A incerteza do tempo recomeçou por aqui. Difícil saber se vai chover ou não mesmo com as previsões meteorológicas dizendo que não. Só foi eu fechar o zíper da mochila e caiu uma chuva de pingos grossos por uns poucos minutos. Como choveu pouco e está ventando bastante vou esperar um pouco antes de ir escalar e enquanto isso farei uma pequena "resenha crítica" de uma das mais novas publicações de escalada nacional.
Fora a grande felicidade de ter a Anamaria de volta no último final de semana, fui agraciado com diversos presentes. Entre eles o livro Escale melhor e com mais segurança de autoria de Flávio e Cíntia Daflon (clique na figura), que me foi presenteado pelo Cristiano. Este livro chega para complementar a escassa coleção de livros introdutórios da técnica de escalada de autores brasileiros, alguns deles infelizmente "obsoletos" como o Manual do montanhista do Cristiano Requião, e também servir de suporte para outros livros "específicos" como o Dividir e Conquistar - técnicas de conquista do Alex S. Ribeiro. Além destes, cito o livro Cordas & Nós para montanhistas também do Cristiano Requião e Com Unhas e Dentes do Sérgio Beck. Para saber outros títulos nacionais sobre escalada e montanhismo recomendo o levantamento feito em 2007 disponível gratuitamente no site da Montanhar.
Irrelevante dizer, mas direi assim mesmo, que o conteúdo do livro compreende o conteúdo básico necessário para se iniciar na escalada e versa ainda sobre alguns tópicos avançados. As ilustrações em geral são boas, mas foram prejudicadas pela qualidade da impressão. O texto é corrido e de fácil leitura, mas achei um pouco desorganizado; muitos assuntos aparecem como pré-requisitos para outros, antes de terem sido devidamente apresentados. Por texto corrido, quero dizer que lê-se o livro como uma história e em várias partes falta "parar" o texto e realmente focar na técnica, apontar a figura e sistematizar o procedimento. O único capítulo que faz isto de fato é o de Auto-resgate, provavelmente pelo fato de ter sido baseado no livro de mesmo título (Self-rescue) do David Fasulo (Ed. Falcon Press). Isto pode tornar o livro bom para quem está acompanhando um curso, e de fato parece este o propósito, mas não o faz um bom livro de referência.
Os autores dão várias dicas interessantes, nem tão comuns em livros do gênero, reflexo da experiência deles. Além das dicas, gostei muito do capítulo Uma breve história do montanhismo e também dos capítulos finais sobre Treinamento, Nutrição, Prevenção de acidentes, Graduação e Meio-ambinente e ética. Longe de esgotarem os assuntos, estes capítulos alertam desde o princípio (supondo que se leia o livro todo antes de começar a escalar) para questões que poucos dão importância ou só sofrem cobrança quando já estão "viciados", lesionados e relaxados. Diga-se de passagem alguns destes capítulos deveriam estar no começo antes que o leitor se canse da leitura, claro que sob o risco de frustrar-se por querer logo aprender a usar o equipamento.
O grande diferencial que espero hoje de um livro de escalada é explicar as coisas e seus "porquês". Todos os livros sempre falam do julgamento que o escalador deve fazer baseado em seu conhecimento, criatividade e experiência nas mais diversas e adversas situações. Por isso acho que não basta saber como se faz, mas porque se faz. O escalador deve ser capaz de raciocinar para resolver problemas como um matemático, um físico ou um engenheiro fazem, e não consultar no cérebro uma gama de procedimentos assimilados. Este livro ainda não chegou lá, pelo menos não de forma objetiva.
O possível excesso de criticismo é uma característica minha, e se fosse fazer uma lista minuciosa ela seria muito maior. Levem isto em consideração... Concluindo, incluam este livro na biblioteca de vocês, leiam e indiquem para seus alunos se forem professores de escalada. Indicar este ou outro livro para os alunos, ao invés de apostila é valorizar a literatura de escalada nacional. Mas quem puder leia também outros livros, inclusive o Manual do Motanhista do Cristiano Requião que tecnicamente está ultrapassado, mas expõe com simplicidade única o que é a escalada, e não como algo sobrenatural como está na moda nos círculos de escalada hoje em dia.
Concordo com as críticas. Mas penso que nossa literatura de montanha esteja evoluindo, mesmo que lentamente.
ResponderExcluirQuando tiveres tempo, poste críticas sobre os filmes.
Abraços