Em uma mesa (obviamente) cheia de xícaras de café vi o grupo reunido. Já conhecia todos os participantes, apenas 7 (8 comigo) dos 10 inscritos (Yanis, Maria, Leonídas, Dimítris, Giorgos, Panaiótis e Vasúla) , o assistente do instrutor, o Vangélis, e fui introduzido ao instrutor, o Vangélis! Ao contrário do que estava combinado ficamos na taverna até chegar outro grupo que estava com a chave do abrigo. Em meio ao ruído de uma TV e de locais jogando cartas, começou o curso.
Praticamente um bate papo, primeiro ele ouviu de cada um qual era a experiência com montanhismo e quais as expectativas com o curso. Em seguida deu um panorama muito breve sobre o curso, mais para confirmar as datas e locais dos próximos encontros do que comentar o conteúdo que será abordado, que de certa forma ainda é uma incógnita.
Na sequência começou a falar sobre equipamentos com poucos detalhes sobre os equipamentos técnicos que veremos mais tarde, mas focando no vestuário, saco de dormir e mochila. Uma pena que, exceto pela mochila que ele inclusive explicou como regular, nenhum outro equipamento teve um exemplar exibido durante a palestra. O tempo passou voando, foram cerca de 5 horas de exposição, incluindo pequenas pausas para descanso. Em uma das pausas degustamos deliciosas Sfakianópitas (panquecas recheadas com queijo local e cobertas com mel), especialidade local. Quando o outro grupo finalmente chegou e começamos a subida para o refúgio de montanha de Távri, também se juntaram a nós a Anastasía e a Lída.
Apesar de ser possível ir de carro até o refúgio, subimos apenas um trecho de carro até o início da trilha, onde entregamos nossa comida para o grupo que subia de carro e seguimos a pé. A trilha é um zig-zag bastante íngreme em solo rico em matéria orgânica e com muitas pedras, ótima para acidentes. A vegetação é predominantemente de algum tipo de pinus até nos aproximarmos dos 1000 m de altitude, quando a vegetação baixa e espinhosa típica de Creta e pedras passam a predominar.
Em cerca de 1 hora de caminhada chegamos ao refúgio já durante o entardecer. O outro grupo era formado por cerca de 40 crianças e mais uma dúzia de adultos os acompanhando. Eles subiram a trilha conosco comportadamente, mas ao chegar no abrigo a algazarra começou.
A 1200 m do nível do mar em meio a alguma neblina e a luz fraca do entardecer pude ver dois ou três picos acima de 2000 m e notar que todos estão com pouca neve, basicamente em encostas colos e depressões mais protegidos do sol e do vento. Apenas por volta do Natal as temperaturas caíram e nevou bastante. Desde então o clima está ameno. Não chegou a ser uma decepção pois no trajeto por estradas do interior e mesmo da cidade já era possível ver que falta neve neste inverno.
Entramos no refúgio e ocupamos um dos quartos, com 12 lugares, exatamente do tamanho do nosso grupo onde deixamos as mochilas. Sem tempo para descanso nos reunimos numa mesa para retomar a aula. Mesmo com a lareira ligada estava frio dentro e boa parte do tempo fiquei com luvas de lã e com touca. Não fiquei sabendo a temperatura externa, mas a interna não passou dos 14 graus mesmo com a lareira a todo vapor. Nos quartos não tinha lareira e obviamente estava bem mais frio.
Durante o exercício me senti de volta ao escoteiro. Quando me dei conta eu já estava sendo arrastado pela corda na tentativa de completar o exercício o mais rápido possível. Meu grupo não entendeu muito bem o propósito do exercício (praticar o que foi aprendido na aula) e fez tudo correndo para ganhar a partida. No final das contas, só um usou a bússola, dois recolheram a corda e outro ficou de ponto de referência. O outro grupo levou 3 vezes mais tempo do que nós para completar o exercício, mas todos praticaram. Depois do exercício voltamos para o refúgio já passando de uma da madrugada, para deitar e acordar no dia seguinte as 7 horas da manhã.
Acordamos como combinado, mas logo veio a aviso de relaxar. Alguns adultos do grupo das crianças estavam dormindo sobre as mesas no andar de baixo e teríamos que esperar eles acordarem para descermos para tomar café e começar a aula. Ganhamos uma hora extra de sono.
Depois do café da manhã, com chá, pão, queijo, margarina e mel, nos aprontamos rapidamente para seguir o percurso planejado na noite anterior. A rota foi totalmente didática. Traçamos a rota a partir do refúgio passando atravessando uma estrada. Depois subiríamos até o pico de uma elevação de cerca de 150 a 200 m e para depois descer pelo outro lado e chegarmos na mesma estrada que cruzáramos antes. Dali seguiríamos por uma crista até um pico com cerca de 2100 m, o Kastro. Saímos os 12 para começar o exercício mas o mal tempo fez o Vangélis assistente, a Lída, a Anastasía e o Leonídas desistirem. A Vasúla deixou o refúgio cedo pois tinha que trabalhar.
Voltamos ao refúgio ainda sob chuva e vento. Na chegada foi engraçado ver o Giorgos pedindo a atenção para mostrar ele virando a bota dele como se fosse um caneco para mostrar a água caindo. Troquei apenas as meias, já que em menos de duas horas começaríamos a nossa descida. Enquanto isso, eu e outros na mesma situação ficamos plantados em frente à lareira secando. Fizemos toda a descida pelo mesmo trajeto da subida, sem chuva, a qual voltou forte logo que chegamos no carro.
De maneira geral o primeiro final de semana de curso foi bom. A parte teórica, principalmente a parte de orientação foi muito boa. Uma pena que não incluíram também o uso de GPS. A parte prática deixou a desejar, mas é fato que foi prejudicada pela chuva, razão pela qual descemos do refúgio por volta de 13h30, quanto o planejado era 16h00. De toda maneira a idéia é praticarmos mais um pouco nas próximas aulas, quando o planejamento de rotas deverá ser ensinado não apenas com base no mapa, mas também com base nas condições da montanha.
O grupo é legal. Todos parecem bastante entusiasmados. O Giorgos apesar de ter mais de 20 anos ainda é um pouco crianção e levou duas ou três mijadinhas legais sobre como se comportar em equipe. O Dimítris e o Yannis apresentaram alguma dificuldade em entender a parte teórica, principalmente o triângulo de Pitágoras, mas estão entre os mais capazes para realizar trabalhos em equipe. Imagino que o trabalho deles exija este tipo de atitude. Os demais também foram bastante simpáticos e todos foram bastante atenciosos comigo, preocupados em que eu entendesse as coisas ditas em grego.
Um aspecto que preocupa é o fato de estar tarde e a próxima aula ser apenas em meados de fevereiro com introdução a escalada. Depois apenas em março iniciaremos as aulas na neve, quando pode ser tarde e nem mesmo ter neve para o curso. Para piorar a situação fiquei sabendo esta tarde pelo Kostas que o Vangélis instrutor faleceu hoje por causa desconhecida em uma montanha na região central da Grécia, provavelmente em virtude de um ataque cardíaco. Uma pena, pois ele foi muito paciente e atencioso, e era alguém que realmente sabia do que estava falando. Potencialmente o cronograma irá mudar com um novo instrutor ou até mesmo haverá o cancelamento do curso.
Fiz pouquíssimas fotos, e publicarei mais fotos quando receber a que os outros tiraram. Desculpem pela extensão do texto, mas o objetivo é registrar isto para eu me lembrar depois, e olha que devo ter esquecido de vários detalhes "interessantes".
Link para o álbum de fotos desta publicação: Curso: final de semana 1