segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fim de ano

Nos arredores do Natal e da virada do ano fui escalar diversas vezes no Monte Várdia. Durante os feriados tentei me manter em dia com os textos sobre as escaladas, mas como se passou muito tempo resolvi dar uma resumida e só comentar alguns pontos mais interessantes (para mim pelo menos). As poucas fotos que fiz nestes dias e também um vídeo do Kostas formam o álbum de fotos desta publicação (link no final).

A chuva e os parceiros não foram muito generosa comigo até pouco antes do Natal. Cheguei a ir sozinho até o Monte Várdia num domingo à tarde, mas em menos de meia hora fiquei entediado de escalar sozinho e voltei para casa.

O ponto forte antes do Natal foi o Kostas tentando encadenar a Mikrá Mistiká (VIIa) e o resultado vocês podem ver no vídeo.

No dia de Natal, 25 de dezembro, o telefone tocou logo cedo. Antes de atendermos a Ana sugeriu que era algum parente querendo desejar Feliz Natal ou o Kostas querendo ir escalar. Era a segunda opção. Como ele tinha que ir almoçar na casa do irmão, estava convocando os parceiros às pressas. O Vassílis também foi. Depois de aquecermos em alguma via, o Kostas quis tirar a limpo o problema dele com a Mikrá Mistiká e conseguiu encadenar com sucesso.  Veio aquela pressão implícita do Kostas. Puxei a corda e o Kostas ficou meio incrédulo de que eu conseguiria. Sem querer me achar, mas já me achando, guiei com muita tranquilidade e me sai melhor que ele. Este foi o grande feito do dia de Natal.

Outra novidade no dia de Natal foi o top-rope na via 16. Esta via pode ser escalada em móvel, mas fizemos em top-rope. No guia de escalada ela aparece graduada como um VIsup e apesar da aparência assustadora no início, parece mesmo que a graduação está certa. Eu e o Vassílis fizemos à vista, ainda que passando um veneninho no começo, que é o crux. O meu amigo Kostas fez a maior marra antes de começar, estudando os movimentos e na hora H se apertou e caiu várias vezes no crux. É meio difícil descrever a via, melhor ver as fotos que tirei do Vassílis escalando. Depois do crux a via fica bem tranquila e segue por um diedro. Em uma próxima oportunidade estamos pensando em descer de rapel e pré-colocar as peças móveis para fazer guiando.

Depois da volta de Atenas de barco (lembrem que fui à Kós depois do Natal) nosso carro ainda estava no aeroporto. Como o Kostas mora perto, pedi que ele me levasse lá depois que saísse do trabalho. Ele não perde a oportunidade de caçar um parceiro e me deixou sem alternativas senão ir escalar antes de irmos buscar o carro. Ele foi para o Monte com a Eléni e o Manolis e por volta de 15h30 veio me buscar. Chegamos lá e fiz dupla com o Manolis, e ele com a Eléni. O Kostas é o novo treinador pessoal da Eléni e o objetivo dele é fazer dela a melhor escaladora de Chaniá, superando assim a Anastasia, a Vassoúla e a Marianna.

Com o Manolis escalei guiando a via 36. Fazia tempo que não guiava e fiquei orgulhoso de mim mesmo por ter me saído tão bem. A parada para a 36 e a 35 é a mesma e desci de baldinho para ir direto para a 35 em top-rope. Só tinha tentado guiar esta via umas duas vezes e sempre amarelei antes de alcançar a chapeleta que protege o crux. Desta vez tinha me sentido muito bem escalando ela que depois de o Manolis escalá-la em top-rope, resolvi guiar. Encadenei com relativa tranquilidade e sinto que finalmente posso dizer que meu grau é VI.

No dia da virada voltei ao Monte com o Kostas e o Manolis. Apareceu por lá também o Giorgos (o outro) sem equipamento. Levei minha segunda cadeirinha e ele escalou a Zéstama (IV) com o Kostas, de sapato. Enquanto isso guiei a Sikiá (Vsup) com segurança do Manólis. Faz algumas semanas comprei um aro novo de óculos e agora uso meu óculos anterior para escalar e o novo só no dia dia. Esqueci de levar o óculos antigo e resolvi escalar sem óculos para não estragar o novo. Foi muito esquisito olhar para cima ou para baixo e não enxergar muito bem as agarras, mas deu de encarar.

Na sequência, resolvei guiar pela primeira vez a 46, sem muito apoio do Manólis que dizia que ela é muito difícil. Fazia umas três semanas que não escalava esta via e o Manólis ficou de cara com a minha performance (nada de mais na verdade) e me elogiou muito. Depois o Manólis guiou a Sikiá e levou uma das quedas mais esquisitas que já vi. No crux da via, exatamente onde tem a árvore, ele tentou não segurar a árvore para fazer a via limpa, mas não conseguiu. Daí tentou segurar na árvore, mas bem no nó onde não tinha pegada. Ao invés de tentar se salvar em outra parte da árvore ou alguma agarra, ele deu um pulo para trás, como se fosse um sapo e caiu. Enfim ele terminou a via e foi tentar a 46. O Sol já estava se pondo quando ele finalmente desistiu e deixou o Kostas ir em top-rope para mostrar como passar o lance inicial. Depois que o Kostas desceu era minha vez e apesar de eu ter esfriado resolvi fazer a 44. Apesar da penumbra, da cegueira parcial e do nervosismo, encadenei a via. A cadena ficou registrada em fotos que pedi, já no final da via, para o Manolis bater.

Depois que desci, o Kostas disse que foi a minha melhor performance que ele já viu. Não sei bem qual foi a intenção dele, mas me senti ofendido, já que apesar de ter encadenado, nem me saí tão bem. Meu amigo Kostas de certa forma estabeleceu uma competição não oficial entre eu e ele. Com as vias que encadenei nos últimos dias, sem querer deixei ele para trás, já que a via 25 eu encadenei e ele nem em top-rope conseguiu (e não sei porque, nem tenta). Hoje, ainda por cima, encadenei a 44 que ele não consegue fazer em top-rope (agora já consegue). Como ele escala muito mais que eu e que os outros, quase que diariamente, ele não se conforma que alguém que escale com menos frequencia, consiga fazer coisas que ele não faz.

Depois disto ainda fomos outro dia em que ventava muito. Depois de escalarmos algumas vias eu disse que estava frio e que preferia ir embora. Ele virou para mim e disse, ainda tem luz e nunca guiaste a via 41 (VI). Na verdade já tinha, guiado, sem encadenar. Mas eu não tinha problema nenhum em escalá-la e resolvi aceitar a competição e encadenei a via 41 sem tropeços. Disse que estava bem frio e a pedra gelada e que talvez fosse melhor ele ir em top-rope. O orgulho falou mais alto e ele quase caiu duas vezes. Acho que ele levanta esta competição inconscientemente e até já cheguei a pensar que é algo da minha cabeça, mas inclusive a Anamaria notou. Eu levo na boa e acabo me divertindo.

Link para o álbum desta publicação: Fim de ano

Um comentário:

  1. Esse Kostas é uma figura. Conheço vários como ele (não necessariamente na escalada). Grande parte faz isso não intencionalmente, mais pela personalidade mesmo, enquanto outros gostam de "se medir" com as pessoas que convive. O esquema é deixar ele na vontade às vezes e não cair na jogadinha. Com certeza ele vai ficar muito mais indignado por não ter se medido do que achar que você é amarelão.
    Eduardo

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