma chapeleta para o segurança se ancorar. Dezesseis vias do setor foram abertas com patrocínio de um hotel.
Seduzido pela caverna um pouco mais acima, segui o caminho pedregoso para conhecê-la e tentar a primeira via no setor, a Fournos, um VIsup. Meu desdém pela graduação da via logo me derrubou, não estava preparado para escalar um negativo e desisti desescalando enquanto meus braços tijolados ainda permitiam. Escalei outras duas vias de V e Vsup no setor de baixo e ambas tinham apenas sete proteções, ufa! Ambas começam com um rampão e depois continuam na vertical rica em agarras e com o crux em lance negativo. O rocha é um calcário bem cortante e abrasivo semelhante ao encontrado em Plakiás e outras regiões de Creta. A novidade portanto foram as caverninhas, muito semelhante ao que vemos nas fotos de Kalymnos, bastante lisas em alguns pontos e com estalactites.

Já cansados e com fome voltamos para o carro para fazer um lanche e seguir o passeio. No caminho de volta passamos rapidamente por outro setor de escalada em Kalithéa. Próxima à estrada em um descampado junto à algumas oliveiras, uma pequena formação rochosa oferece diversos problemas de boulder em paredinhas negativas e com bastante agarras. O curioso foi chegar e ver mais uma vez a numeração dos boulders (como as vias aqui em Chaniá) e também pontos azuis marcando as agarras dos problemas. Tentei alguns e fiz algumas fotos antes de seguir adiante. Próximo à área turística de Kalithéa, o lugar parece ser frequentado por campistas e festeiros durante o verão, dada quantidade de garrafas e latas de cerveja e lixo em geral na área de escalada, uma pena.

Por fim passamos rapidamente no setor do vilarejo de Kóskinou e só fotografei a pequena parede que oferece poucas vias a serem escaladas em top-rope. Como acontece em todo o lugar, casas foram construídas na base da pedra, dificultando o acesso.

Faltou conhecer o setor de Gadouras um pouco mais longe que só oferece três vias de grau elevado, mas de acordo com o site é uma bela paisagem com um pequeno rio próximo às vias.

Andamos por vários lugares de Rhodes e é difícil de acreditar que já não existam mais setores e mais vias dada a quantidade de pedras na ilha. O site parece bastante desatualizado, sendo que há pelo menos mais 6 vias em Ladiko não listadas. Entrei em contato com o autor para informar que estava fora do ar e até ofereci hospedar o site. Ele respondeu rapidamente dizendo que iria contatar o administrador do servidor, mas até agora o site continua fora do ar.

Na noite do dia 25, empacotamos de novo toda as bagagem e no dia seguinte voltamos para Creta com o mesmo avião e a mesma tripulação em mais um vôo emocionante.

Para quem gosta de história e praias (no verão, é claro) Rhodes vale à pena, e se gosta de escalada, ainda quebra um galho muito bom.

Link para o álbum desta publicação: Natal em Rodes

Fotos de Rhodes: Flickr da Anamaria (enquanto as fotos não forem sobrescritas)