domingo, 26 de outubro de 2008

Enfim Stavrós

Apesar de não ser a modalidade que mais pratiquei nos meus mais de 10 anos de escalada em rocha, escaladas fáceis que se estendem por mais de uma ou duas enfiadas são as que mais me atraem. Isto fez do setor do Etzel na Barra da Lagoa um dos meus preferidos. A Ponta do Rapa também é muito legal. E mais recentemente o setor na praia dos Ingleses oferece vias de até três enfiadas, de baixa dificuldade e bem protegidas (todos em Florianópolis).

Dito isto, não deve espantar-lhes se eu disser que o setor de Stavrós, com pelo menos oito vias de escalada 100% em móvel de 60 a 110 metros de extensão do V ao VII grau de dificuldade, me atraia tanto. A escalada neste setor estava adiada por tempo indefinido por duas razões:
(i) não tenho um parceiro de escalada que escale (tradicional); os que conheci até agora são adeptos da escalada esportiva. Quando contei ao Christos, Alex e demais que ainda não tinha indo em Stravós ele respondeu imediatamente "nunca vamos lá". O Apostólis não acha seguro escalar tradicional e portanto não pratica.
(ii) tenho apenas três Camalots, sete stoppers, e uma dezena de fitas.

Mas para minha "angústia", de segunda a sexta almoço no Restaurante Universitário. O setor de não fumantes tem suas janelas voltadas para a praia de Stravós e dali vejo diariamente as paredes de escalada e é inevitável pensar em escalá-las.

No último final de semana chutei o balde e resolvi ir para lá, mesmo que fosse para subir uma dezena de metros e depois desescalá-los. O domingo amanheceu com o céu carregado de nuvens escuras especialmente sobre o Akrotiri, onde fica Stavrós, mas mesmo assim saímos. O tempo ajudou e pegamos chuva apenas por alguns segundos durante o trajeto.

O carro chega praticamente à base de morro e depois de atravessar uma porteira fajuta de aramado começamos a subida até a base da parede. À medida que subimos, o morro vai ficando mais íngreme e a trilha varia de um cascalho escorregadio, à terra, pedregulhos e até uma escaladinha de II grau. A medida que nos aproximamos da parede, ela cresce, e também uma caverna que pode ser avistada da base do morro, mas que fica oculta por matacões boa parte da subida. A temperatura caiu bastante nos últimos dias e ventava bastante. A subida levou 40 minutos, e assim que chegamos na base da parede, paramos para descansar um pouco na caverna, protegidos do vento.

Depois do descanso chegou a hora de escolher qual via subir. As três vias mais fáceis iniciam praticamente juntas à esquerda da caverna, duas delas no mesmo lugar para depois se dividirem. Estas que começam juntas passam por um fenda tomada por pequenas árvores e arbustos e só me restou subir pela Proti, Vsup, 70 m. A via saí de um platô de pedra e segue por uma rampa acidentada com bastante agarras. No início as proteções eram boas, mas um pouco fora da linha da escalada (pelo menos dado meu escasso material) mas pude proteger bastante. Escalei 15 ou 16 metros e cheguei num platô onde naturalmente se faria uma parada antes de começar uma transversal para a direita por onde a via continua. A pedra é muito semelhante à que experimentei em Chochlakiés e em alguns pontos parece cristalizada como mármore, principalmente na base. Deste platô toquei mais 4 ou 5 metros para cima e cheguei em outro platô. Dali ficou claro porque a via continuava para a direita mais abaixo, adiante não há buracos, alças de pedra ou fendas para usar proteções em móvel.

Ao todo escalei 20 m e superprotegi com quatro stoppers (5, 6, 7 e 12), um camalot (0.75) e 6 laçadas de fita em alças de pedra, algumas com o buraco tão pequeno que uma fita tubular não passava, tendo que usar então fita de dyneema. As proteções se concentraram no início para evitar uma improvável queda num platô e também em alças de pedra próximas. Foi um precaução extra sabendo-se que eu teria que desescalar a via. A medida que subi me habituei com a situação e as proteções se afastaram um pouco, apesar de a parede ficar mais vertical e um pouco menos fácil.

A Anamaria fez um ótimo trabalho na segurança, inclusive depois de perdermos contato visual durante a escalada pela primeira vez. Surpreendentemente o vento parou quando comecei a escalar e só voltou quando terminei a escalada, tornando facílima a comunicação por voz. O tempo encoberto protegeu do sol que teve raras aparições, deixando o clima perfeito para escalar. A descida levou mais 30 minutos, e famintos fomos para casa preparar almoço.

O lugar é um espetáculo. Só vi de perto uma parte da parede, mas sem dúvida há espaço para muito mais vias do que apenas as oito listadas no guia de escalada. A volta até lá é certa, só não sei ainda quando!

Link para o álbum desta publicação: Enfim Stavrós

6 comentários:

  1. Bom demais heim! Problema é desescalar né. Saudade dos grampos essa hora hehe.

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  2. O "dia do não" é o dia em que se celebra o dia em que a Grécia se recusou a se submeter ao Eixo na Segunda Guerra Mundial e por conta disso entrou na guerra...
    http://en.wikipedia.org/wiki/Oxi_Day

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  3. Grande expedição. És mesmo um campeão. Não vou comentar as fotos para ganhar prêmios pois já tenho prêmios em aberto que ainda não foram liquidados.

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  4. Fiz uma ótima segurança, então? Bom saber! :-)

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  5. Obrigado por responder sempre os comentários do Daniel. Eu, Ervilha e Anamaria estamos muito gratos.

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