sábado, 13 de dezembro de 2008

4 dias

Uma chuvinha infernal chegou arrasando neste final de semana. No meio da tarde a chuva parou e deu um pouco de chance para o sol. Às quatro em ponto comecei a arrumar o equipamento e consegui convencer a Anamaria a sair do aconchego da casa e ir comigo ao Monte Várdia. Tínhamos em torno de uma hora antes de o sol se pôr. Resultado: consegui escalar as vias Dulfer (VI) e Tottis (VIIa).

Dulfer (VI): fiz o crux dela em top-rope no dia em que conheci o Kostas. É um diedro com uma fenda que dá acesso à vários degrauzinhos planos que servem de agarras sem pega. Desta vez pareceu bem mais difícil, passei um veneno. Tentei de várias maneiras e acabei saindo pelo lado contrário ao da outra vez. Depois do crux ela tem uma seção de degraus e se transforma numa aderência com poucos regletes. Deixei um top para a Tottis.

Tottis (VIIa): o início bastante fácil oculta o que está por vir. Repentinamente as agarras somem e é necessário dominar um platôzinho usando uma aresta em curva. Depois do platô inicia um lance de aderência com poucos regletes, um par de bidedos e muito equilíbrio. Foi pancada e vou ter que fazer top-rope muitas vezes antes de encarar.

Minha sapatilha Trinity da Snake que já era. As tiras de velcro estão detonadas e o solado de um dos pés furou. Vou ter que usar a minha Anhangava da Snake até sair a viagem para Paris onde pretendo adquirir uma nova.

Aproveitando a disponibilidade de parceiros e a "greve" na universidade quebrei o recorde de escalar quatro dias consecutivos. Voltei ao Monte Várdia nas tardes de Domingo, Segunda e Terça-feira.

No Domingo escalei com o Kostas que logo foi embora, e com o Yorgos e a namorada dele, a Kália. Escalamos a Look Louki, a A Mávri e Mi-Nous.

Na segunda escalei com o Giorgos, como o Kostas e o Vangélis, e amarelei guiando na Triferotites, e depois fiz em top.

Na terça escalei com o Vangélis e aquecemos na Look Louki e depois nos detonamos num top-rope na H Pili, um negativo violento com agarras cortantes. Na sequência tentei até o crux a Adelfopiisi.

Só para deixar registrado, vi um cobra no domingo quando cheguei de carro, mas não consegui identificar qual era. E durante a semana passada o Yorgos e o Kostas viram um escorpião.

Link para o álbum desta publicação: 4 dias

Alto astral

Alto astral, foi esta a expressão, ainda que meio cafona, que encontrei para descrever em poucas palavras a minha primeira atividade junto ao Clube de Montanhismo de Chaniá.

Domingo, 30/11/2008, acordamos por volta de 6h30, tomamos café da manhã e enquanto a Anamaria preparava dois sanduíches para eu levar, me vesti e arrumei as coisas na mochila, que já separara na noite anterior. Além dos sanduíches, levei, 1,5 litros de água, bergamotas, peras, bolacha salgada e chocolates.

Fui andando de casa até o clube, o ponto de encontro, em menos de 10 minutos. Cheguei, 7h45, 15 minutos mais cedo da hora marcada e fui o quinto a chegar (considerando que até sexta-feira 48 já tinham se inscrito, é espantoso). Cumprimentei timidamente os que já estavam ali esperando. Aos poucos a turma foi chegando e não parava mais de chegar gente, parecia uma procissão. Os dois ônibus, um grande e um pequeno, chegaram com 5 minutos de atraso e já fomos entrando. Os últimos inscritos chegaram por volta de 08h15, e para a alegria de 3 ou 4 que não tinham se inscrito, nem todos vieram, e sobraram algumas vagas nos ônibus que deveriam ter ficado lotados.

A moda era variada dos pés à cabeça, desde roupas anos 50 e cajados de madeira, até a última tecnologia em vestuário e bastões de caminhada, além de alguns nitidamente despreparados com calçados que não servem nem para passear no centro.

Com 20 minutos de atraso saímos, eu no ônibus grande, tendo ao meu lado o único assento vazio de todo o ônibus. Logo deixamos a cidade e seguimos oeste pela Estrada Nacional e depois para o sul em direção à Spina. Enquanto isso, o responsável foi passando de assento em assento para cobrar a inscrição e registrar o nome da pessoa para conferência na hora de irmos embora.

Mal deixamos a Estrada Nacional, as oliveiras começaram a dominar a paisagem irregular, e assim continuou enquanto subíamos as montanhas pelas típicas estradas finas que serpenteiam o interior de Creta. Quando contornávamos algum vale, eu podia ver ao longe o ônibus menor bem à frente, já do outro lado. Aos poucos a vegetação foi mudando e entre as oliveiras podia identificar em outras árvores as cores do outono, copas totalmente amareladas. Demorou cerca de 1h30 até chegarmos ao acesso à Spina, onde o ônibus parou. Um pouco antes de chegarmos, recebemos as instruções de como seria o passeio, inclusive que nós, do ônibus grande, teríamos que caminhar um pouquinho mais do que os outros. A estrada fica menor ainda e apenas o ônibus pequeno pode prosseguir.

O ambiente abafado destes ônibus modernos em que não se pode abrir a janela costumam me deixar enjoado e desta vez não foi diferente. Desci do ônibus com as pernas tremendo e fui agraciado com o ar fresco da montanha para logo me restabelecer.

Spina fica a 7 km de onde paramos e prosseguimos a pé o quanto conseguimos até encontrarmos o ônibus pequeno que voltou para nos pegar. Andamos bons 3 ou 4 km antes que o ônibus chegasse, e vale dizer que preferia ter continuado a pé. Andar de microônibus numa estradinha sinuosa pouco mais larga que ele próprio à beira de um cânion foi assustador. A caminhadinha valeu pela beleza do local, dominada por pedras e arbustos, com algumas criações de abelha.

Paramos um pouco antes de Spina onde deveríamos encontrar o resto do grupo que não estava ali. Aparentemente sete membros do clube de montanha eram os responsáveis por este passeio, quatro estavam no ônibus grande e três no outro, cada um deles equipado com um Talk-about. Os do primeiro grupo estavam com os deles ainda desligados. Por meio do motorista, soubemos que eles tinham ido até o vilarejo para tomar café, e resolvemos prosseguir sem eles.

Desde Spina a paisagem já era exuberante e o passeio consistia em descer um vale até chegar no cânion de Agios Eirineos, para depois seguir até a estrada para Kantanos onde o ônibus nos pegaria de novo. Assim foi!

O número espantoso de pessoas, cerca de 70, parecia um absurdo, mas o grupo andou bastante disperso e sem as gritarias que poderia se esperar de um grupo deste tamanho. Além disso toda a caminhada foi por uma estrada não pavimentada. Havia gente de todas as idades, inclusive crianças bem pequenas (os pais as carregaram em mochila apropriada), mas predominavam pessoas com mais de 50 anos.

Pouco posso dizer sobre a descida pelo vale, melhor ver as fotos. Quando chegamos na garganta, cruzamos um leito seco de rio e a partir daí o seguimos hora de um lado, hora de outro. Não havia mais oliveiras e a vegetação parecia de fato "natural". As paredes de pedra e as árvores faziam a sombra necessária para não sentirmos calor apesar do ar fresco. O caminhada não possui nada de excêntrico, exceto uma caverna enorme no alto do morro, que parece ter sido fechada com madeira e telas de arame.

Em pouco menos de 2 horas de caminhada, em ritmo lento, os primeiros começaram a chegar à Igreja de Agios Eirineos, o ponto de descanso. A igrejinha é bem desinteressante, mas o lugar é historicamente importante. Como aconteceu em outros lugares de Creta, este foi um dos pontos da resistência cretense contra os alemães na Segunda Guerra Mundial. Munidos basicamente de facas/facões, pedras e pedaços de pau, e tirando proveito da geografia local, conseguiram resistir à ocupação e mataram uns tantos alemães. Como forma de vingança os alemães atearam fogo na cidade de Kantanos mais abaixo, que foi totalmente destruída. No local onde existiu e agora existe novamente a cidade, deixaram placas de mármore onde está gravado em alemão e grego algo como: "Aqui existiu Kantanos, destruída em retaliação ao assassinato de 25 soldados alemães".

Durante o descanso na igrejinha foi o primeiro momento em que tive a oportunidade de interagir com as pessoas (eu fui o único a ir sem a companhia de um amigo). Algumas me ofereceram frutas ou castanhas. Falei com o Ioannis, o senhor que me recebeu diversas vezes no clube, com um professor da universidade e com algumas crianças que não davam bola para o fato de eu não entender muito bem o que elas diziam.

Depois que todos estavam reunidos e alimentados dois ou três aproveitaram para subir na mureta e fazer um discurso a respeito do local, falar das atividades do clube e revisar o planejamento a partir dali.

Conforme planejado primeiro seguimos em direção a Kantanos pela estrada antiga para vermos uma pedreira que está destruindo a região. A estrada foi toda construída com muros de pedra perfeitamente alinhadas com um capricho difícil de se ver hoje em dia, apesar dos avanços em técnicas e maquinário. A pedreira por outro lado, mostra que o progresso custa caro e ao que parece as coisas por ali não estão exatamente dentro da lei. Já foram feitas várias denúncias inclusive na TV, mas de nada adiantou. Nas fotos que tirei, apenas um porção da pedreira aparece, mas ela é muito maior e já afeta parte da garganta por onde seguimos mais tarde para ir até a estrada nova que leva a Kantanos (ver fotos).

No caminho tivemos o "prazer" de ver uma cobra leopardo, considerada por alguns a mais bonita de Europa. Consegui uma foto meia boca e vi uma louca fazer carinho nela e quase levar uma mordida.

Depois do breve desvio para ver a pedreira, voltamos para a igreja de onde tomamos o rumo correto. Estes três últimos quilômetros, os únicos de subida, fiz na companhia do Ioannis e aproveitei para conversar sobre o clube. Basicamente falamos das receitas (financeiras) do clube. O clube sobrevive as custas das mensalidades dos seus sócios, 30 euros por ano, pelo valor arrecadado com os passeios, de materiais promocionais e do aluguel dos refúgios para grupos. Os passeios acontecem todos os finais de semana e neste que fui cobraram 20 euros dos não sócios, 15 dos sócios e 10 das crianças. Foram 70 pessoas, ou seja, supondo que o valor médio foi 15 euros, arrecadaram uns 1000 euros num único final de semana. Não faço idéia de quanto gastaram para alugar os dois ônibus, mas dúvido que tenha chegado perto deste valor. Para mim é caro mas ao que parece para os outros não é. A arrecadação com materiais promocionais é baixa, como já aconteceu na ACEM e provavelmente em outros clubes brasileiros, o mesmo cara que reclama que a camiseta a 12 reais (que custou 10 para o clube) é cara, compra uma de marca por 20 ou 30 reais sem pestanejar.

Mas ao que parece, o dinheiro é muito bem empregado. Já escrevi em outras oportunidades que eles possuem dois Defender e sede própria (e grande) no centro da cidade. Eles mantém também 4 refúgios de montanha, cada um com lugar para mais de 20 pessoas e totalmente equipados, inclusive com beliches e roupa de cama. No ano que passou o clube "faliu" pois gastou cerca de 40 mil euros (sim, quarenta mil euros) para refazer um dos abrigos. Este abrigo era todo de pedra e a ação do tempo, principalmente as mudanças de temperatura, estava causando a destruição do mesmo. Eles reconstruíram o abrigo. Como o local só é acessível a pé, o material foi levado de helicóptero. Temos muito o que aprender com eles!

Voltando ao passeio, a conversa foi encerrada com a chegada ao ponto final, onde os ônibus nos esperavam. Fomos levados a Kantanos para o almoço.

No trajeto de cerca de quatro kilômetros o responsável aproveitou para agradecer a todos, para comunicar os próximos eventos e também para celebrar o fato de que as 70 pessoas reunidas ali e mais 30 crianças que foram para outra atividade, significava que o clube conseguiu, naquele final de semana, ter 100 pessoas mais perto da natureza. É claro que não é sempre assim, as pessoas mostram de fato uma preocupação com a natureza, e ao que parece, com muito menos hipocrisia do que vemos de muitos no Brasil.

Chegamos à Kantanos e a maioria foi para as tavernas (restaurantes). Como não queria gastar e levara meu próprio almoço, fiquei na praça aguardando por quase 2 horas antes de voltarmos a Chaniá! O passeio foi ótimo, todos em paz e se divertindo, apreciando a natureza e confraternizando com os amigos. Mas acho que o que eles queriam mesmo era no final do passeio, ir se empanturrar numa taverna!

Link para o álbum desta publicação: Alto astral

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

The Climb

Na publicação do último final de semana esqueci de comentar que no sábado à noite fomos num bazar de Natal promovido pelo The Cretan International Community of Chaniá. O que isto tem a ver com escalada? Praticamente nada, mas no bazar tinha um sebo vendendo diversos livros e entre eles a Anamaria achou o livro The Climb (A Escalada) do Anatoli Boukreev e do G. Weston De Walt, a respeito do qual escrevi brevemente dias atrás. Quanto custou? 1 € (um euro).

O livro, já numa edição do estilo bestseller (pelo menos o nome dos autores não está maior do que o título) não está nas melhores condições pois é em papel jornal (?) e está bem envelhecido. Mas tem todas as páginas e não está riscado. As fotos são em preto e branco e não sei se coincidem com as fotos da edição que tenho em português, mas pelo menos nenhuma legenda de foto (P&B) se refere a cores de roupas.

Folheei o livro e li alguns trechos, coincidentemente aqueles em que os autores rebatem as críticas feitas por Krakauer, bem "quentes". Vou retomar do começo para relembrar este ótimo relato e praticar um pouco (na verdade bastante) o inglês. Mais uma vez recomendo a leitura. Tenho a edição em português em casa que pode ser tomada emprestada com meu irmão caso alguém que não tenha lido se interessar!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sexta, Sábado e Domingo

Sexta-feira
Liguei para o Vangélis Stavroulákis, instrutor de montanhismo para saber detalhes sobre o curso. Ele foi muito gentil e acha que não há problema de eu fazer o curso, inclusive outro estrangeiro que também não sabe grego muito bem também pretende fazer.

O curso vai durar 7 finais de semana de janeiro a abril. Cada final de semana o grupo irá para algum refúgio para ter as aulas. O material utilizado será fornecido pelo clube, cadeirinhas, crampons, piolets, capacetes...

Na próxima quarta-feira haverá uma reunião com os interessados. Há preferência para pessoas na lista de espera do curso do ano passado, depois para os demais presentes. Se sobrarem vagas, o clube vai anunciar.

Para se inscrever é obrigatório ser filiado à algum clube de montanha. A rigor eu poderia me associar por ser membro da ACEM (apesar de não ter pago a última anuidade, se é que existiu), mas vou me filiar ao clube local de qualquer maneira. Também verei o que é necessário para obter o atestado de saúde. Os participantes do curso recebem um certificado da associação nacional. Quarta saberei mais detalhes, se existirem, e se poderei fazer ou não.

Sábado
Fui buscar a Anamaria na feira e encontrei o Apostólis. Fiz que nem grego e parei o trânsito para bater papo, uma vergonha :7). Falamos rapidamente, mas ele me contou que nas últimas semanas abriram quatro novas vias em Thérisso e que é para eu dar uma ligada para irmos lá...

Depois disso e do almoço, fui com o Kostas para o Monte Várdia no final da tarde. Escalei a Mi-nous. Já tinha escalado ela várias vezes em top-rope depois de guiar a Zéstama, mas nunca tinha tentado guiar. Fiquei surpreso, saiu sem problemas. O Kostas também nunca tinha guiado esta via e passou um veneninho no crux, e acabou segurando na expressa, mas também ficou contente com a evolução. Estava tarde e guiei a Sikiá, e pela primeira vez a encadenei sem segurar na árvore! Armei um top-rope para a via do lado, a Pedévousin Tékna. Desci, e para não perdermos tempo fui direto. Passei o lance incial que é bem difícil e entrei no crux mas não consegui sair. O Kostas foi em seguida e depois de várias tentativas quase passou o crux. Já era noite e ele subiu a Sikiá em top para retirar a ancoragem.

DomingoNo sábado deixei pré-combinado com o Kostas de ir a Plakiás, mais especificamente em Kalipso, se fizesse tempo bom no domingo. Ele me ligou por volta de 10h00 e eu ainda estava dormindo, uma vergonha. Acordei e arrumei minhas coisas. A Anamaria não quis ir desta vez. Saí de casa 11h30 e levei uma hora e meia até lá. Cheguei e já tinha a maior raça. O Kostas e a irmã dele, a Mariana, a Anastasia que eu já conhecia, e dois caras que eu ainda não conhecia, o Giorgos e o Vangelis. Logo depois de mim chegaram o Giorgos (que eu já conhecia), que por sinal tinha me ligado na sexta para ir escalar em Kalipso no sábado, e a namorada. Mais tarde chegaram também o Vangelis (o instrutor) e uma menina que esqueci o nome. Todos, exceto os dois Vangelis e eu, fizeram o curso com um dos Vangelis no ano passado.

Praticamente fiquei de dupla com o Kostas e escalei as outras seis vias (n. 7 a n. 12) que eu não tinha escalado da outra vez. Exceto a via 12 que é um pouco mais difícil e machuca bastante as mãos com um crux no negativo, todas tem um nível semelhante em torno de Vsup e são boas de escalar. A via 11 fica numa parte acidentada da pedra com bastante pedras soltas e é pouco atraente. Todos foram bastante simpáticos. Parece que finalmente conheci um grupo legal de ir escalar e que me ligam para dizer que estão indo. Fui embora antes de todos, pois já estava anoitecendo.

Link para o álbum desta publicação: Sexta, Sábado e Domingo

sábado, 29 de novembro de 2008

Curso de Escalada na Neve

Quinta-feira passamos pela rodoviária da cidade e, por acaso, a Anamaria viu um cartaz divulgando um curso de escalada na neve que vai acontecer em breve. O Kostas já tinha me dito que ia acontecer um curso e tinha ficado de me avisar quando soubesse mais informações. O instrutor é o mesmo do cartaz de curso de escalada em rocha que vimos no verão, mas desta vez ele está sozinho na parada. Ele que deu o curso de escalada para o Yorgos e o Kostas no inverno passado. Se for nos mesmos moldes, compreende escalada em rocha e na neve. Aproveitei a passada no clube de montanha ontem para perguntar se conheciam o instrutor e se ele era qualificado. Não deram qualificações, mas disseram que posso confiar, que ele é um montanhista experiente e membro do clube. Estou pensando em fazer e vou entrar em contato com o instrutor na próxima semana. O grande problema é o número de dias, 18 dias entre 13 de dezembro e 19 de abril. Além disso verei o preço, o material necessário e, claro, se tenho condições de acompanhar o curso em grego!

Abaixo da foto, uma tentativa de tradução do que diz o cartaz.

ESCOLA

DE ALPINISMO
EM MONTANHA NEVADA
2009

O curso inclui aulas teóricas e práticas,
ascenção em montanha nevada,
escalada e aplicação prática geral
do mencionado acima.

Destinado a pessoas saudáveis independente de experiência anterior
em alpinismo, acima de 18 anos.

Início 13.12.2008 - Encerramento 19.04.2009
Duração total de 18 dias

Para maiores informações e inscrição:
Ztavroulaki Vangelli: cel. 6932417040

Enquanto isso, no clube de montanha

Depois de um longo "recesso" voltei finalmente ao clube de montanha de Chaniá. Acompanho as atividades deles pelo site, que divulga todo o calendário e ainda permite inscrição pela internet nas atividades (ver link ao lado). A atividade deste final de semana, por ser fácil e por eu estar mais entusiasmado em começar a participar do clube, me interessou. Assim, planejei ir lá na sexta-feira à noite.

Muita coincidência que no mesmo dia acabei encontrando o Yannis, o senhor que me recebeu no clube da outra vez, no correio. Conversamos um pouco e ele insistiu que eu fosse no clube mais tarde. Eu já ia mesmo...

A Anamaria me deixou no clube por volta de 21h40 e fiquei por lá uma meia hora. Nada de muito diferente. Várias pessoas, todas com mais de 40 anos (frouxo), sem nada para fazer. O Yannis não pode me dar muita atenção, pois estava em função de inscrever as pessoas que ligavam ou que apareciam para se inscrever na caminhada de domingo. Também me inscrevi e já eram 48 pessoas até aquela hora!?!! Depois publicarei detalhes da caminhada.

Havia também um pessoal discutindo sobre a colocação de algumas placas (coisa de primeira) que eles prepararam para colocar no local de algumas caminhadas. Poucas pessoas se interessaram em interagir, exceto por uma mulher que puxou um pouco de papo para saber com mais precisão de onde eu era.

Desta vez fiz algumas fotos do interior do clube (ver álbum) . Além da sala que fotografei o clube tem pelo menos mais duas salas do mesmo tamanho, móveis e uma TV 29". Fotos, prêmios, homenagens e equipamentos antigos decoram o clube, que foi fundado em 1930.

O Yannis me presenteou com um DVD produzido pelo Estado sobre turismo no interior de Chaniá e com um livrinho descrevendo os caminhos do European E4 Path na área de Chaniá, a respeito do qual farei também uma pequena publicação.

Me informei um pouco sobre caminhadas, mas sem ir com alguém que conhece pode ficar complicado. No inverno as gargantas só podem ser atravessadas sem não houver neblina e se o tempo se mantiver estável, sem chuva e neve por alguns dias (pouco provável no inverno). Eles pretendem publicar um livro com outras caminhadas fora do E4 Path, mas não têm previsão de quando isto acontecerá.

Agora fico na expectativa de como vai ser a experiência de fazer uma atividade com o clube!

Link para o álbum desta publicação: Enquanto isso, no clube de montanha

domingo, 23 de novembro de 2008

Sessão Cinema

Entre uma chuva e outra até daria para ter escalado um pouco nestes três dias de feriadão, mas fui pego de surpresa por uma gripe. Sem poder sair da casa, resolvi terminar de ver o último dos quatro filmes que o Cristiano, gentilmente, me enviou pela Anamaria.

O primeiro deles foi sobre a escalada da Esfinge na Cordillera Blanca no Peru pelo Marius. Apesar de mostrar pouco a(s) escalada(s), o filme é legal e tem um bom equilíbrio entre cenas que interessariam mais a montanhistas e cenas que interessariam mais a um público geral. Muito legal ver a sensibilidade de mostrar também imagens do povo peruano, do mercado público e da cidade. Vale a pena assistir.

O segundo filme foi o Cariocando, que fala um pouco da escalada no Rio de Janeiro. Já tinha visto, mas vi de novo e achei o filme chato as duas vezes que vi. Inegável que as escaladas do Rio de Janeiro são demais. O filme tem um formato meio de documentário mostrando como evoluiu a escalada no Rio de Janeiro com entrevista de alguns ícones da escalada carioca. Triste foi ter que ouvir o Pita dizendo que no Rio é só pegar a bicicleta e em 15 minutos se chega na Urca e que em nenhum lugar do mundo acontece algo assim. Nem vou comentar.... Assistir não vai matar ninguém e vale a pena, mas me surpreende o sucesso que este filme fez.

O filme seguinte foi o Ritmo Latino. Possivelmente o filme de escalada mais chato que já vi na minha vida. Um grupo de escaladores metidos a engraçados fazendo um flime sem graça na montanha. A música é chata também. A única coisa que vale no filme são algumas imagens do Cerro Torre, sempre imperdíveis e muita bem feitas. Minha sugestão é assitir com o mute ativado e usar de vez em quando o fast forward. O final é perdível, quero dizer, a hora que começar o entra e sai do iglu, pode parar de ver.

Finalmente o mais esperado e último filme é o Terra de Gigantes, sobre a escalada do Mariuzinho na via de mesmo nome, a via mais difícil do Brasil (A4) e pela primeira vez repetida por uma equipe que não contava com nenhum dos conquistadores. Nunca vi este filme por inteiro, só algumas partes em eventos de escalada da ACEM onde cedo ou tarde me interrompiam. O filme parece legal, mas não posso comentar, pois o DVD não funcionou...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Instinto de montanha

De sábado à noite a domingo de manhã a previsão mudou completamente. A chuva e as trovoadas que deveriam ter chegado só no final da tarde já se escutavam antes das 08h00 da manhã. Pretendia ir à Kalipso (ao sul de Réthymno) de novo e a previsão para Réthymno (no norte) era de chuva apenas no final da tarde. Depois de muita indecisão resolvemos arriscar e por volta de 11h00, sob chuva, saímos.

Logo ao sair de Chaniá uma pequena melhora no tempo esquentou os ânimos que logo foram por água abaixo a medida que nos aproximávamos de Réthymno e a chuva não parava. Quando chegamos na primeira entrada de Réthymno a chuva era forte (só deveria chover no final da tarde), e perguntei para a Anamaria se continuávamos ou não. A decisão caiu sobre minhas costas e não sei bem o que me fez continuar, talvez um instinto de montanha que me dizia que depois das montanhas, no litoral sul, as coisas poderiam estar diferentes.

Enquanto subiamos as montanhas o tempo piorava na mesma taxa, mas de lá começávamos o ver um clarão amarelado na direção Sul. Passamos de novo pelo cânion de Kourtaliótis entre nuvens e uma garoa substituiu a chuva quando o deixamos. Logo já podíamos ver o mar e algumas montanhas iluminadas pelo sol nos arredores e Plakiás. A apenas cerca de 6 km do setor de escalada é que a chuva definitivamente parou e o asfalto já mostrava sinais de que estava secando rapidamente.

Chegamos na base das vias e fui ver as condições da pedra. Estava mais gelada do que úmida. Sinal positivo, voltei ao carro para pegar o equipamento. O tempo ficou firme, com poucas nuvens e sol. As vias ficam à sombra quase todo o dia. Não havia vento algum e pude escalar só de camiseta.

Como não sabia os graus das 12 vias (e não 15 como disse antes) resolvi ir na seqüência crescente dos números até onde conseguisse. Escalei ao todo 6 vias e descrevo a seguir as impressões de cada uma, depois de um comentário geral. As vias devem ter em média cerca de 15 metros. Todas são protegidas com chapeletas à "francesa". Quero dizer que são bastante próximas, em geral não costurei nenhuma com o pé mais alto do que a chapeleta anterior. Não posso dizer que tem chapeletas em excesso, mas foi ótimo para meu o meu psicológico pouco ousado. No final todas as vias possuem duas chapeletas cada uma com um mosquetão de aço. A pedra é bem abrasiva em alguns pontos e em alguns lugares parece um espinheiro, como na pedra do final de semana passado. Vou sugerir graus com base na minha experiência desvirtuada, mas confirmarei quando for com outros escaladores.

- Via 1: Via de V grau, curta e razoavelmente positiva. Poucas agarras, mas bem claras. Ótima para aquecer.
- Via 2: Começa negativa e persiste assim por uns 4 ou 5 metros. Também com poucas agarras, mas agarras de duas falanges. A primeira chapeleta é tão baixa que quase consegui dar um beijo nela. Uma queda antes da segunda chapeleta é chão. Acho que isto que me estimulou a encadenar uma via que deve ser um VIIa ou um VIIb. Meus braços dobraram de tamanho até o final da escalada.
- Via 3: A mais legal que escalei. Depois de subir dois degraus bem afastados a via fica negativa numa pedra extremamente abrasiva. Ela segue ao lado de uma chaminezinha onde apoiei o pé direito na maior parte da via. O crux é longo, todo no negativo e com agarras pequenas que machucam a mão. A via termina com o domínio de um platô. A dificuldade é semelhante a da via 2, mas esta exige menos força e mais técnica. Não encadenei, deveria ter descansado mais antes de tentar.
- Via 4: Via mais de aderência que termina na mesma parada da via 3. O cansaço ao final da via anterior me estimulou a armar um top-rope e foi uma boa idéia, assim escalei mais sossegado e depois de um bom descanso.
- Via 5: Via muito legal que começa com uma escadaria de uns 3 metros e depois segue por uma fenda e um parede bastante lisa. Um pecado terem grampeado esta via, que poderia ser toda feita em móvel. Como não tinha equipamento suficiente, escalei assim mesmo e encadenei. O cansaço neste ponto dificulta sugerir um grau para a via que deve ser Vsup ou VI. O final, apesar de fácil, é bem legal pois exige o domínio de dois platôs consecutivos.
- Via 6: Bem vertical e toda de regletes. Deve ser um VI ou VI sup. Minhas mãos já estavam bem cansadas por conta dos negativos e ficou difícil segurar nos regletes. Muito curioso três ou quatro agarras para pés que tinham que ser usadas com o calcanhar mais alto que a ponta e com os pés para fora. O cansaço nas pernas fazia elas tremerem descontroladamente. Parei para descansar nas duas últimas chapeletas.

A escalada da via 6 já deus sinais de que eu estava passando dos limites e parei por ali. Ainda assim hoje acordei em ótimo estado e sem dores musculares. Antes de ir embora para Chaniá, demos uma volta rápida para ver as praias de Ammoúdi e Mikró Ammoúdi. O lugar é belíssimo e acho que rola uns boulders. Voltaremos no início da temporada de verão antes que as praias sejam tomadas pelos peladões.

Link para o álbum desta publicação: Instinto de montanha

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Rajadas de 50 km/h

Na sexta-feira à noite recebi uma mensagem do Kostas, aquele que conheci na semana passada. Estava me convidando para irmos para Kalipso no domingo e que combinaríamos melhor no sábado. Sábado acertamos de sair às 9h.

A previsão do tempo não era das melhores, tempo nublado, ventos N de 30 km/h e rajadas de 50 km/h. Não nos abalamos e saímos no domingo com meia hora de atraso e com alguns pingos de chuva. Fomos eu e a Anamaria em um carro e o Kostas, a irmã (Mariana) e um amigo dele (Giorgos) em outro.

Ir para o sul de Réthymno é sempre muito legal. A estrada, a mesma que dá acesso ao balneário de Plakiás e à praia de Préveli, é muito bonita. A medida que vamos para o sul a estrada começa a passar por entre as montanhas e subita e inesperadamente faz uma curva fechada ao redor de uma paredinha de pedra. Atrás desta paredinha está o cânion de Kourtalitiko com paredes que ultrapassam os 500 metros de altura e por onde corre o rio que irá desembocar no mar, na praia de Préveli. É fantástico.


A viagem foi boa e conhecemos melhor nossos amigos ao chegarmos no nosso destino. O Giorgos é muito gente fina e fala inglês muito bem em virtude de ter passado um tempo nos EUA. Ele e o Kostas se conheceram no inverno passado quando fizeram juntos o curso de escalada. A Mariana também é muito simpática e foi escalar pela primeira vez, com a intenção de fazer umas fotos para impressionar o novo namorado....

Kalipsos fica logo atrás do paredão de Plakiás entre Plakiás e a baía de Damnoni (ver localização no álbum de fotos), onde estão as praias de Ammoúdi e Mikró Ammoúdi, locais onde se pratica nudismo. Apesar de o carro parar tão perto da pedra quanto na Pedreira do Abraão, fiquei levemente desapontado com o lugar. É uma falésia relativamente extensa, mas surpreendentemente há apenas 15 vias numa pequena área. As vias são um pouco mais extensas que no Monte Várdia e no mesmo tipo de rocha. Todas parecem bem protegidas e são de grau fácil a moderado. Mas não posso descrever nada mais do que isso; não experimentei nenhuma via. Acho que a previsão do tempo estava errada e o vento era de 50 km/h com rajadas de 30. Era impossível ficar ali.

O Giorgos sugeriu de irmos à uma pequena parede de pedra na baía de Damnoni, mais protegida do vento, onde eles aprenderam a fazer rapel. Cheguei lá a frustração foi maior ainda, uma parede com uns 12 metros de altura e potencial para duas ou três vias com a base transformada num lixão. Não me deixei abalar, armamos dois top-ropes nos pontos mais promissores da parede, uma via de III grau e outra de VIsup. Armar os top-ropes mostrou que o Kostas e o Giorgos estão relativamente despreparados para montar ancoragens e seguir as regras básicas que coincidemente relatei aqui, mas não se matariam. Usamos todas as fitas que tínhamos e um cordelete de 7mm que eu tenho com cerca de 8 m para evitar arrasto e equilizar tudo. Com duas fitas que sobraram ainda usei um friend para fazer um "backup" numa das paradas.

Além da natureza exuberante e de vermos vários furacõezinhos se formando no mar, a via de VIsup foi o que fez valer a viagem. Mandei à vista e repeti mais uma vez para mostrar para eles que ainda não tinham conseguido (me achei!). Ela começa com um trecho positivo que entra num negativo de agarras não muito boas. Passei o lance colocando o pezão bem alto para ajudar a me erguer e alcançar uma agarra salvadora. Ainda assim, é preciso mais um ou dois movimentos para sair do negativo e entrar numa parte bem vertical e bem abrasiva que estilhaçou as mãos. Neste trecho o mais difícil não era encontrar agarras, mas sim encontrar aqueles não detonassem muito a mão.

Depois de todos tentarem, exceto a Anamaria, O Kostas ainda insistiu que passássemos de novo no outro setor para ver se ainda estava batendo vento. Era óbvio que estava, mas fomos mesmo assim. Ele não se conformou que nenhum de nós quis ficar. Mas fomos embora e fica a expectativa de voltar lá e escalar todas as 15 vias num só dia (ahammm!?).

Link para o álbum desta publicação: Rajadas de 50 km/h

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Na natureza selvagem

John Krakauer, autor do polêmico livro "No ar rarefeito" que relata o desastre ocorrido no Everest em 1996, recebeu muitas críticas em função dos comentários e críticas que fez no livro, e que podem ter sido inoportunos, infundados ou falsos. Além disso muitos criticaram a leitura em si, insinuando que o livro é chato ou ruim. Desprendido da crítica, li o livro, há bastante tempo, e gostei. É um ótimo texto para quem gosta de aventura e montanha. A leitura do livro "A escalada" do Anatoli Anatoli Boukreev, é ainda mais interessante, e complementa/responde o outro. Mais tarde acabei lendo, também do John Krakauer, o livro "Sobre homens e montanhas", que é muito legal.

Faz algumas semanas vi o filme "Na natureza selvagem", baseado no livro de mesmo título escrito pelo Krakauer. O livro basicamente conta a história de Chris McCandless, que larga a vida "normal" para viver seus ideais. Achei o filme legal e com belas imagens, e isto estimulou a Anamaria a me presentear com este livro no meu aniversário, em Outubro passado.

Terminei de ler o livro faz alguns dias. Tenho um certo ceticismo quanto a ler o livro depois de ver o filme, pois nossa imaginação perde a liberdade; ficamos presos às imagens do filme. Isto é especialmente ruim quando se trata de livros de ficção. Neste caso específico, talvez por se tratar de uma história real, a leitura depois de ver o filme foi muito boa. O livro responde diversas perguntas que fiz (a mim mesmo) durante o filme e deixa bem mais claro o que de fato aconteceu. Uma pena que algumas das fotos reveladas da máquina do protagonista não foram publicadas no livro. Outro ponto negativo do livro são as impressões e relatos pessoais do autor e uma certa tendência a expor razões sócio-políticas no modo de vida escolhido pelo protagonista da história (e pelo próprio autor?) dispensáveis. Isto me chamou a atenção pelo fato de os outros dois livros que li terem como seu núcleo justamente impressões e relatos do autor...

Boa leitura!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ventos da África

Domingo fomos ao Monte Várdia. Passou um verão inteiro de seca e as poucas chuvas de Outono ainda não foram suficientes para restabelecer a vegetação na base das vias. Um pó fino que se levanta até mesmo com a respiração foi particularmente desagradável neste dia por conta do vento Sul que bateu forte na semana que passou, especialmente no Domingo. Ao contrário de Florianópolis, o vento Sul aqui é quente - vem da África - e provocou uma elevação agradável na temperatura que já começava a baixar. Perfeito ou imperfeito foi um dia de escalada!

A caminho do Monte Várdia a Anamaria dizia que estava com a sensação de que encontraríamos alguém. E chegamos lá, encontramos duas pessoas, o Kostas e a Anastasía. Depois se juntou a eles a Vasilia. Eles pareceram muito simpáticos e o Kostas está sempre sorrindo. Não os conhecia, e pelo que entendi fizeram um curso no início do ano e estão escalando assiduamente. Além deles também vieram a Natasa, colega da universidade, e um amigo dela, o Stéfanos, os quais eu convidara.

Armei um top-rope na Louki Look para a Natasa e o Stefanos escalarem uma vez que é uma via relativamente fácil com o crux já no final. Depois o Kostas queria por que queria que eu escalasse o início da via 31 (Dulfer, VI), e subiu a Louki Look para transferir o top-rope para a Mávri do qual é possível escalar o início da Dulfer. Já na seqüência ele fez três tentativas na Dulfer tendo sucesso na terceira. Desceu dizendo que já tinha feito duas outras vezes e que tinha saído mais fácil. Não pareceu que ele estivesse querendo me fazer um desafio ao insistir que eu tentasse a via 31, mas parece ter ficado meio desapontado e saiu em silêncio quando mandei tranquilamente e de primeira. A verdade é que é um lance puramente técnico mas que por iniciar num negativo/diedro com poucas agarras parece exigir muita força. Depois do negativo a saída é em oposição enfiando as mãos em uma laca e segurando em regletes. A Natasa e o Stéfanos também tentaram a via, sem sucesso.

O Kostas, apesar de escalar há pouco tempo parece bastante forte e escalou uma via que até hoje não tentei por achar que o grau estava alto para o que tenho praticado. Mas como a Anamaria inocentemente espressou, ele não escala, se puxa...

Fim de escalada. O saldo foi o telefone de mais um escalador grego. Além disso perguntei para ele sobre outros setores em Creta e ele me falou do setor de Kalipsos que provavelmente é o setor que eu tinha combinado de ir com o Apostólis, mas não fomos por causa da Chuva. Este setor fica próximo a Plakiás, é visível da estrada e fica antes do Hotel Kalipsos, ou seja, é fácil de encontrar. O setor possui várias vias e de diversas dificuldades, inclusive vias fáceis e mais longas do que no Monte Várdia.

Também aprendi um jeito mais fácil de dizer escalada ou escalar em grego: Scarfalóno ao invés de káno anarírrisi!

Link para o álbum desta publicação: Ventos da África

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ESAON

Dia destes estava perturbando a Anamaria e me lembrei de ESAON. Aprendi este acrônimo nos idos de 1995 com o chefe João Henrique no escoteiro. Acredito porém, que também é usado e foi criado por militares e outras pessoas envolvidas com sobrevivência na selva e coisas do gênero. Por outro lado nunca ouvi esta expressão entre os montanhistas e escaladores.

Eu diria que este acrônimo, apesar de simples, junto com o acrônimo inglês ERNEST e suas variações*, deveria estar no topo da lista de acrônimos importantes da escalada.

A sigla ESAON contém resumidamente os passos básicos que devem ser seguidos ao se perder. Para um montanhista/escalador são várias as situações em que isto pode acontecer, seja na própria montanha, numa via longa, no acesso/descida da escalada e, por quê não, no trajeto de carro entre o ambiente urbano e o setor de escalada. Os passos são:


1) Estacione: significa parar, para evitar que a situação se agrave.. Deslocamentos desnecessários também causarão cansaços desnecessários.
2) Sente-se: significa descansar, não só o corpo, mas também a cabeça que neste momento pode estar pensando mil coisas, e afastar o possível nervosismo.
3) Alimente-se: mais do que apenas se alimentar, significa cuidar da sua saúde e dos demais, alimentando-se, hidratando-se e cuidando de enfermidades e ferimentos que possam ter ocorrido.
4) Oriente-se: utilizar as informações disponíveis, como tempo de deslocamento, hora do dia, mapas, croquis e instrumentos, para decidir o caminho a seguir. Elabora-se um plano para encontrar o caminho correto, ou o melhor caminho a seguir.
5) Navegue: Já descansado, calmo, alimentado, hidratado e com um plano, seguir o caminho para se salvar da situação.

#####

Rapidamente a sigla ERNEST**, que se aplica a ancoragens na escalada:
- Equalized: os pontos da ancoragem devem ser equalizados, a distribuição de forças deve ocorre o mais uniforme possível entre todos os pontos, mesmo que a direção varie.
- Redundant: a ancoragem deve ser redundante, isto é, ser formada de vários pontos e elementos de maneira que o eventual colapso de um ponto ou elemento não prejudique os demais.
- Non-Extending: a falha de um dos pontos ou elementos não provoca o deslocamento do ponto central, e assim não há impacto sobre a ancoragem.
- Solid: significa que cada ponto e elemento da ancoragem deve ser sólido, ou seja, forte (strong) e estável (stable).
- Timely: escolher a hora certa (e o local certo) para montar a ancoragem. E também, montar uma ancoragem que cumpra com os quatro pontos anteriores em pouco tempo. Não adianta levar 1 hora para montar uma ancoragem digna de foto que poderia ser substituída por uma igualmente adequada mas armada em 5 minutos, e por causa disso se expor a outros riscos como terminar a escalada a noite.

* uma das variações é a sigla SRENE que não inclui o T, e acredito seja mais antiga. Outra facilidade da sigla ERNEST é que é um nome.
** diferente da sigla ESAON que resume passos, a sigla ERNEST resume requisitos que devem estar presente simultaneamente em uma ancoragem.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do RU....

... eu vejo Stavrós!



Link para o álbum desta publicação: Enfim Stavrós (álbum da publicação anterior).

domingo, 26 de outubro de 2008

Enfim Stavrós

Apesar de não ser a modalidade que mais pratiquei nos meus mais de 10 anos de escalada em rocha, escaladas fáceis que se estendem por mais de uma ou duas enfiadas são as que mais me atraem. Isto fez do setor do Etzel na Barra da Lagoa um dos meus preferidos. A Ponta do Rapa também é muito legal. E mais recentemente o setor na praia dos Ingleses oferece vias de até três enfiadas, de baixa dificuldade e bem protegidas (todos em Florianópolis).

Dito isto, não deve espantar-lhes se eu disser que o setor de Stavrós, com pelo menos oito vias de escalada 100% em móvel de 60 a 110 metros de extensão do V ao VII grau de dificuldade, me atraia tanto. A escalada neste setor estava adiada por tempo indefinido por duas razões:
(i) não tenho um parceiro de escalada que escale (tradicional); os que conheci até agora são adeptos da escalada esportiva. Quando contei ao Christos, Alex e demais que ainda não tinha indo em Stravós ele respondeu imediatamente "nunca vamos lá". O Apostólis não acha seguro escalar tradicional e portanto não pratica.
(ii) tenho apenas três Camalots, sete stoppers, e uma dezena de fitas.

Mas para minha "angústia", de segunda a sexta almoço no Restaurante Universitário. O setor de não fumantes tem suas janelas voltadas para a praia de Stravós e dali vejo diariamente as paredes de escalada e é inevitável pensar em escalá-las.

No último final de semana chutei o balde e resolvi ir para lá, mesmo que fosse para subir uma dezena de metros e depois desescalá-los. O domingo amanheceu com o céu carregado de nuvens escuras especialmente sobre o Akrotiri, onde fica Stavrós, mas mesmo assim saímos. O tempo ajudou e pegamos chuva apenas por alguns segundos durante o trajeto.

O carro chega praticamente à base de morro e depois de atravessar uma porteira fajuta de aramado começamos a subida até a base da parede. À medida que subimos, o morro vai ficando mais íngreme e a trilha varia de um cascalho escorregadio, à terra, pedregulhos e até uma escaladinha de II grau. A medida que nos aproximamos da parede, ela cresce, e também uma caverna que pode ser avistada da base do morro, mas que fica oculta por matacões boa parte da subida. A temperatura caiu bastante nos últimos dias e ventava bastante. A subida levou 40 minutos, e assim que chegamos na base da parede, paramos para descansar um pouco na caverna, protegidos do vento.

Depois do descanso chegou a hora de escolher qual via subir. As três vias mais fáceis iniciam praticamente juntas à esquerda da caverna, duas delas no mesmo lugar para depois se dividirem. Estas que começam juntas passam por um fenda tomada por pequenas árvores e arbustos e só me restou subir pela Proti, Vsup, 70 m. A via saí de um platô de pedra e segue por uma rampa acidentada com bastante agarras. No início as proteções eram boas, mas um pouco fora da linha da escalada (pelo menos dado meu escasso material) mas pude proteger bastante. Escalei 15 ou 16 metros e cheguei num platô onde naturalmente se faria uma parada antes de começar uma transversal para a direita por onde a via continua. A pedra é muito semelhante à que experimentei em Chochlakiés e em alguns pontos parece cristalizada como mármore, principalmente na base. Deste platô toquei mais 4 ou 5 metros para cima e cheguei em outro platô. Dali ficou claro porque a via continuava para a direita mais abaixo, adiante não há buracos, alças de pedra ou fendas para usar proteções em móvel.

Ao todo escalei 20 m e superprotegi com quatro stoppers (5, 6, 7 e 12), um camalot (0.75) e 6 laçadas de fita em alças de pedra, algumas com o buraco tão pequeno que uma fita tubular não passava, tendo que usar então fita de dyneema. As proteções se concentraram no início para evitar uma improvável queda num platô e também em alças de pedra próximas. Foi um precaução extra sabendo-se que eu teria que desescalar a via. A medida que subi me habituei com a situação e as proteções se afastaram um pouco, apesar de a parede ficar mais vertical e um pouco menos fácil.

A Anamaria fez um ótimo trabalho na segurança, inclusive depois de perdermos contato visual durante a escalada pela primeira vez. Surpreendentemente o vento parou quando comecei a escalar e só voltou quando terminei a escalada, tornando facílima a comunicação por voz. O tempo encoberto protegeu do sol que teve raras aparições, deixando o clima perfeito para escalar. A descida levou mais 30 minutos, e famintos fomos para casa preparar almoço.

O lugar é um espetáculo. Só vi de perto uma parte da parede, mas sem dúvida há espaço para muito mais vias do que apenas as oito listadas no guia de escalada. A volta até lá é certa, só não sei ainda quando!

Link para o álbum desta publicação: Enfim Stavrós

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dicionário

Meu irmão gêmeo me enviou por e-mail o link para um dicionário de termos de escalada Português-Inglês-Francês-Espanhol-Alemão e para um dicionário de montanha e escalada em português:

http://luis-avelar.planetaclix.pt/

O português é de portugal e alguns termos podem soar estranhos para nós brasileiros.

No dicionário de idiomas vi alguns erros de grafia que não o comprometem. Pode ser útil para alguém lendo um livro ou matéria em língua estrangeira!

domingo, 19 de outubro de 2008

Não fui

O planejamento para este final de semana era ir escalar em Kapetanianá, mas por diversas razões não fui. Realmente uma pena pois o tempo este final de semana foi espetacular.

Sábado a previsão era de temporal no final da tarde e o tempo realmente fechou (mas não choveu) e acabei não indo escalar.

Não sou chegado em Fórmula 1, mas domingo acordei e assisti boa parte da corrida para ver se ia dar Hamilton ou Massa. A decisão ficou para o GP de Interlagos.

Por volta de 12h fomos para o Monte Várdia. Repeti a dose da última escalada. Comecei pela Στενές Επαφές (Stenés Epafés, ou relações estreitas), VIIa, e me saí "bem" melhor desta vez. Progredi até pouco depois da segunda chapeleta e desisti. A via começa levemente negativa com três agarras de pinça, praticamente as únicas agarras para mãos até costurar a segunda chapeleta. A via é bem servida de agarras para os pés, mas exige um trabalho intenso com os mesmos para subir pouco a pouco. A segunda chapeleta na verdade são duas, dispostas quase como se fossem uma parada, uma com a porca bastante enferrujada e outra com 2 cm de parabolt para fora... costurei nas duas por via das dúvidas.

Após costurar a segunda chapeleta, já se alcança uma agarra grande para a mão à direita que dá uma salvada para um descanso, mas desloca um pouco o escalador da via que ao voltar tem que ir um pouco para a esquerda. A partir daí o trabalho de pés continua intercalando as pinças antes usada para as mãos, pressão em saliências lisas da pedra e o agarrão à direita. Para as mão começa uma sequência de regletes. Subi mais um pouco e as agarras para as mãos e os pés desapareceram na mesma taxa, ainda "longe" da terceira chapeleta. Desescalei e parei para um descanso. A segunda tentativa foi até o mesmo ponto, um ótimo exercício.

Depois da segunda tentativa deixei o equipamento ali e subi a Συκιά (Sikiá) com a outra ponta. Foi uma escalada rápida para limpar o equipamento que eu tinha deixado na outra via, durante o rapel.

Apesar do aparente fracasso com a Stenés Epafés estava entusiasmado e fui tentar uma via mais para a direita chamada Τρυφερότιτες (Triferotités, ou meiguices), VI. A via começa com um lance de poucas agarras para dominar um platô, de onde já se costura a segunda chapeleta. A partir deste ponto as agarras acabam e é aderência pura tirando proveito dos abaulados e saliências para as mãos é pés, sempre pressionando bastante. As "condições" são piores que as vias do setor do Etzel na Barra da Lagoa. Passei um pouco a terceira chapeleta e voltei. Achei esticado demais para continuar, apesar de tudo indicar que a costura era feita segurando num buraco que potencialmente é a única agarra (grande) da via. Rapelei de uma fita.

Foram quase duas horas de escalada à sombra com um brisa agradável (para quem escala, não para o segurança). Apesar de relativamente próximos da cidade, o ruído urbano é baixo e predomina o canto de passáros. Antes de começar a escalar tivemos a oportunidade observar uma ave de rapina de grande porte sobrevoar e pousar na área próxima à escalada. Antes que eu pudesse pegar a máquina fotográfica ela já estava voando novamente. Tudo indica que era uma Golden Eagle, apesar de as dimensões que observamos não atigirem os 2 m (média) de envergadura sugeridos na Wikipédia. Procurei por outros pássaros de grande porte de Creta e este é o único que bate com o que vimos.

Link para o álbum desta publicação: Não fui

domingo, 12 de outubro de 2008

Rapidinha

O tarde de domingo foi marcado por várias chuvas fortes de pouca duração, a primeira delas logo depois de fechar o zíper da mochila antes de ir escalar. A espera foi longa, sempre na expectativa de que o tempo melhorasse. Já no final da tarde houve um trégua clara e partimos para o Monte Várdia. A pedra estava úmida, mas nada que prejudicasse a escalada em boa parte das vias.

Para mudar os ares fui direto para a Στενές Επαφές (Stenés Epafés, ou relações estreitas) um VIIa que começa bem vertical e vai se transformando num diedrinho. A saída apresenta um pouco de inclinação negativa e é pobre em agarras para a mão, sendo que até a segunda chapeleta a progressão é feita usando-se agarras em pinça tipo as que encontramos em muros de escalada. A primeira chapeleta está terrivelmente mal posicionada e atrapalha um bocado o escalador. Tive que ficar dando orientações para a Anamaria ir para a esquerda, para a direita, mais perto, mais longe... Cheguei por três vezes no ponto para costurar a segunda chapeleta, mas não consegui uma boa posição. Desisti e fui escalar a Συκιά (Sikiá), e quem quiser saber como ela é, leia aqui. Foi uma escalada rapidinha e terminamos já de noite.

O planejamento é ir a Kapetanianá no próximo final de semana...

Link para o álbum desta publicação: Rapidinha

Presentes

A incerteza do tempo recomeçou por aqui. Difícil saber se vai chover ou não mesmo com as previsões meteorológicas dizendo que não. Só foi eu fechar o zíper da mochila e caiu uma chuva de pingos grossos por uns poucos minutos. Como choveu pouco e está ventando bastante vou esperar um pouco antes de ir escalar e enquanto isso farei uma pequena "resenha crítica" de uma das mais novas publicações de escalada nacional.

Fora a grande felicidade de ter a Anamaria de volta no último final de semana, fui agraciado com diversos presentes. Entre eles o livro Escale melhor e com mais segurança de autoria de Flávio e Cíntia Daflon (clique na figura), que me foi presenteado pelo Cristiano. Este livro chega para complementar a escassa coleção de livros introdutórios da técnica de escalada de autores brasileiros, alguns deles infelizmente "obsoletos" como o Manual do montanhista do Cristiano Requião, e também servir de suporte para outros livros "específicos" como o Dividir e Conquistar - técnicas de conquista do Alex S. Ribeiro. Além destes, cito o livro Cordas & Nós para montanhistas também do Cristiano Requião e Com Unhas e Dentes do Sérgio Beck. Para saber outros títulos nacionais sobre escalada e montanhismo recomendo o levantamento feito em 2007 disponível gratuitamente no site da Montanhar.

Irrelevante dizer, mas direi assim mesmo, que o conteúdo do livro compreende o conteúdo básico necessário para se iniciar na escalada e versa ainda sobre alguns tópicos avançados. As ilustrações em geral são boas, mas foram prejudicadas pela qualidade da impressão. O texto é corrido e de fácil leitura, mas achei um pouco desorganizado; muitos assuntos aparecem como pré-requisitos para outros, antes de terem sido devidamente apresentados. Por texto corrido, quero dizer que lê-se o livro como uma história e em várias partes falta "parar" o texto e realmente focar na técnica, apontar a figura e sistematizar o procedimento. O único capítulo que faz isto de fato é o de Auto-resgate, provavelmente pelo fato de ter sido baseado no livro de mesmo título (Self-rescue) do David Fasulo (Ed. Falcon Press). Isto pode tornar o livro bom para quem está acompanhando um curso, e de fato parece este o propósito, mas não o faz um bom livro de referência.

Os autores dão várias dicas interessantes, nem tão comuns em livros do gênero, reflexo da experiência deles. Além das dicas, gostei muito do capítulo Uma breve história do montanhismo e também dos capítulos finais sobre Treinamento, Nutrição, Prevenção de acidentes, Graduação e Meio-ambinente e ética. Longe de esgotarem os assuntos, estes capítulos alertam desde o princípio (supondo que se leia o livro todo antes de começar a escalar) para questões que poucos dão importância ou só sofrem cobrança quando já estão "viciados", lesionados e relaxados. Diga-se de passagem alguns destes capítulos deveriam estar no começo antes que o leitor se canse da leitura, claro que sob o risco de frustrar-se por querer logo aprender a usar o equipamento.

O grande diferencial que espero hoje de um livro de escalada é explicar as coisas e seus "porquês". Todos os livros sempre falam do julgamento que o escalador deve fazer baseado em seu conhecimento, criatividade e experiência nas mais diversas e adversas situações. Por isso acho que não basta saber como se faz, mas porque se faz. O escalador deve ser capaz de raciocinar para resolver problemas como um matemático, um físico ou um engenheiro fazem, e não consultar no cérebro uma gama de procedimentos assimilados. Este livro ainda não chegou lá, pelo menos não de forma objetiva.

O possível excesso de criticismo é uma característica minha, e se fosse fazer uma lista minuciosa ela seria muito maior. Levem isto em consideração... Concluindo, incluam este livro na biblioteca de vocês, leiam e indiquem para seus alunos se forem professores de escalada. Indicar este ou outro livro para os alunos, ao invés de apostila é valorizar a literatura de escalada nacional. Mas quem puder leia também outros livros, inclusive o Manual do Motanhista do Cristiano Requião que tecnicamente está ultrapassado, mas expõe com simplicidade única o que é a escalada, e não como algo sobrenatural como está na moda nos círculos de escalada hoje em dia.

domingo, 28 de setembro de 2008

TV Grega

Aqui em Chaniá, são 22 canais, 21 gregos e a TV5 (francesa). Entre os canais gregos estão canais públicos e privados, e canais nacionais e regionais. Alguns destes canais fazem coberturas esportivas. Apesar de o fazerem com menor competência do que os canais brasileiros, a cobertura é bem mais eclética. Durante as transmissões de Fórmula 1 eles interrompem a transmissão para passar propaganda. O mesmo algumas modalidades esportivas nas olimpíadas, em momentos inesperado, como por exemplo no momento que ia saltar com vara a campeã mundial. Por outro lado, muitos esportes que no Brasil só aparecem na TV a cabo, e olhe lá, ou em situações importantes (como Olimpíadas, finais, etc.) aparecem aqui frequentemente, como pólo aquático, lutas, campeonatos de natação, vôlei, basquete e é claro, futebol. Até para-olimpíadas teve uma cobertura relativamente ampla.

Neste um ano, mais de uma vez vi também documentários esportivos inclusive sobre montanhismo; um inglês sobre escalada no Everest, um francês sobre escaladas no Himalaia e outro francês sobre escalada em Kalymnos. Os eventos esportivos locais, em Creta, também aparecem na TV (nos canais regionais, claro). Por exemplo, os eventos dos clubes de iatismo, do clube de tiro, e é claro do clube de montanhismo.

Este final de semana aconteceu na região leste de Creta o encontro Cretense de Montanhismo com participação de todos os clubes locais. Pena que não estou frequentando o clube e não fiquei sabendo. Alguém alguma vez soube da abertura de temporada de escalada e montanhismo e SC pela RBS? O evento teve cobertura dos jornais televisivos dos três canais locais, e olha que era só um encontro, não tinha competição nem nada. Da mesma forma o festival Grego de filmes de montanha ano passado também teve cobertura televisiva.

Igual ao Brasil...

Comentários sobre a publicação de ontem:
Hoje choveu e não fui escalar.

Sobre o clube: ontem quando a menina foi falar com o Apostólis sobre parceiros de escalada, ele disse que no clube não tem ninguém, só os velhos se reúnem para ir passear nas montanhas, os jovens que escalam têm que ser encontrados na pedra mesmo....

sábado, 27 de setembro de 2008

Estreando

Hoje à tarde me encontrei com o Apostólis aqui perto de casa, pegamos um amigo dele chamado Kostas e fomos a Thérisso. O objetivo era "estrear" duas novas vias, pouco depois da entrada da garganta de Thérisso. Estas duas vias foram abertas há menos de um mês. Quando fui escalar em Thérisso como Christos pela primeira vez, antes de chegar no Jardim Suspenso vi dois caras escalando, ou melhor, abrindo estas vias.

Não sei o nome delas e as chamarei de A e B. A graduação da A, com cerca de 35 m, é algo como um VIsup/VIIa e a da B, com cerca de 15 metros, um VIIa, mas pode ser que eu esteja enganado (para cima). Fui o primeiro a escalar e entrei na A. A via começa num boulder de uns 3 metros que dá acesso a um platô e então à via, protegida com chapeletas. Passei o boulder facinho e continuei até pouco antes da metade e amarelei. Desci para o Apostólis tentar. Ele não encadenou, mas foi até o final. Enquanto ele escalou, com segurança do Kostas, chegou um cara bem gente fina, chamado Nikoforos. Ele entrou na via B com segurança minha. Ele também não encadenou. Na próxima rodada, o Kostas entrou na A em top-rope e parou no crux, e eu encadenei a B em top-rope, com uma ajudinha do segurança. O crux é um tetinho bem pequeno que quase não tem é mais difícil, já que a via toda é levemente negativa com poucas agarras nem sempre muito boas.

O Apóstolis e o Kostas também escalaram a B, com o Apostólis guiando. O Nikoforos guiou a A também sem encadenar e entrei em seguida em top-rope. Encadenei e vi que o lance onde eu tinha amarelado era bem mais fácil do que parecia. A via alterna agarrões com agarras pequenas e perto do final vai ficando levemente negativa, com dois crux bem negativos antes do final. As agarras machucam bastante as mãos e a falta de uma "carapaça" dificulta a escalada.

Das outras vezes que escalei em Thérisso já tinha notado isso, mas desta vez muitas pessoas pararam para ver e tirar fotos. Algumas começaram a gritar piadinhas para os escaladores que se irritaram um pouco (eu não entendi). Um casal de moto também parou para pedir informações sobre parceiros para escalar (em grego), pois estão morando em Chaniá e a mulher escala, mas está sem parceiro. Vieram pedir informação logo para mim....

Antes de irmos embora ainda subimos mais 1 km para ver outra via nova, que talvez tentemos amanhã. Tomara!

Link para o álbum desta publicação: Estreando

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quer subir na vida?

Recebi por e-mail um link para uma página de humor na internet, a Rádio Camanducaia. Não é sobre escalada em Creta, mas achei interessante divulgar. E é claro que tem relação com escalada. Ouçam na seção "Reclames" aquele sobre Alpinismo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Seguindo links

No final da tarde de hoje li um artigo sobre controle de tráfego, mais especificamente (e simplificadamente) sobre o uso de controladores de bordo (em carros) para evitar a formação de congestionamentos. O artigo tem um link para um simulador de tráfego online.

Dei uma brincadinha com o simulador, diga-se de passagem bem divertido, e da página do simulador fui para a página de um dos caras que o desenvolveu, e co-autor do artigo, Dr. Martin Treiber da Universidade Técnica de Dresden. Dei uma lida na página dele, vi uns vídeos do simulador 3D (que foi o que me levou até lá), .... legal.

Vi os links em inglês, pulei os em alemão, e cheguei no canto inferior esquerdo ocupado por um desenho discreto que parecia uma chapeleta. Passei o mouse em cima e ...

Briquem também com o simulador de tráfego e vejam o que está escondido "debaixo" do desenho da chapeleta!

domingo, 21 de setembro de 2008

Como se eu fosse louco

"O melhor escalador é aquele que se diverte mais"
Desconheço o autor desta frase, mas li ela num folder da ACEM elaborado pelo Fabrício Mendonça. Deixando um pouco de lado a parte do "melhor", é por aí que vejo meus objetivos dentro da escalada; me divertir. Voltando agora à parte do "melhor", hoje eu estava entre os melhores do mundo, pois me diverti pra ca... e vocês já saberão porque.

Vamos pra pedreira?
Os dias chuvosos (duvidosos) dos escaladores em Florianópolis no ano de 2005, tenho convicção, foram marcados por esta pergunta. A fissura ou a loucura por escalar pode levar escaladores ao desespero em dias chuvosos. Eu mesmo fui várias vezes para a Pedreira do Abraão em dias de chuva, principalmente no verão. A expectativa era que a pedra secasse rápido (e secava) e mais de uma vez escalei, choveu, fiquei esperando secar e escalei de novo.

Depois de quase 5 meses sem chuvas em Chaniá voltou a chover no final desta semana. A manhã de hoje foi a chuva mais intensa; a primeira que molhou pra valer. Com os ânimos detonados, principalmente pelo fato de que o plano de escalada para ontem era conhecer um novo setor em Réthymno (aprox. a 1 hora daqui), me dediquei à faxina. Esqueci do tempo, mas por volta de 17h00 o sol brilhava e algumas Cumulus Nimbus no céu não pareciam ameaçadoras. Perguntei para mim mesmo "Vamos pro Monte Várdia?" Depois de um período de indecisão, verifiquei a meteorologia na internet que indicava chuva apenas para a meia-noite. A resposta foi sim!

Contato
Pode parecer bobagem, mas duas coisas me estimularam a encarar o Monte Várdia hoje. A primeira foi a curiosidade de saber o quão rápido a pedra secaria, e se a parte com o teto molhava em dia de chuva. Praticamente a parede toda estava seca, com alguns pontos molhados, evidentemente, em partes planas e em fendas por onde a água escorre, inclusive em algumas partes do teto onde se forma uma caverna na pedra (e não no chão). A segunda motivação pode parecer mais bobagem ainda, mas para mim é algo que faz total sentido e, de fato, minha experiência diz que funciona.

Quando eu treinava natação, meu treinador dizia que mesmo doente ou lesionado, o ideal era o atleta freqüentar a piscina, para que o corpo, principalmente a palma da mão, mantivesse o contato com a água. Acho que para a escalada vale o mesmo e um pouco mais. Mesmo que as chances de escalar sejam pequenas, ou que a pedra molhada permita escalar poucas coisas, vale ir no setor só para ter contato com a pedra e com o ambiente. Só a caminhadinha do carro até a pedra, sentindo o cheiro da terra molhada (e de cocô de ovelha) já fez valer a ida.

Equipamento básico
A expectativa de encontrar alguém era zero. Resolvi levar apenas minha mochila "auxiliar", uma Mateiro 10 da Kailash, com o mínimo necessário: saco de magnésio REI (com magnésio), par de sapatilhas Anhangava da Snake ano 1996 ressolada, 750 ml de água da torneira, máquina fotográfica Fujifilm Finepix A200 2.0 Mega Pixels, lanterna de cabeça Tikka Plus Petzl, celular, documentos e um guarda-chuva (tenho um Anorak, mas neste caso um guarda-chuva era melhor). Como a temperatura no meu jardim era de 20 graus Celsius (pelo menos 10 graus a menos do que o mesmo horário uma semana atrás) e estava fresco, levei a tiracolo um fleece Trilhas e Rumos. O fleece se mostrou desnecessário e como saí antes do sol se pôr não precisei da lanterna. Ninguém pediu meus documentos e ninguém me telefonou... O resto foi indispensável!

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Música dos Mutantes que já foi gravada por outros e fez sucesso numa propaganda da APAE (SC?), bem que poderia compor o primeiro parágrafo desta publicação. Mas coloquei ela por outro motivo. Uma coisa que me faz rir e já vi que acontece com muitas pessoas, é a tarefa de colocar a máquina para fazer uma foto automática e sair correndo para aparecer na foto (pena que hoje já tem algumas com controle remoto). Em geral eu rio, independente dos tropeços de quem (mesmo eu) corre para aparecer na foto.

Em janeiro de 2005 vim para a Grécia pela primeira vez, sem nem sonhar que voltaria um dia para fazer doutorado. Apesar de ter trazido um equipo básico, não consegui escalar daquela vez, até mesmo porque choveu direto. Modifiquei as datas das minhas passagens para depois de 10 dias de trabalho, ir passear em Atenas e depois ir à Madri me encontrar com o Octávio, que morava em Portugal. Em Atenas sozinho, inverno, chovendo, diversas vezes faltou outro turista de bom coração para tirar fotos minhas. Só me restou apelar para as fotos automáticas. Em algumas ocasiões durante o processo, de posições estranhas para posicionar a máquina, de sair correndo, sozinho e rindo, eu era surpreendido por pessoas que me viam e riam, como se eu fosse louco...
Voltando ao "presente", cheguei ao Monte Várdia e me faltava um estímulo para começar a me "pendurar". Resolvi fazer fotos. Fiz uma pequena panorâmica da parte de tetos, onde concentrei minha escalada hoje. Achei que não poderia fazer mais do que isso, pois estava sozinho, mas a minha poderosa máquina fotográfica de 2 MP faz fotos automáticas! Lá estava eu correndo e rindo feito um louco tirando fotos automáticas, mas sem ninguém ver. Estava sozinho e mesmo assim me diverti!

Treino de potência
Não sei se para a escalada é assim, mas quando eu treinava natação, as séries de potência duravam cerca de 45 minutos e podiam ser, por exemplo, 6 tiros de 75 m a cada 7 minutos. Ou seja, eram esforços de curta duração com descanso grande. Por conta das fotos, durante boa parte da escalada de hoje foi isso o que fiz. Preparava a máquina, saía correndo, escalava o mais rápido que conseguia e esperava a foto bater. Nem sempre esperava a foto bater, pois a máquina era mais rápida que eu. Enquanto planejava a próxima foto ou me preparava para repetir uma que deu errado, descansava um pouco. O duro era correr por cima de cocô de ovelha e depois não patinar o pé na pedra... Suei bastante por causa da corrida e os braços cansaram bastante por conta dos negativos.

O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão

Não gosto deste estilo "cult" de ficar falando de música e etc., mas vou fazer isso pela segunda vez nesta publicação. Conheço esta música por causa de um dos discos "Um Barzinho, um Violão", na participação do Biquini Cavadão. E gosto da música. Esta parte de tetos do Monte Várdia, que deve ter algo como 20 metros de largura, tem uma variação enorme do tipo de pedra (pretendo no futuro publicar detalhes sobre a geologia de Creta). Difícil descrever como são estas variações, mas variam de partes lisas parecendo mármore a partes que parece que a superfície foi forrada com espinhos grandes. Algumas partes são extremamente arenosas e frágeis. Principalmente nesta parte e em suas proximidades, estão evidências incontestáveis, até para um ignorante como eu, que ali já foi mar. A superfície do material em vários pontos parecem um aglomerado de conchinhas, corais e cracas. Em um lugar próximo a uma boa agarra, em uma parte um pouco mais firme da rocha, fotografei uma concha incrustada na pedra. Evidências assim, a Anamaria também encontrou em Kalathás.

Fechem as porteiras!
Ao contrário das últimas vezes que fui no Monte Várdia a "porteira" estava fechada. Abri, entrei e fechei, como ditam os bons costumes. Estava fotografando a pedra, já depois de pelo menos uma hora por lá, e chegou um pastor com o filho pequeno trazendo as ovelhas. Ele me perguntou alguma coisa que não entendi, mas puxei a conversa tentando lembrá-lo que a primeira vez que fomos lá encontramos ele. E ele lembrava, até que eu era da América. Ele continuou o pastoreio e depois deixou o resto na mão do filho e conversamos um pouco sobre o que eu fazia aqui, quando minha mulher voltava do Brasil, entre outras coisas. Contando isto parece que sou um sabidão de grego, mas a verdade é que sou um "analfabeto" e apesar de saber o jeito certo de dizer algumas coisas, durante a conversa conjugo e declino tudo errado. Mesmo assim nos entendemos. Como da outra vez que encontrei com ele, reforçou que é para manter as porteiras fechadas e pediu para eu avisar os outros.

Manda para mim?
Acabei tirando umas fotos das ovelhas, e uma foto do menino com um filhote indo atrás do resto. O menino gostou da idéia, fez pose e disse para eu tirar outra! Depois o pai dele veio e me pediu para enviar a foto para eles. Quem sou eu para dizer que não? Ele manda ali e ainda por cima poderia ter uma arma! Como eu não tinha caneta, e nem ele, combinamos que ele deixaria um papel no para-brisa do meu carro. Dito e feito, cheguei na carro, peguei o papel no para-brisa e olhei para ver se conseguia entender o endereço de e-mail dele. Ele me deu o endereço de casa!

A mais fácil virou um desafio
Depois de escalar nos tetos por várias vezes, tentando agarras e posições diferentes, e de ter brincando um pouco em umas travessia, o sol começava a baixar "rapidamente" e os efeitos do cansaço começavam a aparecer. Fui tentar as últimas duas vias à direita da parte com tetos e acabei dando de cara com o "boulder" número 6, chamado Τρολλ (Troll). Nunca tinha escalado, nem notado ele, mas parecia fácil, muito fácil. Não tinha o guia para conferir a graduação e resolvi encarar. Saiu facinho, sem pensar, sem fazer força. Definitivamente, a via mais fácil do Monte Várdia (mais tarde, em casa conferi no guia, e era para ser um V+ [UIAA], ou um Vsup/6 [brasileiro], as graduações ali estão "todas" erradas!). Enfim, inspirado, fui verificar os recursos de filmagem da máquina: 20 s de filme. Estava definido o desafio. Filmar a escalada, que deveria acontecer em menos de 20 s. Além da primeira ascensão, tentei outras duas filmando, mas sempre me enrolei em algum ponto e não consegui "vencer" o desafio. Por fim estava tarde, algumas agarras estavam molhadas, e o tempo voltava a fechar; resolvi parar por aí. Vejam vocês mesmos as duas tentativas:

Link para o álbum desta publicação: Como se eu fosse louco